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'O Hóspede Americano' resgata história real envolvendo o marechal Rondon e presidente americano

Minissérie dirigida por Bruno Barreto mostra que o passado ainda reverbera no presente

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 26/09/2021 às 10:27 | Atualizado em 26/09/2021 às 10:29
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O Brasil tem uma relação conturbada com sua história, em um constante processo de apagamento de sua memória e dos personagens que ajudaram a construir o que hoje se entende como um país. Entre as figuras cujas ações impactaram a historiografia nacional está o militar Cândido Rondon. Uma parte de sua trajetória é agora resgatada pela ficção na minissérie O Hóspede Americano, que estreia neste domingo, 26 de setembro, na HBO Max e na HBO.

Criada e dirigida por por Bruno Barreto (Última Parada 174, O Que É Isso, Companheiro?), a obra é inspirada em uma história real, ocorrida no início do século 20, quando o ex-presidente dos EUA Theodore Roosevelt (interpretado por Aidan Quinn) empreende uma expedição pela região amazônica e, para isso, conta com a ajuda de Rondon, vivido por Chico Diaz. O marechal era um exímio conhecedor da região e era descendente de europeus com indígenas.

Roosevelt decide se aventurar na região após perder a campanha presidencial. Ele viaja ao lado do amigo Farrel Nash (David Herman) e do filho Kermit (Chris Mason). O objetivo era explorar o último rio não cartografado do país: o Rio da Dúvida, na região onde atualmente está localizado o estado de Rondônia (que tem esse nome em homenagem ao marechal Rondon).

Para além das dificuldades e perigos impostos pela natureza, o grupo precisa lidar com as próprias dualidades de suas convicções, que são confrontadas com as diferentes visões de mundo que se encontram: a dos estadunidenses, a de Rondon, membro do exército e, ao mesmo tempo, um defensor da causa indígena, e a dos povos originários que habitam as terras ainda pouco exploradas pelos invasores (americanos ou brasileiros).

Para Chico Diaz, viver Cândido Rondon foi uma oportunidade de mergulhar na construção de um personagem instigante e contraditório. Ele acredita que a obra ajuda, também, a quebrar estereótipos em relação às representações daqueles que são considerados heróis nacionais.

"Rondon, por ser descendente de índios, teve essa visão pacifista, mas ele era do exército, lembremos bem. Do exército consciente, científico. Era uma pessoa muito interessante, também era patrono das comunicações. Foi uma pessoa que foi expandindo as fronteiras não só geográficas e físicas, mas também a integração do povo brasileiro que não era visto como tal até então. Acho um personagem fascinante. Acho que merece um filme só para ele", pontuou o ator.

Para se preparar para o papel, ele leu biografias e também teve acesso a filmes feitos por Rondon, que estavam armazenados na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e se perderam no incêndio sofrido pelo espaço em julho deste ano.

"Chego a me emocionar com a perda desse material. Os tempos são cruéis, mas acho que a gente tem que efetivar o resgate da memória e o culto aos nossos fundadores enquanto civilização", disse. "Nós estamos negando o óbvio: a proteção das futuras gerações, a educação, o alimento do imaginário de país, uma autoestima, uma identidade de país. Acabaram com o cinema, o teatro, a música. A nossa identidade está sendo atacada de uma forma perversa e planejada. Estou muito preocupado, acuado, mas acho que temos muito talento, somos um povo de muita fibra, como Rondon mostrou ter fibra, inteligência e visão. Somos um povo basicamente humanista, acho que mais cedo ou mais tarde vamos estar desaguando nas nossas alegrias."

Perspectiva

O projeto de O Hóspede Americano era, a princípio, um filme. Bruno Barreto, no entanto, disse que quando lhe foi apresentada a possibilidade de fazer uma minissérie em quatro capítulos, sentiu que poderia explorar mais zonas dessa história e dos personagens envolvidos no roteiro criado por Matthew Chapman.

Para o diretor, o que mais o interessava nestes personagens era a zona cinzenta de suas personalidades. Para ele, são figuras cujas ações não podem ser divididas só entre boas e ruins e que carregam as contradições de seu tempo.

"Eu queria muito contar essa história porque achei que Theodore Roosevelt era um personagem maravilhoso e, claro, Rondon também. Mas a história é contada pelo ponto de vista de Roosevelt porque ele é o peixe fora d'água ao ir para a Amazônia com seu filho. Também acho que ele incorpora algo que é muito raro hoje em dia, que é complexidade. Nesse momento de polarização, esquerda e direita, bom e mau, tudo tão simplificado, acho que ele é um sopro de ar fresco", disse em entrevista coletiva.

Para o projeto, além dos protagonistas, Barreto reuniu no elenco Dana Delany, Trevor Eve, Theodoro Cochrane, Gene Jones, Jeff Pope, Nick Westrate, Maya Kazan, Cláudio Jaborandy, Arilson Lucas, João Côrtes, Michel Gomes, Arieta Corrêa e Luisa Rosa.

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