Sobram vagas, faltam habilitados

TI Porto Digital tem mais de mil vagas de emprego abertas mas não consegue preenchê-las

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 25/10/2020 às 2:00
ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM
HÁ VAGAS No Porto Digital, empresas procuram programadores em início de carreira e engenheiros de software - FOTO: ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM
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O Porto Digital, o mais relevante parque tecnológico urbano do Brasil, com mais de 330 empresas e faturamento de R$ 2,3 bilhões por ano, tem mais de mil vagas de emprego abertas, mas não consegue preenchê-las por absoluta falta de qualificação dos candidatos.

Os profissionais com curso superior na área de tecnologia que concorreram aos postos apresentaram carências de formação para desempenhar as funções oferecidas. A tentativa infrutífera de conseguir profissionais qualificados é considera um alerta diante do atual momento do país e do mundo, quando a chamada "revolução digital" foi acelerada por causa da pandemia do novo coronavírus.

Os perfis mais procurados são programadores em início de carreira e engenheiros de software. Dados do censo do ensino superior 2019, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) na sexta-feira (23), apontam que 2.600 alunos entram todos os anos nas universidades públicas e privadas de Pernambuco nos cursos de ciência da computação, engenharia da computação e sistemas de informação, os três principais da área de tecnologia. Deste total, apenas 23,85%, isto é, 620 alunos, se formam anualmente.

Segundo o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, a área enfrenta um aumento de demanda significativa em termos de trabalho na área porque muitas empresas estão sendo contratadas justamente para fazer transformação digital em outras que não necessariamente são da área de tecnologia. E, por isso, ele destaca que o nível de exigência das empresas de tecnologia é bastante elevado. "Ou a gente resolve o problema educacional no Brasil ou a gente não vai se colocar no século 21 de maneira definitiva", diz.

Esta carência fez com que o estudante de Sistemas da Informação Anderson Adolfo, 21 anos, conseguisse emprego mesmo estando apenas no segundo semestre do curso. Desde o começo do mês o jovem trabalha na Inhalt, uma fábrica de software que trabalha com soluções de negócios e serviços especializados em desenvolvimento, suporte e manutenção de sistemas, sites, outsourcing e testes. "Está faltando gente para o setor, e os que têm, muitas vezes, não possuem qualificação. Então, esse é o momento de se preparar para disputar uma vaga em tecnologia", afirma o jovem.

Pierre Lucena diz que pelo que sente em contato com as empresas do Porto Digital, normalmente falta o programador qualificado de início de carreira, por existir uma demanda crescente. "A maioria é de programadores em início de carreira que vamos precisar encontrar ou formar", diz.

Outro perfil em falta é o de engenheiro de software sênior. "O cara que faz produção em alto nível de gerenciamento de grandes equipes para projetos de inovação. Esse cara, na verdade, está faltando no mundo todo", diz.

Apesar de ser a cidade que mais forma mão de obra da região — a cada 346 habitantes, um é aluno de curso de tecnologia — o Recife tem um realidade que não se difere do resto do país quando o assunto é falta de qualificação profissional. Por isso, o problema já entrou no radar dos postulantes à prefeitura da capital pernambucana. No mês passado, eles visitaram o polo de inovação, no bairro do Recife, área central da cidade, para ouvir as demandas da instituição, que apresentou uma proposta para o próximo gestor recifense criar um programa de bolsas para cursos de tecnologia.

Para Rodrigo Vasconcelos, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação em Pernambuco e na Paraíba (Assepro PE-PB), existe um problema complexo de formação dos profissionais. Segundo ele, a deficiência na formação acadêmica tem prejudicado bastante todo o setor. Ele defende que o governo federal inclua na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) uma disciplina de tecnologia no ensino fundamental. "Esse assunto deveria ser ensinado desde o quarto ou quinto ano. Deveria estar presentes em todas as escolas e não apenas naquelas que têm programas de robótica, porque isso não é suficiente", argumenta. "Não dá para focar nisso apenas quando chegar na faculdade. Precisamos preparar nossas crianças e adolescentes para uma demanda crescente desde agora", completa.

Vasconcelos ressalta que, enquanto a educação básica não incorpora essa pauta, as universidades precisam estar atentas e dispostas a investir nestes cursos.

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