Disco/Nu Jazz

Jahari Massamba Unit faz jazz contemporâneo reverenciando o passado

Dois rappers e produtores de Los Angeles fazendo música para quem ainda escuta música que passa por longe do lugar comum

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Cadastrado por

José Teles

Publicado em 29/11/2020 às 12:42 | Atualizado em 29/11/2020 às 12:42
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Jazz puro sem gelo nos dias atuais é usado como insumo no rap. Aliás, a prática vem do início do rap, das primeiras sampleadas. Cada vez menos se escuta jazz, embora seja de bom tom se ter discos como A Love Supreme, de John Coltrane, ou Kind of Blue, de Miles Davis. Entende-se que a urgência com que a Internet impregnou a humanidade não permite que se “perca” tempo com livros de 500 páginas, ou com música que requer concentração. Ambos o livrão e a música complexa não deixam espaço pra se conferir mídias sociais, ou saber as novidades do seu influencer (a diferença básica entre a geração de 50 anos atrás e a atual. A primeira tinha guru, a de agora digital influencer.
Pardon My French, estreia do Jahari Massamba Unit em disco, é jazz puro, sem gelo. Indo do free ao afro jazz, com gêneros contemporâneos, quase inteiramente instrumental. O ouvinte pode até parar para conferir as mensagens no Whatsapp, mas vai se perder na música, que apela para a cabeça, e passa por longe dos pés. O Jahari Massamba Unit é um duo formado por MC Madlib e Karriem Riggins, dois produtores de nome no universo hip hop de L.A, costumavam tocar juntos. O disco era esperado, e veio melhor do que se supunha. Os títulos todos em francês, irônicos ou escatológicos, como se os caras estivessem treinando os palavrões que aprenderam no idioma. Uma faixa chama-se Merde, outra Troul du Cul.
As duas faixas iniciais, Je Prendrai Le Romanée-Conti (Putian De Leroy) e Les Jardins Esméraldins (Pour Caillard) põem o ouvinte à prova. Madlib tocava vários instrumentos, sintetizador com som distorcido, contrabaixo acústico, sax, trompete, com a bateria de Riggins feito uma usina percussiva. Sons caóticos, entre o frenético e a suavidade. Deux Fakes Jayers (Aussi Pour Le Riche Enculé) gira em torno de uma linha de contrabaixo, a bateria no contratempo, repetindo a batida, um trompete turbinado, e uma flauta que surge de repente, ainda complexo, porém mais assimilável, porém ainda não dá para conferir o zap.
Du Morgon Au Moulin-À-Vent (Pour Duke) é um tema longo, em que Madlib faz um solo de trompete em cima de uma base suingada, joga umas falas no meio, meio rap. O jazz agora, com elementos clássicos, e novíssimos, e atitude de vale tudo do hip hop. Trou Du Cul (Ode Au Sommelier Arrogant), um andamento muito acelerado, sintetizador e baterias. Quase sempre a música acaba num fade out (o som vai diminuindo, para bruscamente). O álbum termina com uma reverência ao passado, Hommage A La Vielle Garde, uma homenagem à velha guarda. Décadas atrás se chamava a isto “tirar um som”. Madlib e Karriem Riggins de vez em quando se reúnem para tirar um som. Espera-se que continuem se reunindo.

 


 

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