ARTES VISUAIS

Exposição promove diálogo entre as obras de Bruno Faria e Lorenzato

'Horizontes', que ganha exibição virtual e presencial, reúne trabalhos do pernambucano e do mineiro

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 20/10/2020 às 15:30
YURE TARONE/DIVULGAÇÃO
CONTEMPORÂNEO Natural do Recife, Bruno Faria reside em Minas - FOTO: YURE TARONE/DIVULGAÇÃO
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O recifense Bruno Faria estava morando em Belo Horizonte, em 2009, quando teve contato pela primeira vez com a obra de Amadeu Luciano Lorenzato (1900-1995). As formas como o artista mineiro trabalhava a paisagem logo chamaram a atenção do pernambucano, que passou a tê-lo como uma de suas referências. Agora, suas poéticas são colocadas em diálogo direto na exposição Horizontes, que é aberta nesta quarta-feira (21), virtualmente, através do site da Galeria Marília Razuk (SP), e presencialmente.

O fascínio de Bruno pela obra de Lorenzato reflete, também, uma redescoberta do pintor mineiro, que por muitas décadas foi considerado naif, e cujo trabalho tem ganhado novas leituras nos últimos anos. Em suas pinturas, ele utilizava cores essenciais, muitas vezes manipulando a tinta com um pente de metal, técnica mais comumente empregada na ornamentação de pintura de parede.

"O trabalho de Lorenzato me pareceu instigante desde a primeira vez. A forma como ele retrata a paisagem, a cidade e suas relações, me interessa bastante. Há uma questão memorialística que aproxima muito nossos trabalhos, uma observação da ação do tempo sobre o espaço, sobre as pessoas e sobre as próprias obras", explica Bruno.

Como pontua o artista recifense, a ligação entre essas poéticas se dá de forma mais conceitual do que literal. Contemporâneo, Bruno Faria desenvolve desde 2016 a série Lembranças de Paisagem, na qual garimpa em feiras de antiguidade flâmulas produzidas nas décadas de 1960 e 1970 que retratam imagens de paisagens brasileiras. Esses souvernirs ganham intervenções do artista por meio da pintura, perdendo os textos que as acompanham, o que acaba por destacar os cartões-postais de cada cidade.

Alguns desses trabalhos do pernambucano, que retratam paisagens de Minas Gerais, estarão dispostos ao lado de obras de Lorenzato, ressaltando as aproximações entre os discursos de ambos em relação ao espaço coletivo e à memória. Outros conjuntos de flâmulas também ganharão as paredes da galeria, criando um complexo mosaico dos símbolos que ajudam a moldar a identidade de várias cidades brasileiras, como Recife, Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro.

YURE TARONE/DIVULGAÇÃO
OBRA Bruno Faria cria intervenções em cima de flâmulas dos anos 60/70 - YURE TARONE/DIVULGAÇÃO

"Meu trabalho de garimpo destas flâmulas, que geralmente encontro em feiras de objetos usados, me aproximou de uma ideia de memória e temporalidade que afeta muito meu trabalho. Esses objetos foram criados por designers ou artistas geralmente desconhecidos, têm um caráter afetuoso e memorialístico, já que tinham finalidade de servirem de presentes, e carregam em si as marcas de seu tempo. As manchas e os desgastes das peças, por exemplo, não são um problema para mim. Pelo contrário, são partes fundamentais do trabalho pois revelam sobre a própria natureza daqueles objetos", reflete Bruno.

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