Caixas capturam aficionados

FORMATO BOX Uma maneira de reempacotar discografias de intérpretes e bandas clássicas dos anos 60 e 70, pioneiros do rock e blues

José Teles
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José Teles
Publicado em 12/08/2020 às 6:00
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BLACK SABBATH Caixa de Paranoid chega em edições deluxe e superdeluxe. Fãs vão salivar com a chance - FOTO: DIVULGAÇÃO
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O culto ao disco em vinil tornou-se uma dos artifícios das gravadoras para recauchutar produtos do seu catálogo, pegando como gancho efemérides periódicas. Em 2020, por exemplo, relançam-se álbuns clássicos, alguns nem tanto, que inteiraram meio século.

As edições em vinil trazem de volta o formato box (caixa), que revigorou a indústria nos anos 90, uma maneira de reempacotar discografias de intérpretes e bandas clássicas dos anos 60 e 70, de pioneiros do rock e blues.

Elvis Presley, por exemplo, teve todas suas fases reeditadas em boxes. E a saga continua. Em novembro, se a covid-19 deixar, será lançada mais uma caixa do Rei: From Elvis in Nashville, com quatro CDs, ou dois álbuns duplo em vinil, com as sessões completas de cinco horas de gravação, realizadas por Elvis em 1970, com os melhores músicos da capital da música country. O preço será bem em conta, em média 40 dólares, cerca 220 reais.

A retomada da box é claramente oportunista, já que não tem o propósito de repor títulos fora de catálogo, como é o caso de Paranoid, segundo álbum do Black Sabbath, de 1970. O disco chega às lojas no início de outubro, pela Rhino Records, especialista neste tipo de projeto que, nas décadas de 80 e 90, repôs álbuns nos quais as gravadoras originais não viam retorno comercial. Foi a Rhino que reeditou a obra do difícil Frank Zappa em CDs individuais e caixas.

Paranoid, que continua à venda desde que foi lançado, chega em edições deluxe e superdeluxe. Traz o disco original, em duas versões, uma delas quadrafônica e em estéreo, mais o registro de concertos, em Montreux e Bruxelas, até aqui inéditos em vinil. Mais um livro detalhando a história do álbum, com entrevistas com os integrantes da banda, mais réplicas de pôster, do programa da turnê, fotos raras.

Os milhões de fãs do Black Sabbath devem estar salivando. Mas, no meio do caminho tem um porém, tem um porém no meio do caminho. Essas edições são limitadas. A tiragem é de uns poucos milhares. Talvez esta chegue a dez mil.

O outro porém é o preço salgado, e bota sal nisso. A caixa com quatro CDs custa 75 libras (530 reais), com cinco LPs vai para cem libras (708 reais), e a supercaixa, com CDs e LPs (1.130 reais).

Claro, tem compradores para as caixas entre a multidão que idolatra o Black Sabbath, assim como tem o mais ou menos esquecido New Order, a banda pós-punk de Manchester, que fez furor no início dos 80. Seu álbum mais bem sucedido, Power, Corruption & Lies (1983), ganha box turbinado, com LP, dois CDs e dois DVDs. Nada mal para um disco que originalmente se limitava a oito faixas.

Duas caixas do Fleetwood Mac foram anunciadas pela Rhino, coincidindo com a morte do guitarrista Peter Green, que liderou a banda em sua fase blueseira. Uma das caixas contém oito CDs: Then Play On (69), Kiln House (70), Future Game (71), Bare Trees (72), Penguin (73), Mistery to Me (73), Heroes Are Hard to Find (74).

Tem título bem óbvio: Fleetwood Mac 1969 to 1974. De bônus, um disco ao vivo em 1974, na Califórnia. A segunda caixa, que contém quatro LPs, mais um EP bônus, intitula-se Fleetwood Mac 1973 to 1974.

A caixa com oito CDs custa 38 libras (270 reais), a de vinil é bem mais cara, 90 libras (640 reais). Fica claro porque tanto disco em vinil relançado.

Se há uma banda nos anos 70 que não faria falta se não existisse é a America. Formada em Londres por americanos cujos pais militares estavam na Inglaterra, onde o grupo começou a gravar. America, o álbum de estreia, estourou com A Horse With No Name. O estilo do grupo era Crosby, Stills & Nash de baixos teores.

A música estourou com efeito retardado nos EUA, e daí mundo afora. Os 50 anos do America (que continua na estrada) serão lembrados com uma caixa cujo nome também prima pela obviedade, America 50 — Half Century. Nela vêm sete CDs e um DVD, mapeando a música do grupo desde as primeiras demos até uma faixa gravada este ano.

Provavelmente deixaram o baú vazio. Half Century tem preços que vão de 133 libras (944 reais) a 160 libras (1.140 reais). Para obtê-la é preciso, primeiro, não ter sido atingido pela crise pandêmica. Segundo, ser muito fã do America.

NADA A PERDER

A Gene é uma banda inglesa enquadrada como britpop que, em certos momentos, pode ser confundida com The Smiths. Olympian, canção que dá título ao álbum de estreia do grupo, soa como uma música dos Smiths, perdida no lado B de algum single.

Não por acaso, o Gene foi produzido por Stephen Street, produtor do Viva Hate, de Morrissey & Cia. A Gene gravou apenas quatro álbuns, e uma infinidade de singles. Nunca emplacou um sucesso para que ao menos ficasse lembrada como one hit wonder (astro de um sucesso só). Mas ganhou uma caixa com duas opções: nove CDs, em vinil contém a discografia de estúdio, os quatro LPs, mais uma coletânea.

Três dos quatro LPs são álbuns duplos. A quem interessar pela caixa mais cara, a dos vinis, custa 314 libras (2.232 reais). Ou seja, é preciso que se seja genemaníaco de carteirinha para levar esta caixa pra casa.

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