Francisco Brennand (1927-2019) fez da antiga fábrica de sua família uma extensão de seu singular universo artístico. O complexo localizado na Várzea, cercado por uma área de mata preservada, abrigou seu ateliê por quase cinco décadas e se firmou como um espaço de grande carga afetiva para os pernambucanos — e um dos principais destinos turísticos do Recife. Lançado como um instituto sem fins lucrativos desde setembro do ano passado e funcionando como tal desde fevereiro, a Oficina Cerâmica Brennand se prepara para um 2021 desafiador e com projetos ousados, entre eles uma grande mostra em homenagem ao cinquentenário do equipamento cultural.
Com a cineasta Marianna Brennand como presidente, Lucas Pessôa na Direção Geral e Júlia Rebouças, na Direção Artística, o espaço, que passou a maior parte do ano fechado para o público por conta da pandemia do novo coronavírus, nvestiu em sua estruturação interna para definir as diretrizes que iriam guiar suas ações daqui para a frente.
"O instituto nasceu em um momento crítico, de dificuldades profunda, desafios gigantescos em todas as esferas e, por isso, acho que ele tem o dever de assumir sua vocação pública e vem pautado nas questões de preservação ambiental, promoção da educação e enxergando a arte como instrumento de cidadania. Queremos trazer uma transformação para o entorno, contribuir com as artes plásticas e cultura em Pernambuco", explicou Marianna.
Entre as ações de organização interna do espaço, foi concebida a nova governança com um conselho que reúne profissionais de diferentes gerações, saberes e regiões, como Frances Reynolds, mecenas e fundadora do Instituto Inclusartiz; Lilia Schwarcz, historiadora, antropóloga e global scholar da Universidade de Princeton; Keyna Eleison, diretora artística do MAM, representantes do Grupo Cornélio Brennand, mantenedor da Oficina, entre outros.
Neste novo momento, a Oficina pautará suas ações a partir de três eixos curatoriais: Natureza, Território e Cosmologias. A ideia é que essas chaves temáticas norteiem projetos que dialoguem com a obra de Brennand, ao mesmo tempo em que expandem a proposta do espaço, entendendo-o como um ponto de convergências das artes no Recife com capacidade de criar canais de diálogo entre o local, o nacional e o internacional.
"A Cosmologia são as referências já presentes na obra de Brennand, que é a nossa coleção, Quais são as evocações e camadas de pensamento que ela provoca. O segundo eixo, da Natureza, tem importância tanto no que diz respeito à inserção da Oficina na Mata da Várzea, quanto no pensamento dele de preservação do meio ambiente, que era um ecologista quando nem se usava o termo. Com Território, entendemos a Oficina não como um espaço museológico com feições antigas, só de contemplação, mas como uma instituição que é ativada e atua como espaço de desenvolvimento social e econômico da comunidade. É para além da territorialidade espacial", explica Lucas Pessôa.
PROJETOS
Em 2021, quando se completam 50 anos desde o estabelecimento do espaço como Oficina, o instituto planeja uma exposição retrospectiva da obra de Francisco Brennand. Para além do acervo já presente no local, a ideia é reunir obras raras pertencentes a diferentes coleções particulares. O projeto deve vir acompanhado do lançamento de um catálogo sobre o equipamento cultural, assinado por Paulo Herkenhoff.
Outro projeto do instituto é lançar, ainda no primeiro semestre, um programa de residências artísticas para incentivar a produção local, além de promover encontros fomento ao pensamento crítico, como já tem sido feito na Plataforma Crítica, capitaneada por Júlia Rebouças e Catarina Duncan.
Em setembro, o local deve sediar uma mostra coletiva com trabalhos de artistas mulheres e, em dezembro, receber a escultura de Spider (Aranha), da francesa Louise Bourgeois, com patrocínio do Itaú. A obra monumental tem cinco metros de largura e três de altura.
A perspectiva é de que, também no segundo semestre, haja uma exposição inédita do carioca Ernesto Neto, que deve trabalhar pela primeira vez com cerâmica, dialogando com a história da Oficina. Suas produções são conhecidas por trabalharem com tecidos e materiais mais maleáveis.
Comentários