A pernambucana Ademara Barros foi surpreendida na última sexta-feira (21), quando seus perfis no Twitter e Instagram foram alvos da ação de criminosos que hackearam suas contas e excluíram os conteúdos. A conta hackeada no Twitter atualmente tem o nome de usuário "Pombo! esteve aqui" e o único perfil seguido é "No Ar Direita Tv News", que, em um post, celebrou o roubo das contas da jornalista.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK deus é bom o tempo todo https://t.co/ADnSziFYNP
— no ar Direita Tv News (@thingintheair) August 22, 2020
Ademara e sua equipe já estão em contato com o Twitter e o Instagram, mas ainda não há previsão para que a situação seja resolvida. A pernambucana recebeu o apoio de milhares de internautas e também de perfis famosos, como o de Gregório Duvivier, Karina Burh e da Mídia Ninja.
Olhar atento às estruturas sociais
A jornalista e atriz Ademara Barros tinha o costume de criar conteúdos de humor com seus amigos, para compartilhar apenas entre eles e "gaitarem" juntos. Em abril, ainda no começo do isolamento social, ela decidiu publicar no Twitter um desses vídeos, no qual dubla o meme da conterrânea Rayanne Menezes reclamando sobre a prova do Enem. A interpretação certeira viralizou e recebeu milhares de curtidas, além de ser compartilhada por perfis como Brega Bregoso, o que amplificou o alcance.
Foi o primeiro de muitos virais que a pernambucana produziria nos meses seguintes. Outro ponto de virada foi um vídeo sobre o vocabulário pernambucano e a forma errada como sudestinos utilizavam esses termos, compartilhado pela página Recife Ordinário. Atualmente, já soma mais de 118 mil seguidores no Instagram (@ademaravilha) e 66 mil no Twitter, além de ter chamado a atenção de famosos como Tatá Werneck, Fábio Porchat e Leandra Leal.
"Era um conteúdo extremamente bairrista e sabemos que não somos os detentores da hegemonia da produção de entretenimento, então quando a gente vê alguém nosso falando de Pernambuco, tendemos a compartilhar mais, porque não estamos acostumados a nos ver ali", lembra. "Quando cheguei a dez mil seguidores, decidi ampliar as abordagens e os temas, entendendo que as pessoas estavam tomando minha produção como entretenimento. E esse sempre foi o meu desejo: trabalhar com arte."
>> Fenômeno nas redes, pernambucana Ademara Barros tem contas hackeadas
Com perspicácia e olhar aguçado para tratar de questões sociais, criou personagens que se tornaram fenômenos nas redes sociais, como a repórter sudestina Laura Tampurini, para quem o Nordeste é uma grande massa homogênea definida pela pobreza, a ignorância e o folclore; o esquerdomacho que se acha desconstruído, mas reproduz todas as estruturas do machismo, e a intercambista que ainda não superou o período no exterior, uma década após voltar de Dublin.
Vivendo no Rio de Janeiro há um ano, ela conta ter experienciado várias situações de preconceito decorrentes da xenofobia, o que acabou se tornando um tema de investigação do seu trabalho. Ela cita como uma de suas inspirações o historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, autor do livro A Invenção do Nordeste.
Sobre sua produção, Ademara, que sempre esteve acostumada à correria do trabalho em campo, tem aproveitado a oportunidade de desenvolver parte das atividades em casa para investir em suas produções artísticas. Ela tem buscado gravar um vídeo por semana, conciliando a agenda com as demandas do emprego no ramo da comunicação.
Mas, a visibilidade nacional tem rendido frutos para a pernambucana, que promete novidades na área artística para breve. Ela afirma que sua intenção é aliar esse conteúdo à produção jornalística, encontrando um formato que lhe permita exercitar essas duas paixões.
Envolvida com o teatro desde a pré-adolescência, Ademara cursou jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco e atribui muito de sua sensibilidade às questões sociais à formação crítica e humanizada que a academia e as vivências em campo lhe deram.
"Me considero um ser muito político e minha formação sempre buscou compreender as estruturas sociais e questioná-las. Isso está presente no meu trabalho como jornalista e artista. Como Marcelo Adnet falou recentemente, o humor sempre tem um alvo, então acho que a gente tem que refletir sobre quem e que tipo de situações merecem aquele sarcasmo para gerar reflexão", afirma.
Comentários