Vinil em alta rotação no Recife: loja de CDs e LPs vai virar selo de discos
Mistura Pop se prepara para lançar vinis em 2022
Faz dez anos que os sócios Daniel de Moraes e Netto Arruda têm fornecido a fãs brasileiros de música pop produtos dos desejos. Primeiro, a Mistura Pop deles vendeu camisetas; há cinco anos, a especialidade tornou-se importar vinis, CDs e fitas cassetes de lançamentos de fora sem edição no Brasil — ou exemplares de tiragens exclusivas e limitadas, com autógrafo do artista, por exemplo. Esse trabalho de importação continua em 2022 junto com outro passo: a loja on-line vai se tornar um selo de lançamento de discos.
Já há dois vinis com o selo Mistura Pop na fábrica. São de artistas brasileiros independentes, ainda irreveláveis. O primeiro é um cantor com quem a marca se identifica, um artista nordestino e LGBTQIA+, como também são os sócios. O segundo projeto é um vinil duplo de uma banda de fora do Nordeste.
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Com artistas independentes, o selo de vinis vai expandir o alcance da Mistura Pop e chegar a um novo público. Daniel conta que há um compromisso de fazer ações com eles — "segurar na mão desse artista independente que a gente admira". Inclusive, o tratamento visual e a exclusividade no conteúdo que costumam ter os trabalhos do pop que eles importam será dado aos vinis que saírem pelo selo.
Os dois primeiros lançamentos saem, cada, com uma música inédita. As bolachas serão coloridas e os discos, autografados e numerados.
Os vinis estão sendo fabricados em Nashville, nos Estados Unidos. Mesmo com o dólar na cotação altíssima, e mesmo com as milhas de distância, os custos e o tempo de entrega compensaram. O Brasil possui somente duas fábricas que produzem a mídia — uma delas suspendeu novos pedidos, de tão cheia; a outra deu prazo de nove meses e inflou o orçamento em mais de 80%, num período de quatro meses.
Há nesses prazos demorados tanto uma alta demanda na produção de vinis quanto as dificuldades fabris vividas por toda a indústria na pandemia.
Sobre a alta demanda, Daniel de Moraes comenta que, em 2020, ele e o sócio foram surpreendidos por um aumento de vendas equivalente ao dobro do ano anterior — isso quando a crise parecia levar a um resultado negativo.
"Com o streaming, a música ficou tão abstrata que existe uma carência de mídia física, de apreciar um trabalho inteiro, e não um single; de ter uma forma mais presente. Tanto para o público mais velho, que quer retomar um hábito que deixou para trás, quanto para o público jovem, que quer desbravar como é. Essa demanda veio do próprio público", observa Daniel.
Ele analisa que esse retorno da vontade de uma experiência visual e tátil com o vinil, e o fato de que, no período mais duro do isolamento social, as pessoas não podiam viajar nem sair, e sim ficar em casa, deram no boom das vendas.
Em relação aos CDs, Daniel explica que o vinil fica em destaque porque é um som analógico, e não digital. E por isso, mundialmente, vinis já são mais vendidos do que CDs. Além disso, por ser maior em tamanho, oferece a tal das experiências visual e tátil de maneira mais completa — nisso, a mídia também ganha da fita cassete.