Ensaio

'A Arte Queer do Fracasso' propõe formas de combate ao capitalismo e à heteronormatividade

Livro de Jack Halbertstam ganha edição brasileira pela Cepe Editora

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 11/04/2020 às 11:42 | Atualizado em 05/06/2020 às 18:20
Vincent Tullo/Divulgação
Jack Halberstam é titular no Departamento de Inglês e diretor do Instituto de Pesquisa sobre Mulheres, Gênero e Sexualidade na Universidade de Columbia, Nova Iorqu - FOTO: Vincent Tullo/Divulgação

A Arte Queer do Fracasso, ensaio do norte-americano Jack Halberstam, aquilo que é comumente entendido como antônimo de sucesso é repensado por um prisma revolucionário. Publicado pelo selo Suplemento Pernambuco, da Cepe Editora, o texto propõe uma subversão da lógica capitalista, heteronormativa, cisgênera, branca e ocidental para imaginar outras formas possíveis de ser no mundo, abraçando a potência revolucionária que existe na estranheza. O livro está à venda no site da Cepe.

Lançado originalmente em 2011, nos EUA, o ensaio absorve as tensões de um mundo pós-crise do sistema financeiro de 2008 e ajuda a compreender muito do que se passa atualmente, quando o capitalismo passa por um novo abalo em seu alicerce. O trabalho de Halberstam, que é professor titular no Departamento de Inglês e diretor do Instituto de Pesquisa sobre Mulheres, Gênero e Sexualidade da Universidade de Columbia (NY), entende confronta ideias hegemônicas inclusive dentro dos espaços voltados para a produção de saberes, como as universidades.

Ele entende a educação como um campo de liberdade, não pautado pelas rígidas normas da academia que pressupõem um caminho com destino certo. As veredas, os tropeços e os lugares escuros do conhecimento são entendidos enquanto forças que levam à emancipação, em consonância com o pensamento de outros pesquisadores, como Paulo Freire, Gramsci Stuart Hall e Rancière.

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QUESTIONAMENTO

A perpectiva defendida no ensaio é a de estar aberto a questionar preceitos de gênero, sexualidade, raça, classe e todo tipo de estrutura de poder. O americano sugere a possibilidade de ler fracasso como "uma crítica a conexões intuitivas entre sucesso e lucro dentro do capitalismo".

Ao autor, interessa investigar aquilo que chama de baixa teoria, uma espécie de “forma contra-hegemônica de teorizar, a teorização de alternativas dentro de uma zona não disciplinar de conhecimento”. Como objetos de sua análise, ele se debruça sobre obras da cultura pop, da música, literatura, fotografia, pintura, e, especialmente filmes de animação infantil que, em sua opinião, “regozijam-se na esfera do fracasso”.

Para Jack, as animações voltadas para esse público não podem se ancorar apenas no sucesso e na perfeição, pois a infância é “uma experiência essencialmente queer em uma sociedade que reconhece, a partir de um extensivo programa de treinamento para crianças, que a heterossexualidade não é nata, mas construída”. Se as crianças precisam ser ensinadas e treinadas é porque, em essência, seriam anarquistas e rebeldes.

A Arte Queer do Fracasso utiliza exemplos diversos para elaborar sua teoria, da poeta Elizabeth Bishop a filmes como A Fuga das Galinhas, voltando o olhar para aqueles fora do padrão, a fim de encontrar outras soluções. O pesquisador se recusa a ditar caminhos, pois isto iria na contramão do que acredita. Seus exemplos nem sempre são otimistas e não se esquivam das contradições. Prefere abraçá-las, para propor o fracasso como um modo de vida; uma busca constante por alternativas para estar no mundo.

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