As propriedades medicinais das plantas são exploradas pela humanidade desde os primórdios e o conhecimento em torno do assunto atravessa gerações, carregando consigo práticas que permeiam diferentes culturas. Esse olhar etnobotânico — que estuda a relação da sociedade com as plantas —, foi a força motriz de uma pesquisa conduzida pelas artistas visuais e designers Maria Eduarda Belém e Sofia Lobo, cujo resultado deu origem à exposição Plantas Mágicas de Pernambuco, que é aberta dia 14 de janeiro, às 19h, no Cais do Sertão.
Uma interseção entre artes visuais e design, o projeto, que tem apoio do Funcultura, é composto por doze padrões de estampas criadas pela dupla a partir de um mergulho no estudo de plantas encontradas na flora pernambucana. Para tanto, Maria Eduarda e Sofia se basearam tanto em estudos teóricos, como os do pesquisador Ulysses Paulino de Albuquerque, professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco, quanto na sabedoria popular.
"Fomos em vários mercados, em feiras, conversamos com vendedores, conversamos com Celerino Carriconde, sumidade na medicina natural em Pernambuco, amigos, com o pessoal do Cesam (Centro de Saúde Alternativa de Muribeca), que trabalha com fitoterápicos, e nisso a gente foi montando um repertório. A gente resolveu também viajar para o interior e, por conselho de Ulysses (Paulino de Albuquerque, que se tornou consultor oficial do projeto), fomos para uma comunidade perto de Altinho chamada Vila do Carão, que tem preservado vários costumes, desde a pessoa que faz o lambedor até a rezadeira centenária", explicou Maria Eduarda.
O roteiro pelo interior incluiu ainda a Serra do Orurubá, em Pesqueira, os distritos de Carneiro e o Vale do Catimbau, em Buíque. Na jornada, trocaram informações com pessoas de diferentes culturas, como os índios xucurus, e estabeleceram as diretrizes conceituais e afetivas do projeto.
As estampas foram criadas de forma híbrida: primeiro em um processo manual, com a confeccção de pequenas gravuras. posteriormente digitalizadas, momento em que foram confeccionadas as composições e trabalhadas as cores. Os desenhos fazem alusão às platantas e aos seus usos e lugares no imaginário popular, seja para fins medicinais ou espirituais. Assim, as criações levam nomes dos vegetais, como baba-de-jiboia, jurema, mulugu, sargaço, e modos modos de preparo, a exemplo de defumador, lambedor e abre-caminhos.
VESTIR A PLANTA
Para apresentar as estampas, Maria Eduarda e Sofia optaram por utilizar vinte túnicas, uma alusão à função prática do design, no caso o vestir, quanto às evocações ritualísticas que a indumentária pode sugerir. Para expor as peças, a dupla convidou o artesão Mestre Abias, de Igarassu, para montar a estrutura de suporte, feitas em madeira e com formas que evocam folhas e outros elementos da natureza.
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"Todas as túnicas ganharam uma unidade no final, conversam entre si, mas trabalhamos [em um processo colaborativo] com uma intervindo em cima da ideia da outra. Virou uma coisa única, que não tem nem só a minha cara, nem só a de Maria Eduarda", pontua Sofia sobre o processo criativo. "Além dos desenhos, trabalhamos com cores e texturas — com algumas coisas aqualeradas, pintadas. Cada uma conta um pouquinho de cada história [que inspirou a estampa]."
Em paralelo à exposição, no próximo dia 27 as artistas promovem o lançamento do catálogo virtual da mostra, que será disponibilizado para download gratuito. Na ocasião, em uma live, Maria Eduarda e Sofia conversam com Ulysses Paulino de Albuquerque. Através do Instagram do projeto (@plantasmagicaspe), elas têm compartilhado imagens das referências do projeto e das pessoas que contribuíram com informações.
A visitação, gratuita, acontece às quintas e sextas, das 10h às 16h; e aos sábados e domingos, das 11h às 19h, até 23 de fevereiro. Informações: 3182-8268.
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