CRÍTICA

'Sou Francês e Preto' pinta mosaico sobre diversidade de personalidades negras na França

Dirigido e protagonizado pelo comediante Jean-Pascal Zadi, o filme ganha uma exibição gratuita e virtual pelo Festival Varilux

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 20/11/2020 às 11:18 | Atualizado em 20/11/2020 às 11:23
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FALSO DOC Zadi tenta organizar a primeira marcha de homens negros - FOTO: DIVULGAÇÃO

O Festival Varilux de Cinema Francês realiza uma exibição especial do longa Sou Francês e Preto, que além de aportar nos cinemas participantes, também ganha uma exibição online nesta sexta-feira, para 300 pessoas. A exibição será seguida de um debate com prestigiados nomes do fazer e pensar cinema e negritude no Brasil, como os cineastas e autores Joel Zito Araújo, Clementino Jr, a pesquisadora Janaína Oliveira e do ator, roteirista e diretor Alberto Pereira Júnior. A exibição começa às 18h e o debate às 19h30, com inscrições feitas no site do festival.

O evento é realizado levando em conta o Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro. O longa é protagonizado e dirigido pelo comediante Jean-Pascal Zadi, em parceria com John Wax. Trata-se de um falso documentário que acompanha Zadi, interpretando a si mesmo, na luta para realizar o que seria a primeira marcha de homens negros em Paris. Para tal empreitada, ele precisa mobilizar a mídia e figuras negras de grande prestígio na França, em especial artistas. Mas sua jornada, sob signos do ridículo e do deboche, vai lhe mostrar o quão multifacetada é a coletividade negra no país e as tensões que ela carrega.

Zadi deixa muito clara sua intenção de compor um mosaico de retratos. Retratos que se esforçam em desconstruir a ideia de que a luta e as pessoas em torno da vivência negra não são uma massa homogênea. Há objetivos em comum, mas há também há meios, princípios e estratégias que se diferem, assim como tensões e contradições. Um discurso pode ser visto como efetivo para uma parte e problemático por outra. Um diretor negro pode não concordar com a representação que é realizada nos filmes de outro diretor negro, um comediante pode achar a piada de outro problemática e um rapper atacar os versos de outro.

 

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'SOU FRANCÊS E PRETO' GANHA SESSÃO ESPECIAL NO FESTIVAL VARILUX - DIVULGAÇÃO

Pascal busca ilustrar esse mosaico a partir de caricaturas, tipos, mesmo que não apele para o estridente, diferente de um Borat do Sacha Baron Cohen, que apresenta uma estrutura semelhante. Ele conta com personalidades reais para encarnar esses tipos, como o comediante Fary, que vive uma versão cancelada de si mesma após estrelar uma polêmica propaganda, o rapper Soprano, utilizando seu nome de batismo Said, além de referências ao astro Omar Sy com sua carreira que chega em Hollywood.

E dessas ambiguidades de real e ficção, seriedade e humor, é extraída uma outra camada de força narrativa que não permite o filme ficar apenas na dimensão do ilustrativo. Sim, há um interesse em um humor pedagógico que é sensível, mas que a direção consegue constantemente diluí-lo em situações dramáticas e cômicas bem construídas, a exemplo do momento em que árabes e judeus conversam com o protagonista para reivindicar seu espaço enquanto pessoas racializadas na luta e as tensões que pipocam nesse espaço.

Contudo, a condução do filme acaba sendo limitada por sua própria estrutura narrativa. Por mais diverso que seja seu mosaico, chega um momento em que o filme se perder entre estabelecer um caminhar dramático ou apenas trazer um amontoado de situações. As coisas funcionariam melhor se houvesse uma costura mais cuidadosa e orgânica ou se os eventos todos tivessem uma grande força cômica ou narrativa, o que não acontece.

Felizmente, os bons momentos realmente são bons e articulam tão sagazmente o discurso político dentro do discurso cômico, conseguindo tratar o absurdo e o caricato de uma forma natural. O tratamento direto da linguagem documental exige um esforço significativo para comportar o ridículo e o sério ao mesmo tempo, algo que inclusive que não está apenas na forma, mas como também é um dos temas discutidos em seu conteúdo. E Zadi com seu corpo e suas ideias dá muito bem conta disso.

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'SOU FRANCÊS E PRETO' GANHA SESSÃO ESPECIAL NO FESTIVAL VARILUX - FOTO:DIVULGAÇÃO

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