Que nem o herói Durango Kid

Publicado em 04/10/2020 às 2:00
MIGUEL
curtigrossu - FOTO: MIGUEL
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Depois de um dia de labuta, em home ofício, desço pro bar da esquina, pra relaxar. Uns dois chopes são obrigatoriamente necessários, senão neguinho pira. Esclarecendo, o "neguinho" a que me refiro sou eu mesmo. Prefiro negro a pardo, que pardo não é cor de pele de gente. No mais, eu só sou branco pra polícia.

Retomando o assunto, depois de ter sido tão rudemente interrompido por mim mesmo. Desço, e levo um esporro de um rapaz meio despranaviado, morador de uma favela aqui perto. Me lembra um personagem do filme Faça a Coisa Certa, de Spike Lee. Um que tava sempre com um som enorme num ombro, escutando rap. Chamavam o cara de Rádio. Esse, do esporro, é o tempo todo de fones, conectados num celular. Não sei como o chamam, nem o que escuta.

O esporro coberto de razão, porque eu ia saindo à rua sem máscara. Deu um branco, na pressa, esqueci, porque tenho máscaras dependuradas em vários lugares do apartamento. Já fazem parte da decoração.

Danado é que, se insinuassem, em janeiro deste ano, que eu logo estaria usando máscaras, ou que teria uma coleção delas, iria achar que a pessoa tinha fumado maconha estragada. Nem no carnaval jamais fui de botar máscara. Se máscara já usei, foi quando pirralho, brincando de faroeste. O pessoal usava um lenço cobrindo nariz e boca, feito Durango Kid, um dos heróis mais tampas do velho Oeste. A gente não pegou os seriados dele, escutou dos mais velhos. Durango Kid era o mocinho modelo. O pessoal que curte Sérgio Sampaio sabe que Durango Kid tá em Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua.

Eis-me, pois, cá num bar. Mascarado, e meio envergonhado de minha máscara simples, um tanto derrubada, branca, sem uns desenhinhos que a façam também decorativa, não apenas uma obrigação sanitária. Vejo por onde vou máscaras de todos os tipos. Algumas elegantes, algumas esculhambadas, outras explicitando a ideologia, opção sexual, ou time do usuário. Já deve ter máscaras de grife tamporosa, que se compram parceladas no cartão. Quem diria, eu, não apenas usando máscara, mas, ainda por cima, invejando máscaras alheias. Tá vendo tu?

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