Entrevista

Manuela Dias celebra os 100 capítulos de 'Amor de Mãe'

Autora conversou com o Jornal do Commercio e fez um balanço de sua primeira novela da carreira

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 19/03/2020 às 5:00
JORGE BISPO/DIVULGAÇÃO
A autora baiana Manuela Dias, da novela 'Amor de Mãe', tem 42 anos. - FOTO: JORGE BISPO/DIVULGAÇÃO

Baiana, ex-atriz e roteirista, Manuela Dias, de 42 anos, é o nome que assina a novela Amor de Mãe, da TV Globo. Nesta quinta-feira (19), a trama chega ao capítulo 100 marcando o horário das nove da emissora carioca com um folhetim humano e envolvente. Em entrevista ao Jornal do Commercio, a autora faz uma reflexão da história que marca sua estreia no horário nobre.

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ENTREVISTA // MANUELA DIAS

JORNAL DO COMMERCIO – Manuela, como você avalia o andamento da trama nestes primeiros 100 capítulos?

MANUELA DIAS – Eu diria que toda trama progrediu e se modificou – como não poderia deixar de ser em um processo tão extenso e intenso como uma novela. São 4.500 páginas, é o volume de três bíblias! Como não viver, sofrer, provocar e criar modificações para que um processo tão longo se mantenha vivo e criativo?

JC – Neste tempo em que está no ar, a novela passou por sensíveis mudanças, tanto na linguagem e/ou estética, quanto na narrativa, que ganhou uma leve pitada de humor. Essas modificações em prol da audiência foram necessárias para uma melhor compreensão da trama?

MANUELA – O humor sempre esteve na novela. A Lurdes (Regina Casé) sempre foi engraçada. A novela não tem núcleo cômico, porque a vida não tem núcleo cômico. Mas sempre teve alívio cômico e continua tendo. No começo da narrativa é preciso apresentar os personagens, e toda trama pelo que é central nela, é normal que a narrativa ganhe mais matizes com o tempo. Agora todo mundo já conhece a história, sabe que Lurdes está procurando Domênico; sabe que Thelma (Adriana Esteves) cuida demasiadamente de um filho que não é seu de sangue e que morre de medo de perdê-lo; e que Vitória (Tais Araújo) segue na difícil tarefa de balancear trabalho e vida de mãe. Amor de Mãe é minha primeira novela e, como sempre na vida, faço questão de aprender com o processo. Conto com uma rede de apoio fantástica na Globo de pessoas que eu admiro muito como o Sílvio (de Abreu), Ricardo (Linhares) e o Zé Luiz (Villamarim), diretor da novela – somos um time unido em prol de fazer a melhor novela possível.

JC – Mais que dar voz às matriarcas, Amor de Mãe é uma trama feminina e, porque não dizer, feminista. Qual a importância de ter um produto desse tipo no ar em pleno século 21 no Brasil?

MANUELA – Eu não me vejo como uma autora mulher, me vejo como uma pessoa que escreve histórias. Grandes autores homens escreveram personagens femininas memoráveis, desde Eurípedes na Grécia. É muito importante que existam autoras mulheres e mulheres ocupando cargos de liderança em todas as áreas. Mas quero que minha escrita seja universal e não uma escrita feminina. Para mim, não existe assunto de mulher. Todos os assuntos me dizem respeito. Passei oito anos escrevendo um roteiro sobre os Malês para o (Antônio) Pitanga, um trabalho no qual aprendi muito e ao qual me dediquei exaustivamente. Mas não sou negra… Mesmo assim me senti apta a emprestar meu suor, meu sangue e meus sonhos para contar essa história, com todo respeito, e sempre sabendo que eu não sou negra. Ou seja, em diversos momentos minha pesquisa precisou se fundamentar em preencher essa lacuna na minha experiência. Mas acredito que todo artista está autorizado a contar todas as histórias. A arte se trata justamente de deslocamento e transcendência, desde a criação, passando pela execução, até a experiência de percepção daquele discurso artístico. Quando escrevo, não quero ser mulher, quero ser mulher também.

JC – Nesse processo de escrever uma novela das nove da Globo, o que Amor de Mãe já te surpreendeu e/ou ensinou enquanto autora?

MANUELA – É tanta coisa que seria difícil enumerar… Todo processo foi de puro aprendizado. Imagine que a primeira novela que eu vi foi Guerra dos Sexos do Sílvio de Abreu, aos sete anos… E agora eu vivo uma interlocução criativa com ele, com o Ricardo Linhares, com pessoas que estão há muito tempo abrindo essa estrada. Ao escrever essa novela, me sinto entrando num rio muito especial de contadores de histórias. Pessoas que eu admiro e que fazem parte da minha vida… Gilberto Braga é um gênio, Silvio de Abreu outro. Quando penso em Glória Perez, Walcyr Carrasco, Benedito Ruy Barbosa, Aguinaldo Silva, Dias Gomes, Janete Clair, Walter Negrão, Calmon… Essas pessoas tiveram ideias, criaram personagens e contaram histórias que fazem parte da vida de milhões e milhões de pessoas. Estou tentando aproveitar a minha oportunidade com todo meu empenho, respeito e amor pela audiência brasileira e toda responsabilidade que essa empreitada demanda.

OBRA DE ARTE NA DRAMATURGIA

Autora que ganhou notoriedade com a aclamada série Justiça (2016) - que teve cenas gravadas no Recife - Manuela Dias faz sua estreia escrevendo novelas em Amor de Mãe. A atual trama das nove da Globo tem se revelado um respiro de qualidade no horário, que junto à direção artística de José Luiz Villamarim, entrega um folhetim sofisticado, denso e, sobretudo, humano.

O trio de protagonistas da novela falou ao Jornal do Commercio sobre estes 100 capítulos. “Amor de Mãe tem exibido na televisão brasileira uma novela de altíssima qualidade. A novela tem uma linguagem que me encanta muito. Uma fotografia belíssima. A trama aborda assuntos sérios como educação e preservação do meio ambiente”, analisou Adriana Esteves.

“Já aconteceram tantas coisas nesses 100 capítulos de Amor de Mãe... E isso é maravilhoso! Acho que é o que faz com que as pessoas fiquem vidradas na trama. Acredito que o mais importante na trajetória da Vitória nesses 100 capítulos é a reconstrução dos valores dela. A coragem de reconhecer, assumir seus erros e partir para uma nova vida”, declarou Taís Araújo.

“Acho que, como todos os trabalhos que tenho feito na Globo – e isso me orgulha muito –, Amor de Mãe é um é uma novela que estica a corda no sentido da inovação. É um trabalho popular, mas que traz uma linguagem nova, além de temas importantes e que normalmente não estão colocados na tela. Amor de Mãe faz o público rir e chorar, mas, ao mesmo tempo, faz uma reflexão importante, forte e potente”, arrematou Regina Casé.

INTERRUPÇÃO

Devido ao movimento de prevenção ao coronavírus, Amor de Mãe será interrompida temporariamente e fica no ar até o próximo sábado (21) como um “fim de temporada”. Sobre a pausa forçada, Manuela Dias escreveu em seu Twitter: “Sábado acaba a temporada 1 de Amor de Mãe. Decisão acertadíssima que só uma empresa que reúne os melhores profissionais e um acervo antológico poderia tomar. Vamos preservar a novela e, sobretudo, os profissionais envolvidos. A arte é imensa, mas a vida é ainda maior! Se cuidem!”.

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