RAP GAME

Free Fire se transforma em lírica afiada no rap de FBC e Iza Sabino

'Best Duo', disco dos rappers mineiros FBC e Iza Sabino, traça paralelos entre o rap, a vida e o Free Fire, game que conquista milhões de jogadores e se populariza nas periferias

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 08/04/2020 às 20:50 | Atualizado em 08/04/2020 às 20:50
LÉO CASA/DIVULGAÇÃO
FBC, IZA SABINO E O PRODUTOR SMU SÃO AS CABEÇAS DO BEST DUO - FOTO: LÉO CASA/DIVULGAÇÃO

50 milhões de pessoas jogam diariamente o Free Fire, game em que até 50 jogadores precisam sobreviver em uma ilha, enquanto caçam armas e equipamentos para tentar eliminar seus oponentes. É um jogo desenvolvido para ser jogado em celulares, sem a necessidade de videogames caros e, portanto, tendo uma acessibilidade única. No Brasil, o jogo é já está espalhado por todo canto, sobretudo nas periferias, encantando jovens e adultos.

Os rappers mineiros FBC e Iza Sabino são usuários assíduos do Free Fire e reforçaram seus laços de amizade nas horas que passaram jogando juntos, de virar a noite em partidas para subir nas patentes do game. Tal parceria saiu da tela do celular e foi para os streamings de música, com o lançamento de Best Duo, disco em que traçam paralelos entre a vida, o rap e o jogo.

Best Duo é um disco expansivo, dançante e debochado, quase que guiada por duas personas criadas para dar esse tom extrovertido ao trabalho. FBC entra como o Padrim, faceta que deu nome ao seu disco anterior, lançado há apenas 4 meses. Já Iza assume a persona de Sua Mãe, que entrega uma marra única na hora de cantar sobre suas conquistas e seus amores.

A dupla, ou melhor, a best duo, se conheceu há anos, na época em que FBC integrava o DV Tribo, grupo que reunia outros grandes nomes do rap mineiro como Clara Lima, Hot, Oreia e Djonga, que tem uma participação no disco. O desejo de trabalharem juntos acabava sendo frustrado por outros compromissos, como os álbuns solo. A chance surgiu no final do ano passado, enquanto FBC finalizava o Padrim, mas ainda tinha muita energia criativa para gastar.

"A gente queria fazer música sobre o Free Fire, mas de brincadeira, nem tinha plano de lançar. Era mais para a gente se conhecer dentro da música, em estúdio. Acabou que a coisa foi crescendo e tomando forma, com a criação de letras que falavam dos mais diversos relacionamentos, sejam sexuais, de amizade ou de cumplicidade e trazendo gírias do jogo para falar disso", relata FBC. É uma diretriz temática que se reflete no próprio título, que se refere aquela parceria de jogo que está sempre ali pronta para virar a madrugada e te ajudar a subir de nível, até chegar na patente de Mestre.

É algo que lembra o próprio jogo do rap, com gente de todo canto do Brasil formando parcerias e lutando contra tudo e todos para conquistar seu lugar. E o terreno, principalmente em tempos de redes sociais, parece ser cada vez mais hostil para tal missão. "É um jogo que está em qualquer periferia. As crianças não querem ser mais Neymar, Ronaldinho, elas querem ser um pro player (jogador profissional) do Free Fire, um Nobru (pro player da equipe do Corinthians). Há ali um espelhamento da vida real, uma vitrine das batalhas, das fases difíceis e de tudo que você precisa fazer sozinho", comenta o rapper.

DANDO FORMA

Mas para além disso, FBC aponta que a ideia era de um disco mais explosivo do que o Padrim, que considera mais intimista. "Tava meio exaurido daquela fase Travis Scott, emotrap com autotune. Queria algo mais envolvente, para dançar", diz FBC. Para dar conta desse recado, entrou o produtor SMU. A dupla descreveu o que queria e SMU logo apresentou a batida que seria usada na faixa Na Garagem, acertando o tom pretendido e criando o som das outras músicas em um mês. Com os beats, a dupla criava um refrão e partia em seguida para o restante da letra.

A partir daí, FBC e Iza se equilibram muito bem nas faixas. Cantam sobre os lugares onde chegaram, como chegaram e para onde pretendem ir. Como já ressaltado, também dão uma grande importância para as pessoas que encontraram nessa caminhada e os afetos que surgiram nela, cada um a sua maneira e ambos com a caneta afiada.

"Iza não canta desse jeito, geralmente ela vem com uma voz mais grave. Mas quem canta no Best Duo não é a Iza, é a Sua Mãe e a Sua Mãe é brava, temos que diferenciar. A gente discutiu, brigou, mas acabou rolando. Ela pegou uma referências de minas debochadas e criou em cima disso", conta FBC. E Sua Mãe realmente chega contundente no flow e nas rimas. Há um verso dela sobre Bonnie e Clyde na faixa Corrente Nova que é um exemplo fortíssimo dessa lírica afiada. E a Best Duo acabou por gerar um álbum de mestre.

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