Múltiplo

Morre o jornalista e dramaturgo Valdi Coutinho, aos 77 anos

Figura marcante na cena cultural pernambucana faleceu nesta terça-feira (14)

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 14/04/2020 às 14:56 | Atualizado em 14/04/2020 às 18:08
Rafael Coelho/Divulgação
Jornalista recentemente foi tema de um documentário, intitulado 'Múltiplo Valdi' - FOTO: Rafael Coelho/Divulgação

Faleceu no começo da tarde desta terça-feira (14) o crítico, dramaturgo, ator, diretor, jornalista, pintor e agitador cultural Valdi Coutinho, aos 77 anos. Atuando em diversas frentes, foi responsável por ajudar a fomentar a cena artística de Pernambuco, especialmente no teatro, além de, por anos, ter sido um dos nomes a frente do Baile dos Artistas.

Segundo Maria Ângela Oliveira, que trabalhava com Valdi há 11 anos, o jornalista vinha se sentindo mal desde o último domingo (12). Na segunda-feira (13), as pessoas próximas a ele chegaram a acionar o Samu, que, no entanto, não teria comparecido à residência. Ângela disse ainda que ele teria apresentado melhoras nesta terça-feira (14), chegou a tomar café da manhã e almoçar, mas faleceu por volta das 12h30.

Nos últimos anos, Valdi foi vítima de dois AVCs e se locomovia com dificuldade. Ainda não há informações sobre data e horário do velório e do enterro. 

Trajetória

A agitada vida do pernambucano foi recentemente tema do documentário Múltiplo Valdi, com direção de Rafael Coelho, que estreou no Janeiro de Grandes Espetáculos 2020. Na obra, Valdi conta como escapou de ser padre e encontrou, desde menino, a vocação para as artes, especialmente o teatro. 

"Eu sempre gostei de fazer muita coisa, de criar. Sempre fui muito inquieto: pintura, carnavalesco, homem de teatro, escritor, poeta, contista, jornalista. O que eu tenho vontade de fazer, eu faço", afirmou Valdi no documentário. 

No jornalismo, tentou emprego no Jornal do Commercio, mas foi no Diario de Pernambuco, onde trabalhou durante cerca de 30 anos, que fez carreira como repórter esportivo (cobriu quatro Copas do Mundo e uma Olimpíada), crítico e colunista de teatro. Da vivência no jornalismo, Valdi também passou a exercer funções como dramaturgo, escritor, pintor e carnavalesco. Foi ele um dos fundadores do Baile dos Artistas, espaço que por anos reuniu diferentes setores da sociedade recifense, de membros da comunidade LGBT a políticos. 

"Quando comecei a trabalhar no roteiro da cinebiografia de Valdi Coutinho, decidi dar o título de Múltiplo Valdi ao filme porque fiquei impressionado com a enorme quantidade de competências que ele possuía e como conseguia ser tão virtuoso em todas as atividades. Valdi foi jornalista, cronista esportivo, ator, diretor, dramaturgo, crítico de teatro, escritor, artista plástico e carnavalesco. Pessoa de extrema relevância na história das artes e da comunicação de Pernambuco. Durante os quatro anos em que convivemos, fiz um amigo e me tornei fã", afirmou o diretor Rafael Coelho.

Sua atuação no teatro deixou um forte legado, graças à sua coluna Cena Aberta e também através dos coletivos que fundou, como o TEO – Teatro Experimental de Olinda. Seu olhar para a arte ia além da fruição, entendendo seu papel transformador na sociedade e desenvolveu projetos de arte-educação nas periferias de Pernambuco. Como diretor de Cultura da Prefeitura de Olinda, ajudou a reabrir o Teatro do Bonsucesso.

"Resolvi recuperá-lo (o teatro) e junto com os meus alunos, a gente lavou aquela imundice, e assim nasceu o TEO. O prefeito não gostou do espetáculo porque disse que tinha muita safadeza e proibiu a gente de montar espetáculo lá", lembrou Valdi no filme.

Além de dirigir e de escrever peças, Valdi também exerceu a função de ator, inclusive no cinema, como na obra O Último Bolero no Recife, de Fernando Spencer, de 1988.

"Valdi era um homem de muitos talentos. Como crítico, abriu muito espaço para as produções locais. Foi também professor de teatro de muita gente e muitas gerações devem sua formação a ele. Era também uma pessoa que amava o futebol e teve participação muito forte na área", lembra Ivonete Melo, presidente do Sindicato Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de Pernambuco. "Era um bon vivant, amava a noite e era muito divertido. Vai fazer muita falta"

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