Luto

Familiares e amigos se despedem de Tereza Costa Rêgo

Velório da artista plástica pernambucana aconteceu nesta segunda (27) no Cemitério de Santo Amaro

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 27/07/2020 às 15:01
YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
PALAVRAS "Ela me disse para explicar 'esse negócio de céu' porque sentia que estava indo para lá", revelou Frei Rinaldo - FOTO: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
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Familares e amigos deram o último adeus a Tereza Costa Rêgo, na manhã desta segunda-feira (27). A artista plástica pernambucana, falecida no domingo (26), aos 91 anos, foi velada no Cemitério de Santo Amaro por um número restrito de entes queridos, respeitando as normas de segurança para o combate do novo coronavírus. O ritual teve a bênção de Frei Rinaldo, amigo de Tereza, que exaltou sua importância para as artes visuais e enfatizou, principalmente, a personalidade alegre, a humanidade e força da pintora.

Desde a notícia da morte de Tereza Costa Rêgo, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), amigos, parentes e admiradores têm reforçado a admiração que nutriam pela artista e compartilharam, principalmente através das redes momentos marcantes que viveram ao lado dela. Foi uma forma de celebrar e se despedir de um dos maiores nomes das artes visuais de pernambuco, uma vez que as restrições sanitárias não permitiram uma despedida coletiva presencial.

Para o jornalista Inácio França, autor do livro Terezas, inspirado na vida da pernambucana, de quem também era amigo, ela se destacava pela capacidade singular de reinventar-se e servia como constante inspiração para as novas gerações.

"Ao longo da vida, ela teve coragem de se refazer várias vezes. Ela fez várias transições, de filha da aristocracia à vida na militância ao lado de Diógenes Arruda, passando por sua decisão de ser artista em tempo integral, já aos 50 anos, o que é muito raro, até, nos últimos anos, assumir o papel de lenda viva. Ela se divertia em ser o centro das atenções, em estar rodeada de gente jovem, e era de uma generosidade imensa", pontuou o jornalista, um dos amigos presentes no velório.

Esse caráter corajoso e original foi ressaltado também por Frei Rinaldo que, emocionado, ressaltou o lado espiritual de Tereza Costa Rêgo, pouco conhecido pela maioria, segundo ele. Citando a música Vamos Falar de Tereza, de Dorival Caymmi, mostrou aos presentes que escreveu seu texto em um envelope, seguindo um ensinamento deixado pela amiga de que não se pode adiar a profusão dos pensamentos da escrita, anotando-os na superfície mais próxima.

O religioso contou ainda que um dos desejos da artista era ser enterrada com o hábito dos Capuchinhos, o que foi atendido por sua família. Uma forma, dizia, de sentir-se protegida pelo sagrado. Frei Rinaldo afirmou que para muitos pode surgir como uma surpresa o fator espiritualizado da artista, mas que, apesar de não se considerar beata, Tereza tinha um profundo respeito pela fé.

"No último encontro que tivemos, ela me disse para explicar 'esse negócio de céu' porque sentia que estava indo para lá (...) Os artistas nos apontam para o céu. Somente quem entende da humanidade pode entender sobre a eternidade. Tereza era uma perita em gente, apesar de dizer que entendia mais de gato", ressaltou.

Frei Rinaldo disse ainda que observa na arte de Tereza não o profano, mas o sagrado, e que as pinturas da artista eram resultado de um olhar profundo que enxergava a alma das pessoas. Suas bênçãos foram acompanhadas com emoção pelos amigos e os familiares, entre eles a filha Maria Tereza, os netos Daniel, Joana e André, e a bisneta Nina Rozowykwiat, de 11 anos.

"Ela era muito legal e qualquer um que convivia sabia disso. Uma das minhas maiores lembranças dela é o dia em que pintamos juntas em cima de uma mesa. Ela sempre foi uma inspiração e vai sempre estar comigo", lembrou Nina.

O presidente da Fundarpe, Marcelo Canuto, que também esteve presente na cerimônia, disse que o governo espera conseguir executar assim que possível a exposição retrospectiva da obra de Tereza no Cais do Sertão, anteriormente prevista para março, mas adiada por conta da pandemia.

"É uma pena que ela não tenha conseguido ver essa grande celebração de sua obra. Tereza era uma pessoa e uma artista de intensidade enorme e uma humildade idem. Até quando falávamos da exposição, ela costumava minimizar sua importância", pontuou Canuto. "Era também uma pessoa muito receptiva, que incentivava os jovens artistas, tinha uma paciência e uma abertura muito grande. Vai fazer muita falta, ainda mais em um momento como esse."

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