O desejo de conhecer a Europa é o sonho de muitos. Quando falamos de artistas, a oportunidade de fazer uma tour nesse continente tão cobiçado, pode soar até como uma utopia, algo distante de se realizar. Mas não era para o Coco de Seu Mané e o Forró de Rabeca Os Tabajaras. Estava tudo certo para eles embarcar para a França, até que o novo coronavírus dominou as fronteiras e impediu a tão esperada viagem. Impossibilitados de cruzar o oceano, partiram para o formato virtual e iniciam hoje (24), nos canais do Youtube do Terno da Mata e Mestre Ulisses, as lives da I Mostra de Coco e Forró de Rabeca - Pernambuco na França.
Na programação serão apresentados ainda depoimentos de artistas de Pernambuco e da França. Entre as atrações do projeto, Coco de Seu Mané, Forró de Rabeca Os Tabajaras, Coco do Mestre Juarez, Coco da Mata, Ciranda Terno da Mata e Mestre Arruda.
A pandemia atrapalhou em parte, mas o ganho foi tão intenso quanto. O que seriam apresentações em locais de destaque da cena cultural francesa, acabou se tornando uma rede de apoio de artistas pernambucanos que ganhou força e ainda mais repercussão Brasil a fora. Assim, além da exibição em instituições francesas, países como Inglaterra, Itália e Portugal farão parte do projeto, que conta com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo Cultural (Funcultura), Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e Secretaria de Cultura de Pernambuco.
A mostra é uma realização do Terra da Mata Produções, que trabalha com o fomento da cultura popular de Pernambuco e traz ciranda, frevo, dança e hip-hop, além do coco e do forró. "Toda a programação da Mostra foi pensada para conectar a ancestralidade e tradições culturais pernambucanas à musicalidade da rabeca, instrumento que ainda ecoa no imaginário musical europeu desde a era medieval", conta o produtor cultural Sergio Melo, que idealizou o projeto e gere a Terra da Mata em parceria com Karen Albuquerque.
O evento será comandado por dois grupos olindenses, liderados por quem nasceu lá e entende bem do popular. Mestre Ulisses, um dos 14 filhos de Manoel João e Dona Nega, cresceu cercado de cultura. Seu pai era cantador de coco e forró, bem como parte de seus tios e tias. O nome do grupo Coco de Seu Mané, que atua desde 2006, é uma homenagem ao genitor, já falecido. Já o Forró de Rabeca Os Tabajaras faz jus ao bairro que atualmente habita, Cidade Tabajara, na periferia de Olinda. Ambos, apesar de terem conceitos diferentes, dividem a mesma formação, que se aproxima dos seis anos de parceria.
Sérgio é enfático ao revelar os motivos que o levaram a escolha dos grupos de Ulisses para representar o estado. "Ele sintetiza bem o que é a cultura do coco e do forró aqui da região. São grupos que têm uma qualidade sonora e representativa dentro do cenário pernambucano", começa. Além, claro, dos fatores logísticos, afinal, a ideia inicial era levá-los para a Europa, e os poucos instrumentos e integrantes ajudariam nesse quesito. No coco de roda, o próprio Mestre Ulisses fica com o pandeiro; Bolinho com a percussão; Rinaldo de Aquino toca o bombo; e Emerson Dias é responsável pelo ganzá. Já na versão forró do quarteto, a rabeca é de Ulisses; a zabumba de Bolinho; o pandeiro e o agogô são de Rinaldo; o violão de Lucas Átila e o triângulo de Emerson.
Hoje, o Coco de Seu Mané soma três álbuns, tendo o último sido lançado em setembro. Com o nome em referência a modalidade de coco que seus tios e pai cantavam, o Coco Voltado já está disponível nas plataformas digitais e conta com 14 músicas, a maioria de autoria do Mestre Ulisses.
Apesar de estarem tristes por não poderem viajar e trocar calor com o público, as expectativas do quarteto e da comunidade para as lives são grandes. "Vivemos numa batalha grande para conseguir e apresentar shows. Ficamos felizes, apesar de alguns já terem experiência com trabalhos internacionais. Eu com a capoeira, Emerson com a dança e Rinaldo com a percussão", diz Ulisses.
As apresentações serão realizadas no Centro de Capoeira Lua de São Jorge, em Olinda, local onde foi montada toda uma estrutura com cenografia, quatro câmeras, mesa de cortes e equipamento de transmissão.
Mestre Ulisses, que também realiza trabalho social, espera ser inspiração para as crianças que assiste com seu projeto. "As crianças já nos olham com outro olhar, com ânsia de estar participando dos trabalhos e aulas que fazemos. Fora que ajuda muito na educação deles, que estão acompanhando todos nós", comemora.
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