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Lan, o mais carioca dos italianos, morre aos 95 anos

Chargista e escultor, Lan chegou ao Brasil aos quatro anos e foi um dos mais influentes desenhistas da imprensa do país

José Teles
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José Teles
Publicado em 05/11/2020 às 12:07
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TEMA Mulheres do Rio eram frequentes no trabalho de Lan, que quase sempre se fazia presente nos desenhos - FOTO: REPRODUÇÃO
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O desenhista, caricaturista, ilustrador Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini sabiamente reduziu nomes e sobrenome ao mínimo: Lan. Três letras que estiveram presentes na imprensa brasileira, e também francesa, uruguaia, e argentina, durante mais de 70 anos. Lan nasceu na Toscana, Itália, em 18 de fevereiro de 1925, e faleceu na manhã desta quinta-feira, 5 de novembro, de 2020, aos 95 anos, em consequência de pneumonia, estava internado há dois meses no Hospital da Beneficência Portuguesa, em Petrópolis (RJ). A morte foi confirmada pelo desenhista Chico Caruso, um dos muitos caricaturistas que entraram na grande imprensa levados por Lan (no caso de Chico, no JB).
Ele veio para o Brasil aos quatro anos, com a família. O pai era músico e foi convidado para tocar na orquestra sinfônica de São Paulo. Aos 20 anos estava trabalhando na imprensa Uruguai como caricaturista, de lá foi para Bueno Aires, onde se tornou rapidamente um dos nomes mais conhecidos do país, trabalhando para a editora Haynes, controlada pelos peronistas. Lan trabalhou na Argentina de 1948 a 1952. Reza a lenda que conheceu o também caricaturista brasileiro Otelo Caçador, especializado em futebol, quem teria convencido Lan a se mudar para o Brasil, ressaltando as belezas naturais, o futebol, o samba e, sobretudo, as mulatas. Lan ficaria conhecido pelos seus desenhos de mulatas curvilíneas, como se fizessem parte da paisagem sinuosa das montanhas que circundam o Rio.
Mas começou a desenhar mulheres, e foi incentivado a fazê-lo pela primeira dama argentina Eva Perón, que elogiou seus desenhos e sugeriu que fizesse mais mulheres (a especialidade de Lan até então era esportes). Se foi ou não por influência de Otelo Caçador, Lan chegou ao Rio em 1952, ajudou a fundar a revista Flan, em 1953, e um ano depois estaria na equipe que Samuel Weiner reuniu para o jornal Última Hora, para a qual foi admitido pela aprovação que teve uma caricatura que fez do jogador Baltazar (“O Cabecinha de Ouro”), do Corinthians.
Porém o desenho mais famoso que Lan criou no Última Hora foi uma sugestão de Samuel Weiner, uma caricatura para seu principal desafeto político, Carlos Lacerda: “Já estava de saída do jornal quando o Samuel mandou me chamar até o lugar que ficava à direção, e ele disse: Eu quero uma charge sua sobre esse sacana, no caso Carlos Lacerda é claro, ele soltou outro palavrão”. Lan pensou inicialmente num urubu, mas optou por um corvo “Porque é mais rápido e mais infeliz”. Explicou ele numa entrevista a Panorama Mercantil, revista de entrevistas online. Embora Lan considerasse o desenho ruim, feito às pressas, Carlos Lacerda, um dos líderes civis, do golpe de 1964, teve que levar pela vida o apelido de “O Corvo”.
MULATAS
Lan chegou ao Brasil na quarta-feira de cinzas. Mas num desfile da Império Serrano, em Niterói, conheceu nomes importantes da agremiação feito Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, mas se tornou torcedor da Portela e do Flamengo, e admirador das mulatas cariocas, tanto que foi casado com uma, por quase 60 anos, até o final da vida, Olívia, passista do Salgueiro, única sobrevivente do trio irmãs Marinho, celebridades do carnaval carioca. Uma delas, Mary, foi casada com o compositor Haroldo Costa. Lan desenhou no Jornal do Brasil durante 33 anos, fez escola e abriu caminho para uma geração brilhante de desenhistas, de Ziraldo a Henfil, foi também escultor, com exposições realizadas no Brasil e exterior. Lan era italiano de nascimento, mas poucos traduziram mais do que ele o jeito de ser da gente carioca.

 

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