No último dia 6 de maio um convite inusitado apareceu no feed dos seguidores do Instagram de Luna Vitrolira. "Tão afim de trocar essa ideia sobre amores da vida pra eu transformar a história em soneto?", perguntou a poeta. Desde o início do mês ela vem se comunicando com seus leitores através do projeto Mundo do Quarto, em que grava vídeos à luz de vela, vestida de vermelho e ornando um imenso brinco em forma de gaiola (referência à capa de seu livro Aquenda - O amor Às Vezes É Isso, finalista do Prêmio Jabuti de 2019) e declama versos, compartilha sentimentos destas semanas de isolamento.
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Quando a quarentena começou Luna preferiu seguir o caminho contrário ao intenso fluxo de informação das redes sociais, mas agora percebeu que elas podem ser uma poderosa ferramenta para se comunicar com o outro e voltar a colocar em prática a performance Me Conta Tua História Que Eu Te Escrevo Um Poema, criada entre 2014 e 2015 nas ruas do centro do Recife.
"A ideia era intervir de forma especial na vida das pessoas, em lugares movimentados. Eu armava uma banquinha e colocava uma placa com o nome da performance. Só o fato de estar lá, visualmente, já gerava uma curiosidade nas pessoas. Para quem vinha falar comigo eu escrevia um poema em um papel aromatizado e entregava", conta. "Era uma forma de causar uma experiência inesperada no dia a dia, deixar algo bonito em um momento em que ninguém estaria esperando."
A oralidade sempre esteve presente no projeto artístico da escritora. Luna já declamou poesia no metrô, em supermercados e até salões de beleza, então ter colocado em prática esse projeto foi de certa forma a culminância de uma longa vivência em que a poesia falada e escrita se complementam. "A poesia sempre foi de certa forma um gênero distante desses lugar das ruas, muito relacionada a livros nas estantes das livrarias. Mas essa intervenção é para além de estar falando, é primeiro uma relação de escuta da história de outra pessoa", pontua.
Das ruas ao Instagram
Neste momento em que muitos se encontram em casa o dia todo e por todos os dias desde meados de março, as redes sociais têm ganhado ainda mais espaço no cotidiano dos "quarenteners". São um canal de comunicação com familiares e amigos, meios de aprender novas habilidades e de acompanhar jornais e analistas de questões relacionadas à pandemia.
Dentre tantas possibilidades, dividir suas alegrias e seus anseios também é uma delas. No projeto - agora virtual - Me Conta Tua História Que Eu Te Escrevo Um Poema, o internauta entra em contato com Luna Vitrolira através de uma mensagem no seu perfil do Instagram e combina com ela se prefere conversar por mensagem, e-mail, telefone ou até videochamada. Após este momento, ela cria um poema a partir da história de amor compartilhada, grava um vídeo com uma introdução ao tema e declamando a poesia.
"Nesses dias tenho pensado muito em formas de estar presente e em como ajudar. É um momento em que a solidão está afetando muito as pessoas, questões muito sérias que se acentuaram com violência doméstica, ansiedade e aí tem muita gente que está sem conversar muito. Então o projeto é também uma forma de acolher afetivamente o que as pessoas estão sentindo", diz Luna, que escolheu agora fazer no formato de vídeo pois acredita ser de mais fácil acesso e compartilhamento. "Quando compartilho uma história, quem assiste pode se identificar e isso gera uma corrente que é muito bacana."
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