Fotos: Marcelo Regua/MPIX/CPB
A vida da pernambucana Ana Cláudia Maria da Silva é marcada por duas reviravoltas. O primeiro impacto aconteceu há 23 anos, quando ela sofreu um acidente. Fraturou o fêmur e contraiu uma má formação irreversível na perna direita. Passaram-se anos para se adaptar às mudanças no corpo. Nesse período, jogou futebol, superou o passado e ganhou forças para seguir. Há dois anos, a segunda reviravolta: conheceu o atletismo, transformou o esporte em profissão e foi convocada para a seleção brasileira na Paralimpíada do Rio de Janeiro de 2016.
A trajetória de Ana Cláudia, a Lalá, serve de inspiração para qualquer pessoa. Ela é natural da capital do Estado, mas passou um tempo morando em Nazaré da Mata, na Zona da Mata de Pernambuco. Atualmente, reside em Gravatá e viaja todos os dias para o Recife, onde frequenta os treinos do Núcleo de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A dedicação, ela garante, é uma forma de se aproximar dos seus objetivos. “O atletismo mudou completamente minha vida. Minha autoestima. Tenho força de querer sempre vencer e de sempre querer superar meus obstáculos do dia a dia. Sou uma nova pessoa. Vejo as dificuldades de meus companheiros e isso me faz mais forte. O atletismo me ofereceu bem-estar e isso é um bem maior”, relatou a para-atleta, que é especialista nos 100m rasos e no salto em distância.
Ana sofreu o acidente quando tinha seis anos de idade. Tropeçou em um tronco de coco e caiu com parte da coxa direita absorvendo todo o impacto. Não recebeu os cuidados necessários e só procurou o hospital quando, no dia seguinte, não conseguiu mais andar. Foram dois anos no sacrifício, com gesso ocupando boa parte do corpo. Só deu os primeiros passos dois anos depois do acidente e com ajuda de amigas.
Quando adquiriu confiança suficiente para caminhar sozinha, ela procurou um esporte para se apoiar. “Queria praticar atividade física, porque buscava uma vida melhor. Joguei vôlei, futebol e handebol, conheci muitas pessoas que se tornaram amigos”, observou a para-atleta, que continuou. “Sou grata por tudo que passou na minha vida, porque acredito que para cada acontecimento existe uma resposta que só vai ser revelada no futuro. Hoje, eu sou feliz e entendo melhor tudo o que aconteceu”, falou.
Agora, após dois anos de experiências no esporte profissional, Ana sabe o que quer para o futuro. Aos 29 anos e figurando no Top 4 do ranking internacional de suas provas, ela precisa se manter entre as melhores para-atletas para assegurar a classificação para o Campeonato Mundial, em Londres. Esta é a principal competição do ano na modalidade. A pernambucana conta seus projetos para 2017. “Treinar bastante. Reparar todos os erros de 2016. Lógico que a gente vai aproveitar os pontos positivos pensando em um bom resultado no Open de Atletismo (em abril). Porque se eu conseguir um bom resultado, tenho chances de ser convocada”, explicou a para-atleta, que não mede esforços para treinar e ser exemplo. Sua maior motivação é a vontade acumular vitórias no esporte e na vida. Sem dúvida, já é campeã.
Foto: Gabriela Máxima/Editoria de Esportes
TRAJETÓRIA VITORIOSA
Ana Cláudia trocou o futebol pelo para-atletismo há dois anos. Pouco tempo para a quantidade de título que ela acumula na carreira. O responsável pela mudança foi um antigo professor de educação física de Nazaré da Mata, que observou seu potencial esportivo e a encaminhou para o técnico Ismael Marques, do Núcleo de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Ela é um fenômeno. Apesar da deficiência, já era uma menina ativa. No primeiro treino, vimos que ela tinha uma capacidade grande de correr e saltar. Um diferencial, que evoluiu bastante nos últimos dois anos”, comentou Ismael. Foi ao lado dele que Ana ganhou notoriedade no cenário internacional, nas provas de 100m e salto em distância na classe T42 – para amputados ou com deficiência.
Participou de competições no Brasil, conquistou medalhas, quebrou recordes e foi convocada para disputar o Campeonato Mundial de Doha, no Catar, em 2015. Lá, Ana faturou o bronze nos 100m e o quarto lugar no salto em distância. “Cheguei sem experiência nenhuma. Tinha menos de um ano no para-atletismo. Muita gente se prepara anos para estar ali e eu pensei: ‘será que eu tenho um dom?”, indagou a atleta.
Os resultados expressivos no Mundial culminaram na convocação para a seleção paralímpica dos Jogos do Rio de Janeiro, no ano passado. Na ocasião, Ana ficou na quarta colocação nos 100m e em quinto no salto. Ela contou que, embora não tenha subido ao pódio, a experiência paralímpica é algo que não sabe explicar. “Com menos de dois anos fui para minha primeira Paralimpíada. Foi uma sensação única que eu vou levar para o resto da minha vida. Conheci muita gente com outras deficiências, experiência que também tive no Mundial. Foi tudo muito rápido. Hoje eu estou mais acostumada com a rotina de treinos e competições e estou mais forte para buscar meus objetivos no futuro”, concluiu a para-atleta, que pretende competir em pelo menos outras três Paralimpíadas.
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