O zootecnista Leonardo de Barros, 28 anos, já não aguentava o confinamento imposto pela pandemia da covid-19 quando resolveu fazer uma surpresa para a namorada, sogros e outros parentes. Alugou uma lancha em Maria Farinha e partiu com "o povo todo" para um passeio "revigorante" pelo Litoral Norte. "Foi a melhor escolha. Felicidade total", conta, exibindo a foto sorridente da família. Entre crianças e adultos, eram 13 pessoas, já ávidas por repetir a dose, ou melhor, a navegação.
O grupo de Leonardo é parte de um perfil crescente de viajantes que têm optado por singrar as águas pernambucanas em busca de novos ares, longe de aglomerações.
Com cerca de 70 praias e uma infinidade de rios, distribuídos em 187 quilômetros de costa, o Estado tem roteiros dos mais diversos para quem quer navegar em mar de almirante perto de casa. Rio Timbó, Coroa do Avião, Itamaracá, Porto de Galinhas, Serrambi, Sirinhaém, Carneiros, Ilha de Santo Aleixo e Praia de Gravatá são só alguns dos destinos clássicos. Há muito mais preciosidades a descobrir navegando.
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E o melhor: na maioria dos casos, de forma privativa e personalizada, ao sabor apenas do vento e da vontade do turista-marujo. "Paramos várias vezes para tomar banho de mar, depois usamos o chuveiro da embarcação, fizemos churrasco, de um tudo. É um passeio completo, que supre todas as necessidades de diversão, alimentação e higiene", descreve, e aprova, Leonardo.
De Goiana a São José da Coroa Grande, a demanda pelo turismo náutico em Pernambuco é confirmada por empreendedores. "Já temos datas sem vaga até o ano que vem, sobretudo em feriados", atesta a proprietária do Catamarã Amazônia Azul, Michelle Belo, que atua nos bancos de areia e piscinas naturais de São José.
No tour da Lua Cheia, da La Ursa, que inclui travessia até o antigo Farol da Barra, a situação é parecida. Só há disponibilidade agora para dezembro.
Até embarcações maiores, como veleiros, têm sido disputadas. Neste caso, a vantagem é poder pernoitar ou até fazer percursos maiores, de uma ou mais semanas.
O preço? Engana-se quem pensa que navegar é exclusividade de endinheirados com barcos ancorados em marinas. No Recife mesmo, desembolsando apenas R$ 10 a R$ 15 por pessoa, dá para ter um gostinho em baiteiras e jangadas de barqueiros credenciados, que saem do Marco Zero rumo ao Parque das Esculturas ou do Jardim do Baobá, nas Graças, Rio Capibaribe adentro.
Já um programa customizado, com ou sem guia, custa a partir de R$ 60 por navegante. Há, ainda, opções de catamarãs que estão operando com redução de capacidade, para garantir a segurança sanitária, com preços de R$ 40 a R$ 250, a depender do trajeto e da duração.
No caso das lanchas, os valores giram em torno de R$ 2.500 a R$ 3.000 o day use para 13 a 15 passageiros, cerca de R$ 200 por pessoa. Pernoites custam o mesmo, mas com menos hóspedes (cerca de sete), por causa da disponibilidade de acomodações. Bebidas e comidas são por conta do cliente.
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O investimento é maior para velejar. Uma viagem de sete dias (500 milhas percorridas) pelo sul da Bahia, por exemplo, sai por aproximadamente R$ 18 mil para quatro pessoas, incluindo água, alimentação, roupa de cama e banho, combustível e bote inflável de apoio. Não muito diferente do valor por pessoa em um resort de luxo na praia.
Em geral, os preços contemplam marinheiro e proeiro, claro, para quem não tem habilitação náutica. Assim, a única decisão que os viajantes precisarão tomar é se ficam lagarteando ao sol, admirando as belezas do percurso, ou se mergulham com os peixinhos. Dúvida cruel, não é?
DE NORTE A SUL OU NO CENTRO, DEFINA A SUA ROTA
Recife Original Style
Um passeio simples, intimista e inesquecível. "Modesto" assim, como só o recifense sabe ser, o Original Recife Style é idealizado pelo artista plástico Aslan Cabral. O roteiro é personalizado e pensado especialmente para o dia e hora escolhidos pelo grupo, de acordo com a tábua de marés e horário do pôr do sol, por exemplo. Em geral, combina passagens pelo Cais José Estelita, pontes da cidade, porto e Rua da Aurora, em trajetos de duas horas. "O barco é montado como uma gôndola da Veneza Brasileira, com almofadas e mantas, para as pessoas sentarem no chão e apoiarem bem as costas. Ainda pedimos que entrem descalças para ficarem mais à vontade", conta Aslan, que também encoraja os navegantes a levar uma caixinha de som "para musicalizar o rolê".
O romantismo a bordo tem inspirado muitos casais, diz Aslan, que já testemunhou vários pedidos de casamento. O artista lembra que não é exatamente um guia, mas um facilitador. A ideia é que a paisagem fale por si e a conversa flua, sem ser uma sequência de informações técnicas. O barco costuma carregar um cooler, mas as bebidas, gelo e comidinhas ficam por conta dos clientes. Custa R$ 60 por pessoa, com grupos fechados de até sete passageiros. Contato: 99716-1056.
Caça ao tesouro na Ilha de Santo Aleixo
Dedicado especialmente às crianças, mas diversão garantida também para adultos, a Abissal Mergulho promove uma caça ao tesouro na Ilha de Santo Aleixo, em Sirinhaém. A aventura começa ainda no barco Carranca, com brincadeiras promovidas por figurantes vestidos de gorila e piratas. Os pequenos também são convidados a se fantasiar. Vale destacar o charme da embarcação, toda em madeira e estilo retrô.
O passeio inclui caixinha de guloseimas para os pequenos, frutas, água e refrigerante à vontade. A embarcação tem capacidade para 40 passageiros, mas está operando com a metade, por causa das medidas contra a covid-19. Custa R$ 190 por pessoa, com saída da base náutica do Serrambi Resort. Também há opções de aluguel de lancha, das 9h30 às 15h30, para grupos a partir de oito pessoas (R$ 240 cada), com paradas em Santo Aleixo, banho de argila na praia de Guadalupe e piscinas naturais de Carneiros. Mais: 3551-8850.
Reis e rainhas do pedaço
No extremo Sul de Pernambuco, os principais atrativos são os bancos de areia de São José da Coroa Grande, além das piscinas naturais de águas morninhas e transparentes, onde é possível nadar na companhia de uma infinidade de peixes coloridos. O Catamarã Amazônia Azul oferece três opções de tours. O mais clássico leva à Lagoa Azul e à Prainha, em duas horas de percurso, a R$ 40 por pessoa, com horário a depender da maré.
Às 15h, o barco parte para o pôr do sol entre os corais, sempre com uma atração musical, como um saxofonista ou voz e violão. Dura 2h20 e custa R$ 40 por passageiro. Mais completo é o passeio à Ilha da Fantasia. Com 2h30 e ingresso a R$ 45, passa pela Praia de Gravatá, encontro do Rio Una com o oceano, manguezais históricos e Praia do Paraíso, onde está a Ilha da Fantasia, um banco de areia que costuma desaparecer no inverno. A história do lugar é contada pelo guia a bordo. Em tempos de pandemia, a capacidade é reduzida, de 60 para 40 pessoas, e é possível reservar o primeiro andar para grupos isolados de até 15 passageiros. Uso de máscara é obrigatório no trajeto. Contato: 98183-1310.
De lancha no Litoral Norte
Muita gente que possui lancha aproveita o verão para compartilhar o barco e fazer uma renda extra, inclusive para custear manutenção. É o caso do advogado Carlos Queiroz, que promove passeios para grupos fechados, de até 12 pessoas, com marinheiro, proeiro e combustível incluídos. O roteiro mais procurado é para a Coroa do Avião e Itamaracá. Custa R$ 3 mil a saída, com sete horas de duração. Também há opções para a Ilha de Santo Aleixo e Praia de Carneiros. Contato: 99970-4536.
Tour da Lua cheia
O passeio da La Ursa Tours propõe um encontro com a história do Recife a partir do primeiro acesso marítimo da cidade. Turistas e moradores interessados em conhecer um lado pouco divulgado da Capital embarcam em baiteiras, pequenos barquinhos a motor que partem do Marco Zero, e seguem margeando o Cais da Alfândega até os arrecifes. Ali, é preciso caminhar por cerca de 20 minutos para ter acesso ao Farol da Barra e às ruínas do Forte do Picão.
Localizados na entrada do porto, os monumentos ilustram o brasão da bandeira do Estado, informação desconhecida de muitos pernambucanos. Além de aprender sobre a arquitetura e a história desses patrimônios, a ideia é apreciar o espetáculo de cores no pôr do sol entre Recife e Olinda e ficar para ver a Lua cheia nascer. Com sorte, dá até para ver golfinhos. O tour só ocorre nos dias em que a Lua atinge o ponto máximo de luminância. Em novembro, as vagas já estão esgotadas. Para dezembro, há saídas em 1º/12 e 30/12. O tour dura das 16h às 19h30 e custa R$ 60 por pessoa. Mais: 99649-8843.
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Catamaran de Norte a Sul
De dentro do Rio Capibaribe, um outro Recife se descortina no passeio da Catamaran Tours, que percorre 14 bairros da Capital, do Centro até Casa Forte. No trajeto, os guias abordam questões ambientais e socioeconômicas da cidade cortada pelas águas. Também é possível observar de um ângulo privilegiado a mistura, quase nunca harmônica, entre os prédios históricos e as construções modernas. O roteiro é oferecido aos domingos, dura cerca de duas horas e custa R$ 65 por pessoa.
No Litoral Norte, o percurso é pela Coroa do Avião, ilhota cartão-postal de Igarassu, e pela Ilha de Itamaracá, até o Forte Orange. Dura 2h30, a R$ 70, incluindo o day use no receptivo Catamaran Praia. Na outra ponta do litoral, a proposta é sair da Praia dos Carneiros em direção aos manguezais do Rio Formoso, para apreciar as ricas fauna e flora da região. São duas horas de passeio, ao preço de R$ 60. Mais no site.
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Velejar é preciso
Veleiros costumam povoar a imaginação seja de navegantes experientes seja dos marujos de primeira viagem. A ideia de cruzar os mares, dormir sob as estrelas e mergulhar a qualquer hora em águas tranquilas conquista viajantes de diferentes gerações. A boa notícia é que para um percurso curto, o custo pode ser o mesmo de alugar uma lancha: R$ 2.500 o day use para o Litoral Sul, por exemplo, para até 15 pessoas. Já se a ideia é pernoitar, o valor sobe para R$ 3 mil a diária, em média, neste caso para oito passageiros, que é a capacidade máxima de acomodações.
Pelo menos é assim no veleiro Maracatu. Toda a estrutura e roupa de cama e banho são oferecidas, além de alimentação, quando combinado. "Temos bote inflável para descer na praia e equipamento de pesca oceânica, para quem gosta da modalidade", diz o capitão Pablo Pages. Ele conta que acabou de voltar de uma viagem pelo Sul da Bahia, num roteiro de sonho: Salvador, Morro de São Paulo, Garapua, Baía de Camamu, Ilha de Campinho e Cachoeira de Tremembé. A companhia? Além dos quatro turistas a bordo, famílias inteiras de baleias guiaram a embarcação em muitos trechos. Um espetáculo. Contato: 99850-0505.
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