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Allman Brothers no concerto final com o guitarrista Duane

O show foi registrado por um adolescente num gravador de mão, e 49 anos depois chega ao disco

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José Teles

Publicado em 17/10/2020 às 11:37 | Atualizado em 16/11/2023 às 15:39
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O acaso é o amigo mais certo das horas incertas, parece frase de pára-choque de caminhão. Ele está sempre na hora certa, no lugar certo. Estava, por exemplo, no festival Painters Mills Music Fair, em Owing Mills (condado de Baltimore, Maryland), quando o Allman Brother fechava uma turnê nacional, em 17 de outubro de 1971. A banda estava no auge. Depois de dois discos, elogiados pela crítica, mas pouco escutados pelo público, finalmente decolou com o Allman Brothers Live at Fillmore East, estabeleceu finalmente o south rock como mais uma vertente do gênero, e revelou o guitarrista Duane Allman pro mundo.
Não se sabia que dali a 12 dias Duane estaria morto, de acidente de moto, na Georgia, quando ia para a casa de Berry Oakley, o baixista do Allman Brothers. O grupo finalmente tirava férias depois de dois anos de estrada. Duane estava com apenas 25 anos, deixou uma obra consistente e influente, não apenas com os Allman Brothers, mas igualmente nos muitos discos em que colaborou, incluindo Layla and Others Assorted Songs, de Eric Clapton (o riff da introdução de Layla é de Duane Allman).
No dia do show, um cara chamado Sam Idas, levou um gravador para o festival. Idas era um jornalista iniciante, e pretendia entrevistar Gregg Allman, irmão de Duane, e vocalista da banda (e tecladista talentoso). Ele gravou uma hora de show, o tempo possível no K-7. A fitinha permaneceu com ele, e só em 2014, foi que um primo chamou atenção para a importância do material, e o entregou para o pessoal que administra a ABB Organization (a sigla de Allman Brothers Band).
A fita foi submetida ao melhor tratamento que se pode dar em estúdios. Para o tempo em que foi registrada num gravador portátil, em meio à plateia, obrou-se milagres. Resultou no disco The Final Note, a qualidade sonora é de um bom bootleg, mesmo assim sofrível. O que conta é o momento. No final de uma turnê, por mais exaustos que estejam os músicos, caso não haja tretas entre eles, quase sempre o grupo extrai água de pedra, e entrega-se no palco, feliz pelo deve cumprido. É o caso do Allman Brothers neste show.
As duas guitarras, de Duane Allman e Dick Betts mostram um entrosamento azeitado em dois anos de palcos, Gregg Allman foi um dos grandes vocalistas brancos de soul e blues (também um talento nos teclados), a cozinha, de Oakley, Butch Trucks, e Jamoe (baterias). formação nada convencional. Ao contrário dos blueseiros ingleses, o Allman Brothers era do Sul, seus integrantes cresceram com blues, jazz e rock. Os três gêneros convergem para sua música o que leva a música do AAB para bem além de uma banda de brancos tocando blues.

PIQUE

O pique do grupo impressiona, não tem pausa que refresca. Mesmo com o som não ajudando, faixas como One Way Out (Elmore James/Sonny Boy Williamsom) com um riff contagiante de guitarra, deve ter incendiado os felizardos que viram este show. A Allman Brothers foi uma das mais importantes bandas da história do rock, muito mais do que muito grupo inglês de blues, e Duane Allman superior a muito guitarrista consagrado contemporâneo dele. No entanto, o excesso de bandas influenciada pelo AAB, que exageram nos solos, ao emular a interação entre Dick e Duane, levou a uma saturação do south rock, que continua sendo feito até os tempos atuais, mas restrito a nichos.

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