Memória/MPB

Sérgio Ricardo e a saga do violão mais célebre da MPB

Da confusão no festival a discussão com o apresentador Flávio Cavalcanti

Imagem do autor
Cadastrado por

JoséTteles

Publicado em 24/07/2020 às 0:34 | Atualizado em 24/07/2020 às 0:52
Notícia
X

O lance de Sérgio Ricardo quebrar o violão, no palco do Teatro Paramount, em São Paulo, e atirar na plateia, quando defendia a sua Beto Bom de Bola, no III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, voltou a ser comentado na imprensa por causa do falecimento do compositor, no Rio, na quinta-feira, 23 de julho. Tem-se a impressão de que tudo acabou ali no palco. Não foi bem assim.
O violão destroçado atingiu uma adolescente, que se encontrava na plateia com a mãe. Imediatamente, o delegado Sergio Paranhos Fleury, figura de proa da repressão durante o regime militar, foi até as duas pra saber se queriam prestar queixas contra o artista. Não Quiseram. Fleury trabalhava de segurança para a TV Record. Era quem cuidava da entrada e da saída de Roberto Carlos no programa Jovem Guarda.

Nos bastidores rolou ainda mais confusão. Sergio Ricardo recebeu a solidariedade dos artistas, que partipiciram do festival Elis Regina furou o cerco dos seguranças para abraçá-lo. O músico saiu do teatro Paramount com a família, e escoltado pela polícia, porque integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), grupo paramilitar da ditadura, ameaçavam linchá-lo. Alguns dias depois aconteceu um show de desagravo a ele, no Teatro São Caetano, com participação de alguns dos principais nomes da MPB na época. 

FLAVIO CAVALCANTI
Mais popular apresentador da TV da época, Flávio Cavalcanti, sugeriu no ar, que Sergio quebrara o violão de propósito, para se promover. O acusado pediu direito de resposta, e foi ao programa, na TV Tupi, com Ferreira Gullar e Sérgio Cabral (este segundo respeitado jornalista pai do tresloucado ex-governador do Rio), ambos jurados no festival.

Rolou o maior bate-boca durante o programa, que continuou no saguão da TV, com as câmeras ligadas. Flavio e Sergio voltaram a discutir. Na entrada do teatro, o apresentador ameaçou desferir um murro no compositor, que o empurrou escada abaixo. Quando Flávio se levantou na calçada, surgiu de repente, um desconhecido que lhe aplicou um bofete, levando o sangue lhe jorrar do nariz. Dois seguranças da TV sacaram as armas e ameaçaram atirar em Sérgio. Um jurista presente identificou-se, e obrigou os seguranças a guardarem as armas.
O programa, gravado, não foi ao ar. Mas no próximo, Flavio Cavalcanti, mestre em dramatização, entrou em cena com uma atadura no nariz, e esclareceu: “Olhem o que o Sérgio Ricardo me fez”.

A revista O Cruzeiro publicou a sequência de fotos do episódio no festival, algo dificil de se fazer com as câmeras da época: Sergio dando esporro na plateia, discutindo com o apresentador do festival, o violão sendo quebrado, e sobrevoando a plateia. Um feito de Ronaldo Moraes. Foi também e seu derradeiro trabalho para a revista. Ele morreria um mês depois, num acidente de carro.

Tags

Autor