Bráulio Bessa, internado com covid-19, fez poema para vítimas da pandemia; "se números não tocam, espero que nomes consigam"
O artista, que agora foi contaminado pela doença, se comoveu com o sofrimento das vítimas do novo coronavírus e decidiu homenageá-las com poemas desde o ano passado
"Não há quem goste de ser número, gente merece existir em prosa. Se números frios não tocam a gente, espero que nomes consigam tocar", recitou o poeta cearense Bráulio Bessa, ainda no início da pandemia da covid-19. O artista, que agora foi contaminado pela doença, se comoveu com o sofrimento das vítimas do novo coronavírus e decidiu homenageá-las com poemas desde o ano passado.
>> Poeta Bráulio Bessa testa positivo para covid-19 e é internado em hospital de Fortaleza
Ouça o poema "Inumeráveis":
Durante o último ano, a pandemia é um assunto bastante recorrente não somente nos versos de Bráulio, que propagam fé e esperança, mas também em suas ações de solidariedade. O cordelista realizou uma live beneficente de arrecadação de alimentos para doar aos que tiveram situação financeira agravada por conta da pandemia. Agora, após apresentar baixa saturação de oxigênio no sangue, o artista precisou ser internado em um hospital em Fortaleza, no Ceará, e vem colhendo todo amor que plantou até aqui, recebendo muitas mensagens de carinho nas redes sociais.
"Estou torcendo por sua recuperação o mais breve possível", comentou uma internauta em uma publicação do poeta. "Deus te abençoe, proteja e cure! Você já nos enviou tanta esperança com poemas, agora nós enviamos energias boas para que você tenha uma excelente recuperação", disse outro fã.
Celebridades também enviaram mensagens de apoio ao artista. "Vai dar tudo certo! Estamos com você", garantiu a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes, que além de amiga, é colega de trabalho de Bessa. "Vai sair bem! Deus, olha por ele", pediu a atriz Isis Valverde. "Ele está em minhas orações", revelou a ex-BBB Juliette.
De acordo com comunicado oficial, divulgado nas redes sociais, o cearense testou positivo para a doença no último dia 17 de maio e, nessa terça-feira (25), precisou dar entrada na unidade de saúde, onde foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nessa quarta-feira (26), porém, o estado de saúde do cordelista melhorou e ele foi transferido para um leito comum. O quadro clínico é considerado "estável", segundo o comunicado.
Leia o poema Inumeráveis na íntegra
Inumeráveis
Autor: Bráulio Bessa
André Cavalcante era professor
amigo de todos e pai do Pedrinho.
O Bruno Campelo seguiu seu caminho
Tornou-se enfermeiro por puro amor.
Já Carlos Antônio, era cobrador
Estava ansioso pra se aposentar.
A Diva Thereza amava tocar
Seu belo piano de forma eloquente
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Elaine Cristina, grande paratleta
fez três faculdades e ganhou medalhas
Felipe Pedrosa vencia as batalhas
Dirigindo Uber em busca da meta.
Gastão Dias Junior, pessoa discreta
na pediatria escolheu se doar
Horácia Coutinho e seu dom de cuidar
De cada amigo e de cada parente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Iramar Carneiro, herói da estrada
foi caminhoneiro, ajudou o Brasil.
Joana Maria, bisavó gentil. E Katia Cilene uma mãe dedicada.
Lenita Maria, era muito animada
baiana de escola de samba a sambar
Margarida Veras amava ensinar
era professora bondosa e presente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Norberto Eugenio era jogador
piloto, artista, multifuncional.
Olinda Menezes amava o natal.
Pasqual Stefano dentista, pintor
Curtia cinema, mais um sonhador
Que na pandemia parou de sonhar.
A vó da Camily não vai lhe abracar
com Quitéria Melo não foi diferente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Raimundo dos Santos, um homem guerreiro
O senhor dos rios, dos peixes também
Salvador Jose, baiano do bem
Bebia cerveja e era roqueiro.
Terezinha Maia sorria ligeiro
cuidava das plantas, cuidava do lar
Vanessa dos Santos era luz solar
mulher colorida e irreverente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Wilma Bassetti vó especial
pra netos e filhos fazia banquete.
Yvonne Martins fazia um sorvete
Das mangas tiradas do pe no quintal
Zulmira de Sousa, esposa leal
falava com Deus, vivia a rezar.
O X da questão talvez seja amar
por isso não seja tão indiferente
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Sobre Bráulio
Bráulio Bessa, 35, nasceu em Alto Santo, no interior do Ceará. Aos 14 anos, começou a escrever poesia popular, inspirado no seu principal ídolo, o poeta Patativa do Assaré. Lançou a página Nação Nordestina no Facebook aos 27 anos, quando começou a repercutir na web e chamou a atenção de produtores de TV. Em 2015, foi convidado para participar do programa Encontro com Fátima Bernardes, onde declamou seus poemas.
O público gostou tanto de Bráulio que sua simples participação como convidado acabou se tornando em um quadro fixo do programa, no qual o poeta foi contratado e trabalha até hoje. Além disso, Bessa tem quatro livros publicados e é um sucesso nas redes sociais.
Casado há 9 anos, o cordelista também é exemplo de solidariedade. Ano passado, em meados de agosto, decidiu, junto com a esposa, transformar a casa do casal, localizada em Alto Santo (CE), na Casa de Cultura Beleza Interior, um centro cultural para crianças carentes, com coral, orquestra, grupo de violão e banda de pífanos.
Outros dois poemas do artista
Recomece (Trecho)
Autor: Bráulio Bessa
Quando a vida bater forte
e sua alma sangrar,
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar...
É hora do recomeço.
Recomece a lutar.
Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar...
É hora do recomeço.
Recomece a acreditar.
Quando a estrada for longa
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar...
É hora do recomeço.
Recomece a caminhar.
Sonhar (Trecho)
Autor: Bráulio Bessa
Sonhar é verbo, é seguir,
é pensar, é inspirar,
é fazer força, insistir,
é lutar, é transpirar.
São mil verbos que vêm antes
do verbo realizar.
Sonhar é ser sempre meio,
é ser meio indeciso,
meio chato, meio bobo,
é ser meio improviso,
meio certo, meio errado,
é ter só meio juízo.
Sonhar é ser meio doido
é ser meio trapaceiro,
trapaceando o real
pra ser meio verdadeiro.
Na vida, bom é ser meio,
não tem graça ser inteiro.
O inteiro é o completo,
não carece acrescentar,
é sem graça, é insosso,
é não ter por que lutar.
Quem é meio é quase inteiro
e o quase nos faz sonhar.