Masayoshi Matsumoto, conhecido como seu Yoshi, faleceu na madrugada desta terça-feira (27), no Hospital da Unimed, no Recife, aos 74 anos. Um dos nomes seminais da gastronomia japonesa em Pernambuco, ele comandava há 25 anos o Sushi Yoshi, em Boa Viagem, e era considerado uma referência nacional.
Conhecido pela atenção aos detalhes, pelos cortes precisos e a excelência de sua gastronomia, Mestre Yoshi ajudou a popularizar a cozinha do país de seus antepassados, adaptando-a, ao mesmo tempo em que mantinha suas tradições. Para o jornalista e crítico de gastronomia Bruno Albertim, sua atuação foi fundamental para a disseminação e assimilação dos códigos da comida nipônica no Nordeste.
"Sua precisão era de mestre e, apesar de ser um chef que manteve o respeito às bases milenares da cozinha japonesa, buscou incorporar elementos locais, o que demonstrava sua paixão e obstinação em manter e expandir essa cozinha a partir do diálogo. Era o maior sushiman do Recife, ao lado de seu sobrinho, André Saburó. Além disso, era uma pessoa extremamente amorosa e afável", lembra.
A opinião é compatilhada pela jornalista Vanessa Lins, responsável pelo perfil gastronômico Quinto Pecado, no Instagram.
"Yoshi provou por anos que as culturas podem ser amistosas umas com as outras, que é possível amar duas pátrias com o mesmo fervor. Além de ter sido exímio sushiman, Yoshi era generosidade pura - com tudo e com todos. Sem ele, a cultura nipônica não teria a força, e a descontração, que tem no Recife. Yoshi era o ícone ideal: o que não tinha vaidade. Ficamos órfãos do japonês mais pernambucano que conheci. Seu legado fica para que possamos respeitar e nunca esquecer da sua importância", afirma.
A generosidade do chef com seus clientes e com os colegas de profissão é amplamente enfatizada. Jeff Colas se recorda dos vários almoços e jantares que compartilhou com mestre Yoshi e ressalta sua importância para a gastronomia pernambucana.
"Além de um grande sushiman, era uma figura tremendamente simpática, humana. Nossas conversas, tanto no meu restaurante quanto no dele, estarão sempre comigo", enfatiza.
Rivandro França, do Cozinhando Escondidinho e apresentador do Sabor da Gente, reforça ainda o estímulo que o sushiman sempre deu aos iniciantes, compartilhando com eles seu amor pela gastronomia.
"Ele era um homem de sorriso fácil e que, apesar dos anos de experiência, respeitava os mais novos. Me lembro que quando ele falava que me admirava, eu sempre me arrepiava. Yoshi era o tipo de pessoa que ensina pelo exemplo e tinha uma paixão enorme pelo que fazia", pontua.
O chef chama atenção, também, para a sintonia do mestre para as mudanças dos tempos. Sempre antenado às novidades, marcava presença nas redes sociais, onde acompanhava as postagens de seus colegas e amigos, sempre dando palavras de incentivo.
"Se você observasse ele trabalhando, parecia que era a primeira vez que ele estava na cozinha, tamanho seu cuidado e empolgação. Ele ensinava que era importante ter amor pela profissão, pelos ingredientes, pelos instrumentos, pelo processo. Seu Yoshi se foi, mas seus ensinamentos permanecem", completa.
Antes mesmo de qualquer aluno começasse a manipular os alimentos, seja o peixe fresco ou o gohan (o arroz) para fazer seus primeiros sushis, makis ou sashimis, Yoshi exigia que se aprendesse a fazer o fio certo da faca, que poderia ser desde uma peixeira simples ou uma Yanagiba-bocho. O sobrinho André Saburó relembrou, certa vez, que ficou com os dedos em carne-viva, quase sangrando, durante as lições de aprendiz com o tio e mestre Yoshi.
“Com ele, aprendi todas a técnicas de cortes de peixes e o fundamental, como amolar corretamente as facas”, relembrou Saburó, cuja técnica e cultura gastronômica se igualam a do mestre, que há seis anos assumiu a área burocrática do Sushi Yoshi para que seu tio pudesse cuidar integralmente da cozinha e da formação de profissionais
O legado de Masayoshi Matsumoto também foi celebrado pela Secretaria Estadual de Cultura/Fundarpe, que enfatizou sua atuação como Conselheiro Estadual de Cultura por duas vezes. Em nota, a Secult pontuou que ele foi um dos pioneiros na discussão de políticas públicas para o setor de gastronomia.
"A atenção aos detalhes e a visão sempre abrangente da importância da gastronomia para o processo de construção de uma sociedade mais diversa e rica culturalmente ficarão marcadas na memória de quem teve oportunidade de conviver com Mestre Yoshi. Que sua trajetória seja eternamente lembrada e também valorizada! Aos familiares, nossas sinceras condolências pela perda", diz a nota.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também lamentou a morte de Yoshi. "Reforçamos nosso consternamento e admiração por Seu Yoshi, uma grande referência para o Brasil e, principalmente, para os proprietários de bares e restaurantes de Pernambuco. Uma pessoa amiga e solidária que ajudou o setor, em diversas ocasiões, a superar momentos de dificuldades", afirmou o presidente da Abrasel, André Araújo.
História
A família Matusmoto deixou Sasebo (distrito de Nagasaki, Japão) com destino ao Brasil, deixando o porto de Kobe em dezembro de 1959. Mashayoshi era o caçula dos cinco filhos do casal Kintaro e Sugi Matsumoto, que desembarcaram em fevereiro de 1960 no Porto de Santos e fixaram residência em Cambará no Paraná. Yoshi tinha à época 12 anos de idade. Oito anos depois, a família já residia no Recife. Sigeru, seis anos mais velho que Yoshi, viu que na capital pernambucana não havia muitas pastelarias e resolveu investir no negócio.. Ele vendia os "pastéis japoneses" no centro da cidade, enquanto que Yoshi fazia seu comércio na praia de Boa Viagem.
Anos depois, eles marcariam os hábitos de comida fora do lar com o Tóquio Lanches, pastelaria montada em um ponto alugado na Rua Sete de Setembro, bem no coração comercial do Recife, que ficou famosa também pelos seus espaguetes ao molho de tomate e ovo e principalmente com o bordão: "Caixinha, obrigado".
Outro estabelecimento dos irmãos que marcou época foi o Le Buffet, na Rua do Hospício. Sigeru, que havia assumido o nome brasileiro de Julio, havia voltado de um curso de culinária japonesa em São Paulo ousou em servir as iguarias de sua terra natal, difundindo não apenas o sabor como também os seus benefícios.
Em 1986, seu Julio 1986, inaugurou a Taberna Japonesa Quina do Futuro, nos Aflitos. Já Yoshi abriu seu próprio negócio em 1995, se tornando referência em Boa Viagem.
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