Entrevista

Elyfer Torres, de 'Betty em Nova York': Uma mulher à procura de si

Em conversa exclusiva para o JC, a atriz mexicana fala da série de sucesso, ditadura da beleza e feminismo

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 15/03/2020 às 5:00
INSTAGRAM/@ELYFERTORRES/REPRODUÇÃO
A atriz e cantora Elyfer Torres é a protagonista de 'Betty em Nova York'. - FOTO: INSTAGRAM/@ELYFERTORRES/REPRODUÇÃO

Sucesso na Netflix e na TV Jornal/SBT, a atriz e cantora Elyfer Torres é a protagonista de Betty, a Feia em Nova York. Durante sua passagem pelo Brasil, a mexicana de 23 anos concedeu uma entrevista exclusiva para o Jornal do Commercio. Na conversa, ela fala sobre o desafio de viver a personagem icônica, a ditadura da beleza e o feminismo.

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ENTREVISTA // ELYFER TORRES

JORNAL DO COMMERCIO – Elyfer, essa história já foi contada e recontada diversas vezes, diferentes versões de sucesso foram feitas em diversos países. Agora, Betty em NY mantém a escrita e está conquistando o Brasil. O que você acha que faz essa história ser tão querida no mundo todo?

ELYFER TORRES – Acredito que Betty seja mais que uma mulher feia. É apenas uma mulher, como todas as do mundo, que vive sua vida tentando encontrar a si mesma e uma maneira mais feliz de viver. Ela cativa o público porque representa a maioria – e posso falar por mim, no que sou e no que penso – no que somos como pessoas, em essência, em pensamentos, nas capacidades que temos para viver os nossos sonhos.

JC – Por que a trajetória de uma jovem feia encanta tanto o público e parece nunca cansar?

ELYFER – Ainda que essa história seja contada mil vezes, ela será um sucesso porque é atemporal. Não importa se estamos na primeira versão ou nesta agora, de 2020. O tema segue atual e eu me sinto muito feliz em contá-la hoje em dia trazendo problemas atuais, sobretudo para os países latinoamericanos. E fico feliz de ver a diversidade cultural da história em Nova York, porque é um lugar que conversa com muitas culturas do mundo, sendo uma abordagem diferente das demais.

JC – Você acompanhou a versão original?

ELYFER – Não. (risos) Não vi nenhuma das versões anteriores. Foi uma decisão consciente, talvez por medo inconscientemente, ou de imitar conscientemente o que outras atrizes tenham feito nas versões anteriores. Queria fazer algo original, do meu ponto de vista como atriz e criadora, e sendo uma pessoa da nova geração. Dentro disso, tentei criar como eu a via, e como o roteiro me propunha, porque ela está vivendo em outro lugar, outra realidade, e por isso fazia sentido criar uma nova versão.

JC – Como foi o processo de composição da personagem?

ELYFER – A construção do personagem foi super legal! Meu processo de composição foi compreender a história completa e a partir daí gerar as pequenas características que definem um ser humano: coisas tão simples como comida favorita, cor favorita, o primeiro crush, o primeiro trauma, porque essas pequenas coisas é que nos definem como seres humanos completos. Eu, literalmente, tenho tudo isso escrito em um livro de 42 perguntas que respondi em 200 páginas resumindo o que é essencial para a personagem. Isso foi uma parte importante da atuação. Para encontrar a risada, foi literalmente o trabalho de rir como Betty todos os dias até encontrar alguma que eu definisse que era da personagem.

JC – A personagem Betty sempre vai despertar o debate da ditadura da beleza. Como você encara isso, pessoal e profissionalmente?

ELYFER – Me sinto muito feliz por representar as mulheres reais. E claramente falo de uma representação que não tem nada a ver com a imagem ideal de uma mulher com aspectos eurocentristas, como estamos acostumados a ver como protagonistas na América Latina. Me sinto feliz por fazer parte desta nova onda de mulheres latinas, mulheres reais, porque afinal, eu sou assim. E sobre a ditadura da beleza, a beleza é uma construção social que não se encaixa em um padrão. Na verdade, é que não importa o adjetivo: se você é gordo, forte, fraco, magro, alto, baixo, bonito... Se reconhecer como bonito é como dizer “quero ser livre”, um “quero ser eu”, sem etiquetas. E em relação a mim, eu não me considero uma pessoa bonita, porque o conceito de bonita é eurocentrista. Eu prefiro dizer que sou uma mulher forte e poderosa a dizer que sou uma mulher bonita.

JC – Hoje em dia, muito se fala sobre feminismo e o empoderamento feminino. Você acredita que sua Betty se encaixa de alguma forma nesta discussão?

ELYFER – Sim! Acredito que a série se encaixa neste tema, não porque Betty se declare como feminista, mas a mim ser feminista é qualquer mulher que lute pela sua liberdade, que faça uma revolução interna e externa pela sua liberdade e pelo seu corpo. E eu vejo que Betty descobre a si mesma ao longo da trama e vai se tornando uma mulher empoderada. A mim mesma, pessoalmente, Elyfer Torres, o feminismo mudou a minha vida. E sei que falo com uma certa ênfase, porque tenho muito interesse que as mulheres e que as pessoas conheçam o feminismo. Soa um pouco louco, mas ela me salvou num momento em que eu estava muito deprimida, onde jamais pensei que poderia ser atriz e contar histórias como faço hoje por causa da imagem falsa que constroem sobre as mulheres. Nós vivemos num sistema patriarcal que existe há centenas de anos, e poder romper esses estereótipos e esquemas me fazem muito feliz. E também digo que o feminismo salvou a minha vida porque me ajudou a ser uma mulher muito mais segura de mim mesma, me ajudou a entender que posso conquistar o que eu quiser e fazer dos meus sonhos realidade apenas acreditando em mim, amando a mim mesma. E amar a si mesma, confiar em si mesma, é algo revolucionário.

JC – Que conselho a Elyfer daria para a Betty se ela existisse na vida real?

ELYFER – O conselho que eu daria a Betty é: Acredite em você. A opinião que mais importa sobre você é a sua. Manda para longe todos aqueles que te deixem insegura do que você quer, não importa quão próximos eles sejam. E nunca pense que não és capaz de fazer algo, porque você é capaz de fazer tudo! Também queria dizer a Betty que a beleza não é o mais importante. Nós não precisamos só buscar sermos bonitas. Podemos ser tudo: presidenta, empresária... Ser bonita é o de menos. Seja dona de si, do seu corpo, da sua vida, e que sejas feliz, porque eu te amo.

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