MÚSICA

Existe um novo polo de lojas de discos no Recife; conheça o roteiro

Rota perpassa os bairros do Espinheiro, Graças, Rosarinho e Encruzilhada, com lojas heterogêneas que quase sempre refletem os gostos musicais dos lojistas

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Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 29/10/2021 às 20:22 | Atualizado em 01/11/2021 às 12:47
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Um novo polo de loja de discos, nicho de mercado mais ligado ao Centro, vem nascendo na Zona Norte do Recife nos últimos tempos, com rota que perpassa os bairros do Espinheiro, Graças, Rosarinho e Encruzilhada. O fenômeno é justificado por um "revival" do vinil. Antes mais restritos aos colecionadores, os discos vêm atraindo novos públicos por diversos motivos: robustez dos materiais gráficos, relação afetiva com o produto físico e, sobretudo, a experiência proporcionada no consumo desse tipo de mídia.

Uma curiosidade é que a pandemia, geralmente associada à aceleração digital, reforçou o aquecimento desse produto analógico. Nos Estados Unidos, a Billboard apontou que o vinil representou 27% das vendas de álbuns físicos no último ano. O Brasil ainda não tem dados concretos, mas o fenômeno é uma unanimidade entre os lojistas.

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Prova do aumento da procura no contexto pandêmico é que algumas lojas desse "novo polo" do Recife surgiram, inicialmente, no Instagram. O sucesso do e-commerce, então, estimulou a abertura de lojas físicas. Ao lado dessas, existem empreendimentos mais tradicionais. São lojas heterogêneas, que quase sempre refletem os gostos musicais dos donos. O JC listou e entrevistou os lojistas. Conheça:

Passadisco

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Zona Norte abriga novo polo de lojas de Cds e Vinil Fábio) - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Comemorando 18 anos em novembro, a Passadisco é a loja mais antiga e conhecida dessa região. Ela nasceu quando o consumo dos CDs já estava entrando em declínio e desde então tem levantado a bandeira da valorização dos discos físicos no Recife. Tem estoque voltado para a música popular brasileira, com enfoque em música pernambucana e nordestina, realizando muitos eventos de lançamento de artistas da terra.

"A venda de CDs está a mesma coisa de antes e na pandemia até deu uma queda, voltando ao normal agora. O crescimento de vendas se deu no vinil, sejam novos ou usados", diz o lojista Fábio Cabral de Mello. "Muitas pessoas ficaram mais tempo em casa e não queriam ouvir música apenas pelo Spotify. Elas queriam a experiência do disco e criar coleções. Tenho notado isso e achei interessante esse surgimento de lojas na região. Há alguns anos só tinha a Passadisco."

Onde: Rua da Hora, 345, Espinheiro - Loja 16 da galeria. Funcionamento: segunda a sábado, das 9h às 18h.

Bolacha Discos

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Bolacha Discos - Zona norte abriga novo polo de loja de discos de vinil. - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Nascida há quatro anos, a Bolacha Discos é a segunda mais antiga do roteiro. Tem enfoque em rock, dando prioridade a lançamentos importados do gênero, sendo um contraponto aos sebos. O lojista Victor Serak cita o box de luxo dos 50 anos do "Let It Be", dos Beatles, como um dos atuais destaques. "Na época, abri uma loja de vinil ao notar que o mercado estava escasso, trazendo uma proposta de um bar agregado. É um espaço em que as pessoas podem se reunir, ouvir música ao vivo e realizar lançamentos", conta.

"Coleciono discos desde os meus 18 anos e sempre sonhei em ter uma loja, mas eu fui crescendo justamente na época em que esse tipo de empreendimento estava desaparecendo. Apesar disso, trabalhei na Livraria Cultura, que era a maior loja de discos do estado, e conheci o mercado nessa época", completa Serak.

Onde: Rua João Ramos, 50, Graças. Funcionamento: terças, quintas, sextas, das 14h às 20h, e sábados, das 12h às 20h.

Taberna do Vinil

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Zona Norte abriga novo polo de lojas de Cds e Vinil (Kennedy Maia) - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

A Taberna do Vinil já funcionava no Centro, na Gervásio Pires, mas por problemas estruturais se mudou para a Rua da Saudade, quando passou a sofrer constantes roubos. Assim, ela chegou na Rua Quarenta e Oito há quatro meses. "Por incrível que pareça, esse foi o melhor lugar", diz o lojista Kennedy Maia, professor de filosofia aposentado. "Vendemos discos, CDs, camisetas de bandas e temos um 'pubzinho' que funciona nos sábados."

Maia define o estoque como eclético: "Trabalho de Menudo ao sertanejo, tenho de tudo. Jazz, blues, country, candomblé, todos os gêneros. São mais de 13 mil LPs, entre novos e usados. A maioria é dos anos 1950 e 1960. Eu limpo e escuto todos eles, nenhum vai com chiados ou arranhões. O público do vinil é muito seleto, são pessoas muito exigentes."

Onde: Rua 48, 815, Espinheiro - Loja 4 da galeria. Funcionamento: terças e quartas, das 10h às 19h, quintas e sextas, das 10h às 21h, e sábados, das 10h às 14h.

Pulga Discos

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Zona Norte abriga novo polo de lojas de Cds e Vinil (Fred Souza) - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

A Pulga Discos nasceu no Instagram há dois anos, quando Fred Souza, 43, decidiu começar a vender alguns discos de sua coleção particular. Na pandemia, as vendas começaram a ser realizadas com cada vez mais frequência. A página, então, foi profissionalizada em julho de 2020 e a loja física surgiu há seis meses. Rock (puxando mais para o hard), blues e jazz são os destaques.

"O colecionismo do vinil está atingindo todas as faixas etárias. Vemos pessoas de 19 anos comprando as suas vitrolas", diz Fred, que deixou o emprego numa companhia aérea para tocar o espaço. "Existe a questão do toque e do visual. Nisso o vinil é imbatível pelo tamanho, pelas artes gráficas, pelos encartes. Também existe a questão da sonoridade, o que é bem relativo para cada pessoa. Acima de tudo, existe o compromisso com a obra do artista. O disco é como um documento de uma época."

Onde: Rua Conselheiro Portela, 417 - Sala 3 - Espinheiro. Funcionamento: terças a sextas, das 14h às 19h.

R Vinil e CDs

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Rafael Andrade (R Vinil e CDs) - Zona norte abriga novo polo de loja de discos de vinil. - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

A R Vinil e CDs nasceu no Instagram há dois anos e já realizava vendas para todo o Brasil via correios. Com o aquecimento, Rafael Andrade decidiu abrir a loja física dentro do Mercado Público da Encruzilhada, em frente à sua bomboniere, há cerca de um mês. É um espaço dedicado ao rock e suas ramificações, blues, jazz, MPB e música nordestina.

"Eu já participava de feiras de vinis e decidi trazer esse universo para o Mercado da Encruzilhada, pois sentia essa necessidade de uma loja de discos dentro de um mercado público. A loja já tinha um público fiel e ele migrou para cá, juntamente ao novo público. Tem gente que não vem comprar música, mas fica admirado ao ver o toca disco, essas coisas", conta.

Onde: Mercado Público da Encruzilhada, R. Amaro Coutinho, 100A. Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 17h, e sábado, das 8h às 15h.

Discos do Evaldo/Disco Voador

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Zona Norte abriga novo polo de lojas de Cds e Vinil (Evaldo Lima) - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Evaldo Lima coleciona discos há 25 anos e sempre realizou algumas vendas, mas há três anos começou a organizar uma loja de 5 mil LPs que funciona na sua própria casa - seu acervo pessoal tem 25 mil. Neste ano, criou a página "Disco Voador" no Instagram para ser um complemento do online. Sua cartela de gêneros é bem variada, puxando pro regional, MPB, pop, rock (exceto hard rock) e clássicos do jazz.

"Eu nunca parei de vender, mas o vinil deu uma levantada de uns três anos para cá. Está ficando melhor para trabalhar, mas por outro lado também ficou mais difícil de conseguir os LPs porque muita gente está consumindo. Falo daqueles LPs comprados numa época específica. Mas temos um estoque grande e sempre estão surgindo LPs novos, que compramos direto da distribuidora."

Onde: Rua Couto Magalhães, 389 - Rosarinho. Funcionamento: segunda à sábado, das 9h as 17h.

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