Por Adriana Del Ré
Desde que estreou na Netflix, o filme 365 Dias (365 Dni) tem gerado grande repercussão, sobretudo nas redes sociais, onde há uma corrente que compara o drama erótico polonês à saga de Christian Grey, de 50 Tons de Cinza. No Brasil, o filme ocupa o primeiro lugar da lista dos 10 mais vistos na plataforma de streaming. No entanto, o sucesso de 365 Dias não está ligado à qualidade do filme. Com roteiro fraco e interpretações sofríveis, o filme se apoia nas tórridas cenas de sexo (por vezes, quase explícitas). E nada mais.
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O alto apelo erótico já garantiu a fama de produções como Instinto Selvagem (de 1992, que ficou famoso pela cruzada de pernas de Sharon Stone) e o próprio 50 Tons de Cinza. Não é nenhuma novidade, mas continua a ser um chamariz certeiro para público adulto. E o artifício geralmente camufla enredos fracos com muita cena de sexo, criando o tal do soft porn.
Com 365 Dias, não é diferente. A ideia central da trama, inspirada no primeiro volume de uma trilogia da escritora Blanka Lipinska, já é desastrosa, ainda mais se pensarmos no contexto dos dias de hoje, em que se são amplamente debatidos (e combatidos) os relacionamentos abusivos. E é isso o que acontece na relação entre Massimo e Laura, interpretados pelos belos atores Michele Morrone e Anna Maria Sieklucka.
Massimo é um mafioso italiano que herda os 'negócios' da família após seu pai ser assassinado na sua frente. Passado algum tempo, ele decide sequestrar Laura, que viajou com seu namorado da Polônia até a Sicília, na Itália. Os dois não se conhecem pessoalmente. Mas Massimo tem sua 'justificativa' para isso: antes de o pai ser morto, ele viu uma jovem (no caso, Laura) na praia e, ao sofrer o atentado junto com o pai e ficar à beira da morte, ele teve a visão daquela bela garota. Passa então a ir atrás dessa mulher e, quando a encontra por acaso na Sicília, a sequestra. Quer fazer Laura se apaixonar por ele em até 365 dias.
Todo-poderoso, Massimo se vê diante de uma mulher arredia e independente. Laura passa a viver em cárcere privado. Ele tem atitudes violentas com ela, a prende, é possessivo. Quer conquistá-la na marra. Em pouco tempo, surge uma tensão sexual entre os dois - em que não se descarta a hipótese de síndrome de Estocolmo, quando a pessoa que sofre intimidação começa a desenvolver simpatia ou amor por seu agressor.
Não foi preciso um ano, mas poucos dias para Laura se entregar a Massimo. E, a partir daí, o enredo, que já se mostrava bastante frágil, descamba para uma compilação de cenas de sexo, rodadas nos mais belos cenários. O filme, por vezes, parece ter a pretensão de ser algo como Ata-me! e A Pele Que Habito, ambos de Pedro Almodóvar, e que giravam em torno da relação entre sequestrador e sequestrado. mas está a anos-luz dos filmes do mestre espanhol.
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