Políticas públicas

Pesquisa revela os impactos da pandemia da Covid-19 na economia criativa

Realizada entre 27 de março e 23 de julho, pesquisa entrevistou 2.600 pessoas de todos os estados, com exceção de Rondônia

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 15/09/2020 às 15:20
ANDRÉA RÊGO BARROS/DIVULGAÇÃO
À ESPERA Suspensão de atividades forçou uma reinvenção no setor - FOTO: ANDRÉA RÊGO BARROS/DIVULGAÇÃO
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O setor da cultura foi duramente afetado pelo novo coronavírus, paralisando suas atividades desde a eclosão da pandemia e sem perspectiva de retorno pleno, com a falta de certezas em relação ao fim da crise sanitária. Dados colhidos pelo Observatório de Economia Criativa da Bahia (OBEC-BA) com profissionais do setor ao redor do país mostraram, por exemplo, que 78% dos 2600 entrevistados cancelaram entre 50% e 100% de suas atividades em abril. Em maio, esse percentual foi de 76%.

A pesquisa foi desenvolvida por uma equipe multidisciplinar e interinstitucional composta por docentes e discentes de universidades de todo o país e foi realizada entre 27 de março e 23 de julho em todos os estados brasileiros, com exceção de Rondônia. Seu conteúdo completo divulgado nesta quarta-feira (16), mas alguns dos principais resultados já foram divulgados e serão discutidos nesta terça-feira (15), às 20h, no canal do Youtube do Coletivo Tereza Costa Rego.

Participam da conversa Tarciana Portella, especialista em Gestão Cultural; Carlos Paiva, do OBEC-BA; a produtora em audiovisual e especialista em Gestão e Produção Cultural, Carla Francine; o cantor, compositor, rabequeiro, mestre de Maracatu Rural, brincante de Cavalo Marinho e militante pela cultura popular, Maciel Salu; e o ator e dramaturgo do Grupo Teatral Magiluth, Giordano Castro.

Entre os resultados, destacam-se, por exemplo, as dificuldades enfrentadas pelos integrantes da cadeia de economia criativa, como o fato de a maioria dos profissionais da cultura não possuir vínculo empregatício formal e receber até 3 salários mínimos, com 31,5% executando jornadas de mais de 45h semanais.

Ainda de acordo com o estudo, até o mês de março, 80,7% dos respondentes não possuía vínculo empregatício formal e 71,2% dos indivíduos e 77,8% das organizações só tinham reservas financeiras para garantir sua subsistência por um período máximo de três meses. E a perspectiva não é animadora: 88,7% dos indivíduos e 86,8,% das organizações acreditam que as atividades ficarão restritas até o fim do ano, enquanto 44% das organizações acreditam que suas receitas estarão comprometidas em 2021. 

Nesse sentido, a execução da Lei Aldir Blanc, que garante o repasse de R$ 3 bilhões do Fundo Nacional de Cultura para o pagamento de auxílios aos trabalhadores da cultura, representa um alento (ainda que tardio).

"A pandemia deixou evidente a necessidade de se pensar as políticas públicas e adequá-las às especificidades da cultura. Não se pode tratar o fazer cultural com os mesmos parâmetros que se trata uma empreiteira. Então, o que nós percebemos diante desse caos e desse desmonte é uma rearticulação no sentido de garantir a sobrevivência da produção e dos profissionais. Há uma preocupação em fortalecer redes e firmar novas parcerias, em mapear inciativas e artistas em todo o país", aponta Tarciana Portella. 

Para ela, a aprovação da Lei Aldir Blanc foi fruto desse fortalecimento das iniciativas coletivas e da pressão popular, como ocorreu em 2016, quando vários equipamentos do Ministério da Cultura foram ocupados pela sociedade civil quando o então presidente Michel Temer buscou extinguir a pasta. Outro fator importante para a retomada das articulações em prol das políticas públicas foi a migração dos debates e das atividades para os meios digitais, o que encurtou distâncias.

A internet, inclusive, foi (e continua sendo) essencial para o setor cultural durante pandemia, com a realização de lives, projetos híbridos, que unem linguagens como artes visuais, cênicas e música aos meios digitais, entre outras iniciativas. Entre os resultados da pesquisa está a percepção de 55% dos entrevistados de que é necessária a adoção de estratégias digitais para se relacionar com o público e vender os produtos. Para isso, os profissionais também apontam a necessidade de capacitação para o uso das plataformas digitais e das novas mídias.

Ainda segundo a pesquisa, apesar dos cancelamentos de atividades, os entrevistados já estavam se adequando às necessidades do momento, desenvolvendo projetos durante o isolamento social, tanto a nível individual (45,1%) quanto de organizações (42%). 12% dos indivíduos e 18% das organizações também buscaram inovar nas estratégias para arrecadação de recursos, como antecipação de venda de ingressos e campanhas de doação e financiamento coletivo.

Entre as medidas que mais apareceram nas respostas como as mais sugeridas para a recupeação do setor, o auxílio emergencial foi a mais citada. As organizações também ressaltaram a necessidade de desoneração tributária e perdão de dívidas, além de apoio na manutenção.

DIEGO NIGRO/ACERVO JC IMAGEM
ESVAZIAMENTO O setor cultural foi um dos que mais sofreram a crise - FOTO:DIEGO NIGRO/ACERVO JC IMAGEM

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