Patti Smith e Jesse Paris Smith gravam com o Soundwork Collective

Publicado em 04/09/2016 às 19:45
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soundwork collective No dia 18 de julho de 1988, a alemã Christa Päffgen, de férias, na ilha mediterrânea de Ibiza, avisou ao filho Ari que ia à cidade comprar maconha. No meio do trajeto, guiava uma bicicleta, sofreu um ataque cardíaco. Na queda, bateu com a cabeça e teve uma hemorragia cerebral. Permaneceu estendida no asfalto até ser socorrida por um taxista, que a levou a um hospital, onde morreu. Conhecida como Nico, Christa foi atriz, modelo, poeta, compositora, e cantora. Atuou em filmes como La Dolce Vita, de Frederico Fellini, e Chelsea’s Girls, de Andy Warhol, mas se tornou uma celebridade, cultuada até o final da vida, por ter participado, em 1967, do álbum de estreia do Velvet Underground, com direito a crédito na capa. O disco lhe garantiu a carreira como cantora, iniciada com Chelsea Girl (1967, um tabalho que detestava), relativamente bem sucedido. Marble Index (1969) é seu trabalho mais influente. Pouco lembrada 18 anos depois de sua morte, Nico ganha um tributo da banda de vanguarda nova-iorquina (mas também com base em Berlim) Soundwalk Collective, no álbum Killer Road, que tem participação de Patti Smith, e de sua filha Jesse Paris Smith. O título, Estrada Assassina, é uma alusão ao acidente, enquanto o disco é uma elegia e também uma reflexão ontológica sobre a morte. Como se fosse a trilha de um doc, os temas se fixam nos momentos finais de Nico, expressados em música ambiente. O Soundwalk Collective, formado por Stephan Crasneanscki, Simone Merli and Kamran Sadeghi, é um grupo que trabalha a música como conceito, e suas múltiplas possibilidades, inclusive instalações sonoras. Na música da SC, “ambiente” não é apenas um rótulo musical. O trio trabalha com pesquisa de campo, no ambiente que é tema das composições. Já fez isto inclusive na Amazônia. O trio realizou gravações em Ibiza, que o ucraniano Crasneanscki conhece bem (era onde passava férias com a família), e tenta traduzir para a música os sons que, imaginam, Nico deve ter escutado enquanto jazia na estrada. Este projeto circulava pela cabeça de Crasneanscki há alguns anos, e começou a ser viabilizado quando ele e Patti Smith se encontraram num mesmo vôo, Paris/Nova Iorque. Ele falou a ela sobre o projeto, enquanto Patti Smith lhe revelou que comprou numa loja de penhores em Paris, uma harmônica que pertenceu a Nico. Jesse Paris Smith que trabalha com trilhas, e estudou psicoacústica, juntou-se a eles.  Em 2014, ele apresentarm Killer Road ao vivo, em Nova Iorque, e em quatro cidades, o álbum pereniza e permite que mais pessoas tenham acesso a ele. DISCO Das nove faixas de Killer Road, quatro foram registradas ao vivo. O álbum consiste de temas, introspectivos, quase sem melodias, que servem de fundo a voz de Patti Smith declamando, sussurrando, poemas inéditos ou cantando canções pinçadas dos discos de Nico e que tenham a ver com o conceito de Killer Road. My Heart Is Empty e Fearfully In Danger são canções do álbum Camera Obscura (1985), a segunda tem versos premonitórios: “Numa estrada empoeirada, você repousa/temerosamente em perigo”. The Sphinx é de The Drama of Exile (1985), enquanto My Only Child vem de Desert Shore (1970). A única faixa que pode ser considerada uma regravação, embora muito mais uma recriação, é Fearfully in Danger (onde se escuta o acordeom que pertenceu a Nico). Nos demais temas, o grupo procura reproduzir a paisagem e  sons, enfatizando os estrilos dos grilos. Tudo fica, obviamente, no campo do subjetivo, do abstrato, mas é um disco denso e bonito. Uma bela homenagem a Nico, esfinge teutônica não devidamente decifrada, e cujo trabalho permanece um culto para poucos. Confiram o clipe oficial do álbum Killer Road: https://www.youtube.com/watch?v=WyTlg9efoUo

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