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'Marielle - O Documentário' expõe dor e amor a um caso sem respostas

Série documental de seis episódios está disponível na plataforma Globoplay

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 24/03/2020 às 18:07 | Atualizado em 25/03/2020 às 2:55
TV GLOBO/DIVULGAÇÃO
Vereadora assassinada brutalmente junto ao motorista Anderson Silva em 2018 - FOTO: TV GLOBO/DIVULGAÇÃO

Um dos crimes mais polêmicos dos últimos anos, o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro, comoveu o País e o mundo. Símbolo do ativismo social e moradora do Complexo da Maré – uma das comunidades mais violentas da capital fluminense – a história de Marielle deu origem a uma série documental na plataforma de streaming Globoplay: Marielle – O Documentário.

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A produção original do Jornalismo da TV Globo dirigida por Caio Cavechini foi dividida em seis episódios. O primeiro, inclusive – intitulado Maré, 27 de Julho de 1979 - Lapa, 14 de Março de 2018 – foi exibido na TV Globo no último dia 12/3. A obra busca contar, de forma não linear, não só o que se sabe a respeito deste crime bárbaro, mas também explicar ao espectador quem é de fato Marielle Franco e Anderson Gomes, explorando aspectos da vida pessoal deles, sem soar invasivo, tampouco sensacionalista.

O roteiro construído por Caio Cavechini e Eliane Scardovelli, em episódios de até 1 hora aproximadamente, buscou unir o lado profissional e humano, pois junto às histórias de Marielle e Anderson, a produção também expôs todo o processo de apuração de caso, não somente por vias legais, mas também a busca incessante dos jornalistas em busca de novidades e respostas sobre este triste episódio.

Em Marielle – O Documentário também somos apresentados às respectivas famílias das vítimas. As presenças e depoimentos de Marinete Silva, Antônio Silva, Anielle Silva e Monica Benicio – mãe, pai, irmã e esposa de Marielle, respectivamente – e Agatha Reis, esposa do Anderson, bem como outros amigos e parentes de ambos ao longo dos episódios, deixam a produção jornalística menos tensa, pois eles dividem com as câmeras não somente a dor da perda, mas também como eles eram especiais, cada um ao seu modo, ao dividir suas lembranças mais íntimas e pessoais. Algo que também pode ser visto no episódio seguinte: Multidão, que aborda a repercussão do caso e os resultados das primeiras investigações.

Sem perder o foco principal, o caráter mais policial da série documental é retomado em Linhas, o terceiro episódio, que foca na investigação dos veículos envolvidos no assassinato. Entretanto, o capítulo evidencia que as pistas seguidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro parecem acabar sempre em becos sem saída. Também vemos um pouco mais do trabalho dos repórteres no processo de apuração jornalística do caso. Mas chama atenção que nenhum repórter aparece de maneira explícita, apenas por voz ou desfocado. Nos créditos de Marielle – O Documentário, vemos que a produção contou com reportagens de sete jornalistas.

Os episódios 4 e 5 da série – O Suspeito e A Prisão, respectivamente – mostrou o processo de desvendar quem seria o autor do assassinato de Marielle e Anderson. E entre todas as teorias, ficou claro que, além de se tratar de uma execução e um crime (tragicamente) perfeito, que a milícia (policiais envolvidos em atividades criminosas) estava por trás de tudo isso. No penúltimo episódio, há o destaque para o ex-policial Ronnie Lessa, suspeito de atirar nas vítimas. E no meio deste capítulo para o final, há os depoimentos da viúva de Marielle, dando mais um peso sentimental à situação, costurado pela boa e melancólica trilha sonora do doc, assinado por Pedro Penna.

Com 1 hora e 16 minutos de duração, Perguntas é o último episódio da série da Globoplay. Como o próprio título sugere, o capítulo expõe as interrogações que permanecem até este exato momento. Já que se passaram dois anos e o crime ainda não tem as respostas exatas: Quem matou Marielle e Anderson? Quem mandou matar? E por quê?

Deixando o benefício (neste caso, o malefício) da dúvida, Marielle – O Documentário se encerra sem suas devidas respostas, mas cumpre o seu papel jornalístico de levantar os aspectos práticos, criminais e humanos deste episódio. E independente do posicionamento político de quem assistir, esta obra se faz necessária e urgente nos dias atuais. Pois além de ser um produto bem embalado e editado, esta narrativa sempre vai deixar no espectador um gosto amargo de querer justiça. E respostas.

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