Expandir a percepção, difundir, capacitar e fomentar as produções culturais para dentro e fora das periferias brasileiras. O Embrazado, organizado pelos pesquisadores pernambucanos GG Albuquerque, Igor Jatobá, Igor Marques e Rodrigo Édipo, tem se colocado esses objetivos desde 2019, quando também se tornou uma iniciativa jornalística.
Na terça-feira, 15 de setembro, o projeto dá um grande passo na sua jornada com o lançamento do Portal Embrazado (www.embrazado.com). Selecionado na Chamada Música em Movimento do Petrobrás Cultural, a plataforma contará com grandes reportagens em diversas mídias – podcast, vídeos e matérias em texto.
A live abertura será às 20h, com a lenda Lazzo Matumbi, artista de trabalhos com Jimmy Cliff e Ilê Aiyê.
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“A ideia é criar uma plataforma acessível, capacitar atores locais e fomentar o intercâmbio de artistas e experiências estéticas entre as comunidades”, diz Igor Marques, fundador e redator do grupo.
Desde a fundação, à princípio como uma festa, o Embrazado manteve o objetivo de explorar produções à margem da mídia tradicional (ou quando presentes, mal debatidas e estereotipadas). Em foco, os pesquisadores jogam luz sobre manifestações de cenas como a do bregafunk, pagode, funk carioca, tecnobrega e forró, com a complexidade exigida.
“A gente busca se aprofundar na história de gêneros, práticas musicais, culturas musicais que foram historicamente marginalizadas ou mesmo excluídas da historiografia da música brasileira por diversas questões, né? Por discriminação racial, por preconceito social, de classe”, explica GG Albuquerque, também redator e fundador do Embrazado.
“E de modo de tentar construir uma memória e uma narrativa mais aprofundada, mais crítica e atenta sobre culturas periféricas históricas tanto do passado, quanto movimentos contemporâneos do agora”.
Segundo ele, o projeto se mantém sobre os pilares da difusão, capacitação e fomentação. Difundir se aprofundando nos gêneros musicais, para então capacitar e fomentar as discussões e produções que o cercam.
Neste sentido, o Embrazado também assume um caráter formativo, oferecendo oficinas de redação jornalística para jovens do ensino médio em escolas públicas. “Não que a gente queira ensinar a eles como se deve fazer ou pensar os fenômenos culturais que eles vivem. O que a gente quer é estabelecer um diálogo e mostrar uma possibilidade dentro de muitas possíveis, de se pensar, tratar e discutir a cultura que os cerca”, diz GG.
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No que diz respeito a fomentação, o projeto irá se propor a ser plataforma de conexão entre diversas cenas musicais do Brasil. A ideia é estabelecer intercâmbios culturais das regiões metropolitanas das cinco capitais contempladas (Salvador, Recife, Belém, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) para a produção de músicas.
“A gente vai pegar, por exemplo, uma cantora do pagodão baiano e um produtor do Brega-Funk e juntar eles para produzir uma faixa”, ele explica.
“Tudo isso devidamente remunerado, né? Porque essas conexões entre as periferias já existem. Existe uma rede de música periférica na internet que já troca e já se influencia mutuamente”.
Além da equipe editorial, o Embrazado busca diversificar as abordagens e olhares para as manifestações culturais através de correspondentes nas três macrorregiões brasileiras. Para dar conta da tarefa, o portal vai lançar também uma convocatória pública (e remunerada) para jornalista e pesquisadores contribuírem com conteúdo sobre suas cenas locais.
“Entre os critérios de seleção, a gente tem a priorização da diversidade de gênero e a priorização também de pessoas que vivem em regiões periféricas”, diz GG.
Tratando de conteúdo, o Portal do Embrazado abre dando continuidade ao já bem-sucedido podcast realizado de maneira independente, que agora ganha frequência quinzenal. Para o lançamento, o tema será o Forró de Favela, com GG Albuquerque e Igor Marques debatendo sobre a cena cearense do forró de comunidade, com destaque para a forrozeira Danieze Santiago, fenômeno da expressão musical estabelecida e conhecida em Fortaleza, mas que se estende para o Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Os trabalhos também oferecerão outros olhares com diferentes abordagens e temporalidades, explica GG, “seja mapeando uma cena nova ou antiga, seja discutindo alguns elementos específicos ou conta a história de algum músico”.
Entre os materiais de estreia, Igor Marques também propõe uma reportagem sobre o beiradão amazonense, um movimento de música que começou com festas que aconteciam na beira dos rios – e se mantém presente com novos artistas, sonoridades e plataformas de divulgação.
“Vamos realizar também uma reportagem sobre pirataria. A importância dela para a consolidação das músicas periféricas. Uma reportagem também com ensaio de fotos no baile da paz em Recife, que é um baile funk que que reúne galera de diferentes bairros pra festejar e brincar em paz”, ele adianta.
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Os podcasts já gravados pela equipe do Embrazado serão incorporados ao portal. Estão entre os temas debatidos por eles, a relação entre as igrejas evangélicas e culturas periféricas, passando pela influência das mulheres no pagodão baiano; como é o trabalho de um produtor musical no bregafunk; a música eletrônica nas periferias do Brasil; o Passinho dos Malokas; a perseguição às culturas periféricas e a prisão de Rennan da Penha, entre outros.
O Embrazado conta com uma equipe de quatro pesquisadores: GG Albuquerque, fundador e redator, jornalista e doutorando em Estéticas e Culturas da Imagem e do Som (UFPE); Igor Marques, fundador e redator, comunicador visual (ETEPAM) e graduando em Ciências Sociais (UFPE); Rodrigo Édipo, editor, doutorando em Cultura e Cognição (UFPE) e membro da rede de pesquisadores INCITI/UFPE; Igor Jatobá, produtor executivo, jornalista e advogado que atua desde 2007 na elaboração e gestão de projetos culturais.
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