The Rolling Stones ao vivo em Cuba em álbum digital

Publicado em 03/04/2016 às 1:54
Leitura:
stones red Um ano atrás, um disco, mesmo um bootleg, intitulado The Rolling Stone Live In Cuba - Ciudad Deportiva de Havana seria tomado como uma brincadeira.  Mas o concerto que o grupo inglês fez, em 25  de março de 2016, na ilha, entrou para a história, e marcou o fim de uma era.  Embora o Audioslave tenha se antecipado, e quebrado o embargo cubano ao rock and roll em 2005, quando fez um concerto gratuito em Havana, que rendeu o documentário Audioslave Live in Cuba. Os Rolling Stones, no entanto, têm outro peso. É a banda mais bem sucedida da rock em todos os tempos. Nasceu em 1962, no ano da crise dos mísseis, entre EUA e URSS (que queria implantar uma bases em Cuba), a fase mais crítica da guerra fria. Sua música foi proibida na ilha até 2000. Por anos, o grupo foi considerado a mais perfeita tradução da decadência da arte burguesa capitalista. A histórica apresentação de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood em Cuba já está devidamente registrada num bootleg (disco não lançado pela gravadora do artista, mas que não é um cópia de produto lançado oficialmente), com pouco mais de duas horas de clássicos da banda. O álbum está disponível em versão digital em diversos sites, para download gratuito. O rock and roll nunca foi visto com bons olhos em Cuba. Nos anos 50, durante o governo do ditador Fulgêncio Batista, por supostamente corromper a juventude, e incitá-la à rebeldia, junto com filmes como O Selvagem, com Marlon Brando, ou discos de Elvis Presley que disseminou o rock pelo mundo. Tão próximo dos EUA, no entanto, Cuba não poderia evitar ser contaminada. Na década de 50, grupos começaram a se destacar em Havana, como Los Llopis e Hot Rockers, ambos tocavam versões de rock americanos, mas mesclados com ritmos locais. Com a revolução em 1959, Fidel Castro baniu o rock and roll, considerado um desvio burguês, e a música do inimigo, os Estados Unidos. Mas o rock continuou a rolar, embora à margem. Até o pessoal da nueva trova, cujos integrantes apoiavam a revolução, também fez seus rocks. Apesar da censura e sanções, o rock continuou sendo tocado na ilha, na base do faz de conta que não estamos vendo. Sem esquecer que Cuba nem precisava proibir música alienigena. É um país tão poderoso musicalmente, exportador de ritmos, que não precisava temer música gringa. Os Rolling Stones, há anos é um grupo muito óbvio. Surpresas não estão no seu repertório. Começaram a apresentação com Jumpin Jack Flash, e seguiram com uma série de sucessos até o final. Fechando  A noite com Satisfaction. A qualidade do bootleg é mediana, mas o entusiasmo da platéia é grande, e os Stones correspondem, inclusive com interpretações diferentes de algumas canções. Tudo bem, a estas alturas ninguém perguntaria se um pai e uma mãe deixariam sua filha casar com um Rolling Stone. Hoje os quatro setentões são apenas integrantes de uma banda lendária de rock and roll, e os cubanos gostaram de vê-los. Mais de um milhão deles assistiram ao show. No meio da multidão estava Carlos Carnero, 66 anos, guitarrista e vocalista dos Los Kent, grupo que nos anos 60 tocava a música dos Jagger & Richards em Cuba. Seus shows eram interrompidos pela polícia, e tanto Carnero quanto o irmão foram obrigados a trabalhar em fazendas do governo no interior do país. Carnero foi expulso da faculdade pelos desvios contra-revolucionários, ente eles o hábito de usar cabelos longos (embora Che Guevara e Camilo Cienfuegos, heróis da revolução, fossem cabeludos). Carnero só ganhou licença oficial para trabalhar como músico em 2000, ano em que Fidel inaugurou um monumento a John Lennon em Havana. Carlos Carnero, hoje com 66 anos, deve ter feito coro, com os Stones em Satisfaction, que aprendeu escutando as emissoras de Miami, ou  em discos pirateados em 1965, ano em que Cuba se tornou oficialmente um país comunista. Confiram The Rolling Stones ao Vivo em Cuba: https://www.youtube.com/watch?v=wdTELC2fijs  

O jornalismo profissional precisa do seu suporte. Assine o JC e tenha acesso a conteúdos exclusivos, prestação de serviço, fiscalização efetiva do poder público e muito mais.

Apoie o JC

Últimas notícias