Ivan Lins, que viaja pelo Brasil com Toquinho e MPB-4, celebrando meio século de carreira, e 70 de idade. Um artista de trajetória bem peculiar. Foi uma espécie de Ben Silver, o ídolo fabricado da peça
Roda Viva, (1967) de Chico Buarque, no programa
Som Livre Exportação, da TV Globo, apresentado por ele e Elis Regina. Numa época de acirrado patrulhamento ideológico o hit
O Amor É Meu País, (com Ronaldo Monteiro de Souza), o estigmatizou como suposto apologista do Brasil Grande do General Medici.
Ele deixou a TV, sumiu das telas, e das paradas, para voltar com novo parceiro, Vitor Martins, e o mesmo talento para criar melodias cativante e bem estruturadas. 1974 foi o início da mudança, e de gravadora (trocou a Phillips pela RCA), o começo de um novo tempo para Ivan Lins. O selo Discobertas manda às lojas a caixinha Ivan Lins Anos 70, com uma trinca de CDs:
Ao Vivo (Curitiba 1975),
Ao Vivo (São Paulo 1975),e
Piano & Voz (São Paulo 1978).
Os dois primeiros, o título dá a pista, são registros de shows, o terceiro é uma compilação de canções gravadas em estúdio, mas até então inéditas em em discos oficiais de Ivan Lins. A música dos CDs ao vivo foram extraídas de turnês dos discos
Modo Livre (1974) e
Chama Acesa (1975). Neles Ivan Lins maturava um estilo que se definiria e seria sucesso nacional em 1977, com
Somos Todos Iguais Esta Noite, um disco que estourou várias faixas, e fez dele, novamente, ídolo popular, mas desta vez naturalmente, sem máquina de TV nem de gravadora.
Nos álbuns ao vivo Ivan acompanha-se pela Modo Livre, formada por Gilson Peranzzetta (teclados), Ricardo Pontes (flauta e sax), João Cortez (bateria) e Fred Barboza (baixo). Do mesmo período, o repertório dos álbuns têm canções repetidas,
Abre Alas,
Acender As Velas (Zé Kéti),
Quero de Volta O Meu Pandeiro. (com Ronaldo Monteiro de Souza). Porém mesmo que fossem em maior número, Ivan Lins é um dos mais jazzístico dos autores da MPB, nunca interpreta uma música do mesmo jeito.
Marcelo Fróes, da Discobertas, passou a bateia no rico veio de preciosidades que Ivan Lins guarda em seu arquivo pessoal, e fez a seleção de gravações do terceiro CD, realizadas, a maioria, no estúdio doméstico do compositor. Algumas delas trazem a voz de Lucinha Lins, com quem era então casado. Nem tudo é autoral, Ivan Lins canta. ao piano,
O Sol Nascerá (Cartola/Elton Medeiros) ou
O Amor Em Paz (Tom e Vinicius).
Uma parte é de demos de composições gravadas por nomes como Jair Rodrigues, Clara Nunes ou a própria Lucinha Lins, umas lançadas apenas em obscuros compactos. Lucinha está em quatro faixas,
Por Cima Dos Ossos, Desalento,
Eu Preciso do Silêncio e
Este Pássaro Chamado Tempo (todas em parceria com Ronaldo Monteiro de Souza)
Ivan Lins Anos 70 é uma justa homenagem a um dos principais nomes da MPB, digamos, tradicional, com gravações que só vêm à tona porque existem selos como o Discobertas. As gravadoras, pelas quais Ivan Lins passou ao longo da carreira, esnobaram as duas datas redondas, completadas no ano passado.
Confiram a rara gravação de Lucinha Lins em
Este Pássaro Chamado Tempo:
https://www.youtube.com/watch?v=lefraxl6szU&index=1&list=RDlefraxl6szU