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AVIAÇÃO INTERNACIONAL

"Cenário vai mudar a partir da abertura das fronteiras na União Europeia", diz gerente geral da AirEuropa no Brasil

Em entrevista à coluna, Gonzalo Romero analisa os impactos da pandemia na aviação civil e fala do futuro do setor, além de detalhar a retomada das operações da companhia no Brasil

Mona Lisa Dourado
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Mona Lisa Dourado
Publicado em 28/08/2020 às 19:27 | Atualizado em 28/08/2020 às 19:27
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Voo Recife-Madri será retomado em novembro, com nova aeronave, diz Gonzalo Romero - FOTO: DIVULGAÇÃO

A terceira frequência do voo direto Recife-Madri estava prestes a estrear e o crescimento do número de assentos já era de 12% entre janeiro e o início de março. A ocupação média no País chegava a atingir os 85% e o market share aumentava. O ano de 2020 teve um início promissor para a AirEuropa no Brasil, até que a pandemia da covid-19 frustrou todas as expectativas. "Foi um freio para todos nós da indústria de aviação e do turismo em geral", diz Gonzalo Romero, gerente geral da companhia aérea espanhola no País.

Em entrevista à coluna, o executivo afirma que o desafio atual, com a retomada das atividades econômicas, é recuperar a confiança do consumidor. Romero acredita em uma demanda reprimida pelas viagens, mas confessa que ainda é difícil estimá-la. "O cenário vai mudar a partir da abertura das fronteiras, principalmente na União Europeia", prevê. No Recife, o retorno do voo direto para Madri está previsto para o dia 1º de novembro. Por enquanto, a única rota restabelecida foi a de São Paulo, que deve ganhar uma segunda frequência a partir de setembro. Confira os principais tópicos da conversa.

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TURISMO DE VALOR - Quais as perdas estimadas pela AirEuropa no Brasil com a pandemia?

GONZALO ROMERO - A indústria de aviação no Brasil tinha crescido muito nos últimos anos, principalmente em 2019 e início de 2020. Sobretudo em questões de conexões, ofertas, voos, destinos, tarifas, o mercado estava superaquecido. Tudo apontava para um 2020 super bom.
No caso da AirEuropa, neste mesmo período no Brasil, a empresa estava melhorando a ocupação e o market share, além do posicionamento da marca. O plano de desenvolvimento era muito forte. Havíamos acabado de lançar o voo inaugural Fortaleza-Madri e nos preparávamos para a terceira frequência Recife-Madri, que começaria em abril. A pandemia foi um freio para todos nós, da indústria de aviação e do turismo em geral. Ninguém previa algo nessa dimensão e realmente foi um desafio. Não consigo dizer os prejuízos em números, mas é possível ter uma dimensão considerando que nossas ocupações ficavam perto de 80% a 85% em todo o País em 2019. Nos três primeiros meses deste ano, havia um incremento de assentos de 12% ante o mesmo período de 2019.

TURISMO DE VALOR - No início da pandemia, quando muitos passageiros ficaram retidos no exterior, clientes da AirEuropa alegaram não conseguir contato com a companhia nem no Recife nem no posto de atendimento do aeroporto de Lisboa. Como a empresa está atuando para recuperar a confiança desses passageiros?

GONZALO ROMERO - Ninguém previa a situação da pandemia. O impacto foi muito grande. Conseguimos dar suporte à maioria dos passageiros, mas claro que houve dificuldades, porque havia milhares de passageiros em várias partes do mundo. Foi um momento complexo para administrar a situação. Temos escritório no Centro de Lisboa e no aeroporto. Mas claro que todos os canais estavam colapsados, porque estávamos fora da normalidade, como todas as companhias aéreas. Em nenhum momento nossas operações em Portugal foram desativadas. Hoje, inclusive, temos operações em Lisboa e na cidade do Porto, no norte do país.

TURISMO DE VALOR - A AirEuropa já reativou a rota São Paulo-Madri desde o dia 15 de julho, mas no Recife e em Fortaleza as frequências só retornam em novembro. Que fatores a empresa considera para a retomada dos voos?

ROMERO - O desafio sempre foi definir o melhor momento de retorno das operações avaliando a abertura e o fechamento de fronteiras. Foi super difícil entender como seriam reabertas essas fronteiras e como seria a demanda. Ficamos atentos à situação da covid-19 e à demanda de cada mercado onde temos operações. Decidimos, então, dar um passo de cada vez, com muito pé no chão. Queremos garantir que todas as operações sejam confirmadas. Não queremos que os voos sejam programados e depois cancelados. Por isso, começamos pelo maior mercado. A venda semana a semana está crescendo, melhorando. A ocupação média atual está em 70% e vamos ter uma segunda frequência a partir de setembro.

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Parceria entre a AirEuropa e a Smiles é válida para mais de 40 destinos no mundo - DIVULGAÇÃO

TURISMO DE VALOR - Mesmo com a abertura das fronteiras, há disposição das pessoas para longas viagens internacionais a lazer? Qual o perfil do viajante neste momento?

ROMERO - Muitas pessoas estão viajando porque têm documentação para ingressar na União Europeia, mas muitos também estão buscando porque precisam viajar por questões pessoais. Neste primeiro momento, acreditamos que vão viajar os passageiros que chamamos de étnicos, que precisam viajar por questões de família, pessoal, de estudos, negócios etc. O principal segmento que estamos enxergando no futuro próximo é este, não exatamente o passageiro de turismo de lazer, que só deve voltar a partir de janeiro. É verdade que há passageiros que têm medo. Justamente por isso estamos trabalhando forte em comunicar nossos protocolos de segurança. A indústria de aviação historicamente é focada em segurança. Nascemos pensando em segurança e vivemos focados nisso. É uma indústria muito segura, independente da pandemia. Estamos fazendo tudo o possível para que o cliente se sinta seguro do momento que entra no aeroporto até aquele em que pega a sua mala e vai embora.

TURISMO DE VALOR - Para além da pandemia, o câmbio neste momento está completamente desfavorável às viagens internacionais. O dólar a R$ 5,41 encarece os custos operacionais, do combustível ao leasing das aeronaves. Como a AirEuropa tem buscado resolver essa equação?

ROMERO - O câmbio tem impacto no dia a dia das tarifas, mas acho que no primeiro momento, a indústria está tentando estimular fortemente a demanda. Vamos ter boas promoções e boas tarifas, flexibilidade e parcelamento para trazer de volta os passageiros. O que estamos tentando fazer neste primeiro momento é proporcionar um preço atrativo. Queremos amenizar o impacto do dólar, mas hoje a maior preocupação do passageiro é abertura de fronteiras e depois protocolos de segurança e só então o dólar. Quem viaja está mais preocupado se consegue chegar ou não ao destino final, se consegue entrar ou não, se tem a documentação adequada. Como companhia aérea, temos o enorme desafio de informar permanentemente sobre isso e assistir os clientes com as melhores ferramentas e canais para tirar todas essas dúvidas.

TURISMO DE VALOR - A AirEuropa solicitou à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em maio do ano passado registro para voar no Brasil. A ideia era abrir uma subsidiária no País para operar voos domésticos. A concessão foi dada após edição de medida provisória convertida na lei nº 13.842/19, que aprovou a operação de empresas com capital até 100% estrangeiro em voos domésticos. A AirEuropa ainda tem planos de operar voos domésticos no Brasil?

ROMERO - Atualmente estamos focados apenas no mercado internacional, em voltar com as operações em Fortaleza, Salvador, Recife e São Paulo, que são nossas quatro portas de entrada. Também temos code share com a Gol e parceria com a Azul, para garantir que todos os nossos voos estejam conectados internamente. Somando todas as operações, atualmente voamos para 15 destinos na Europa e 20 dentro da Espanha. 

TURISMO DE VALOR - Qual a estrutura da AirEuropa no Brasil e no Recife e de que forma ela foi afetada pela pandemia? Houve demissão de funcionários?

ROMERO - Temos uma estrutura enxuta no Brasil, com 40 funcionários, sendo quatro diretos no Recife. Todos seguiram trabalhando. Não demitimos. Apenas não acionamos outros trabalhadores terceirizados, que dependem da demanda. É o caso dos que atuam no check in, rampa, manutenção. Um diferencial que temos é o bom relacionamento com todos os fornecedores, o que nos permitiu renegociar os contratos.

TURISMO DE VALOR - Quais os principais aprendizados trazidos por essa crise para a aviação civil?

ROMERO - A própria Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos) tem procurado entender as demandas futuras, como será a aviação nesse futuro, mas o que posso dizer é que o passageiro sempre vai precisar viajar, seja por turismo, seja por negócios, seja porque precisa dar assistência à família. O mundo todo se movimenta por aviões. É muito difícil pensar que essas pessoas não vão mais pegar um avião. Agora, estamos todos focados em segurança, é uma questão permanente, mas o turismo vai continuar crescendo, a oferta vai continuar crescendo. É um pouco de confiança, de tempo, o mesmo que aconteceu em outras crises econômicas mundiais. Na época dos ataques terroristas às torres gêmeas, as pessoas também tinham medo de viajar e depois se implementaram novos protocolos, desde sacolinhas transparentes, diferentes controles de raio-x, e todo mundo se acostumou. As companhias aéreas nacionais já estão acrescentando frequências mês a mês. E com a ocupação crescente. O mesmo ocorre na Europa e nos Estados Unidos. A aviação vai continuar crescendo, obviamente com outros números.

TURISMO DE VALOR - O passageiro do Recife que voar com a AirEuropa a partir de novembro sentirá alguma mudança nos serviços, além dos protocolos de segurança sanitária?

ROMERO - Em novembro, vamos trocar os equipamentos e passar a voar com uma aeronave mais nova, a Boeing 787, a mais moderna atualmente e muito silenciosa. Estamos unificando toda a nossa frota internacional com o mesmo equipamento para todas as rotas internacionais, justamente para unificar os produtos e dar melhor qualidade ao passageiro. Já oferecemos wi-fi a bordo e temos entretenimento individual para todos os passageiros.

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Retorno dos voos da AirEuropa entre o Recife e Madri estava previsto inicialmente para 1º de novembro - FOTO:DIVULGAÇÃO

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