Descendentes de Dom Pedro 2º repudiam Globo por ‘ataques contra a honra’ do imperador
Seis membros da família Orleans e Bragança assinaram nota que acusa emissora de "desconstrução dos padrões tradicionais, da promoção da extravagância, da amoralidade e da cultura do caos"
Os descendentes de Dom Pedro 2º estão incomodados com a forma como a TV Globo vem apresentando o monarca na novela "Nos Tempos do Imperador", exibida no horário das 18h com texto de Alessandro Marson e Thereza Falcão e direção artística de Vinícius Coimbra. O protagonista é vivido por Selton Mello. Em nota publicada no perfil oficial do Secretariado da Casa Imperial do Brasil, eles falam de "ataques" da emissora "contra a honra do Imperador Dom Pedro II". Assinam seis membros da família, incluindo Dom Luiz de Orleans e Bragança.
Eles mencionam que o imperador foi um "senhor de costumes privados sabidamente ilibados, foi também um pai de família modelar, coluna do lar, protetor suave e varonil dos seus" e que "a Globo vem promovendo sistematicamente, nas últimas décadas, uma verdadeira revolução cultural, caracterizada pela desconstrução dos padrões tradicionais, a promoção da extravagância, da amoralidade e da cultura do caos, e denegrindo sistematicamente a nossa Nação."
"Não surpreende, pois, a novela estar registrando índices de audiência fraquíssimos, para a grande consternação da emissora, conforme tem sido noticiado na imprensa", continua. Embora não cite quais as cenas causaram tanto aborrecimento, a nota vem um dia após o portal "Notícias da TV" afirmar que, em 3 de novembro, um texto da novela fará menção menção à palavra "rachadinha". Um dos membros da família, Luiz Philippe O. Bragança, é deputado federal pelo PSL.
De acordo com o site, o personagem Batista (Ernani Moraes) elogiará Tonico (Alexandre Nero) por inventar um esquema de corrupção, o mesmo que tornou Flávio Bolsonaro investigado pela Justiça. "Essa rachadinha ainda vai virar moda no Brasil", dirá o barão.
Em outra cena, exibida em agosto, Lota (Paula Cohen) exigiu que Tonico arranjasse o cargo de Embaixador dos Estados Unidos para Bernadinho (Gabriela Fuentes) em troca de ajudá-lo a se entender com Dolores (Daphne Bozaski), uma provável menção a Eduardo Bolsonaro. O presidente cogitou a hipótese de colocar o filho no mesmo cargo, o que não ocorreu.
Vale ressaltar que a Globo foi proibida em setembro de 2020 de mostrar documentos ou peças relacionadas às investigações sobre supostas "rachadinhas" na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). A justificativa foi que o processo corria em segredo de Justiça.
O argumento da TV Globo para a novela é trazer uma "mensagem de responsabilidade com o país", como disse o próprio Vinícius Coimbra na época do lançamento. "Dom Pedro II tinha muito essa noção. Olhava para o Brasil e pensava o que poderia fazer para melhorar. Era muito bem formado, sabia o valor da ciência, da educação. Era um abolicionista, com um olhar para o Brasil muito responsável e interessante".
Contudo, a representação de Pedro 2º como uma figura cosmopolita, liberal e "moderna" tem causado estranhamentos na esquerda e na direita. Até a publicação dessa matéria, a TV Globo não se manifestou sobre a nota.
Acusação de racismo reverso
Em agosto, uma cena de "Nos Tempos do Imperador" foi criticada por sugerir a existência de racismo reverso - ou seja, de que pretos oprimem brancos por causa da cor. Racismo reverso é algo inexistente, uma vez que, para oprimir, é necessário deter o poder, e este sempre foi exercido pelos brancos sobre os pretos.
Na cena, o personagem Samuel, vivido pelo ator Michel Gomes, que é negro, diz o seguinte a Pilar, papel de Gabriela Medvedovski, que é branca: "Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como queremos ter os mesmos direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente?". Vários historiadores, jornalistas e influenciadores criticaram a cena.