Entrevista

Na Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro faz críticas a Bolsonaro e Lula

"Tudo está em extrema desgraça porque existe a reeleição", diz a mais nova imortal da Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro

Imagem do autor Imagem do autor
Cadastrado por

Estadão Conteúdo, Giovanna Torreão

Publicado em 06/11/2021 às 22:26 | Atualizado em 06/11/2021 às 22:28
Notícia
X

*com informações da Folha de S. Paulo

"Tudo está em extrema desgraça porque existe a reeleição". Mais nova imortal da Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro concedeu entrevista à Folha de S. Paulo, além de falar sobre a recente conquista, abordou o cenário político do Brasil e as Eleições de 2022. A artista foi eleita para ocupar a cadeira de número 17, antes ocupada por Affonso Arinos de Mello Franco. Não houve concorrência - a artista de 92 anos concorreu sozinha, recebendo 32 votos. Houve ainda dois em branco.

>> 'Por que se votou nesse monstro?', declara Fernanda Montenegro sobre Bolsonaro

Durante a conversa, Fernanda fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. "Estamos vivendo um momento complicadíssimo, porque um quer continuar e outro quer voltar. Esse horror quer continuar, e o outro, apesar de ter sido bastante interessante, quer voltar. Mas com quem? Com o quê? Com qual atendimento político honesto e sadio, sem ter que comprar votos para continuar, por exemplo?", pergunta Fernanda. "Para ser reeleito, vale entregar a pátria, tirar o prato de comida de um desamparado, vale deixar que não tenham água encanada para se lavar desse vírus, vale não ter onde defecar porque não tem nem onde morar", acrescenta.

Em seguida, Montenegro afirma que espero um jovem candidato, "sem as heranças negativas que nos trouxeram para este sufoco. Não nego a importância dos governos que precederam este monstro, a partir de Itamar. Mas este homem só está aí porque não se fez o que precisava ser feito. Não se fez um pouco mais, e não se fez em função de uma reeleição. O grande ganho político que poderíamos ter no Brasil seria o fim da reeleição presidencial", diz.

Eleição

Sobre a eleição, a estrela revelou que não precisou nem cortejar os imortais, como é de costume nos meses que antecedem a eleição. "Eu me inscrevi e me ausentei. Não dei entrevista, não cavuquei espaço nem temperei uma chegada. Isso não me compete. Me propus e saí de cena. Como atriz, meu papel é me preparar. Só se entra em cena quando chega a hora", considera.

A entrada da dama do teatro brasileiro na ABL foi festejada no meio cultural desde o anúncio de sua candidatura, em agosto. Autora de Prólogo, Ato, Epílogo, autobiografia publicada em 2019, Fernanda representa simbolicamente, com sua eleição, a força da classe artística em tempos de cultura demonizada. 

A Carreira de Fernanda Montenegro

Fernanda Montenegro é o nome artístico de Arlette Pinheiro Monteiro Torres, que nasceu no Rio de Janeiro em 16 de outubro de 1929. Aos 15 anos começou a trabalhar como locutora e radioatriz na rádio Ministério da Educação e Saúde, atual rádio MEC, onde permaneceu por dez anos. Foi nesse período que adotou o pseudônimo Fernanda Montenegro.

A emissora de rádio ficava ao lado da Faculdade Nacional de Direito (atual Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde havia um grupo de teatro amador. Integrou-se à turma e passou a atuar nos palcos. Iniciou a carreira profissional como atriz em 1950, na peça Alegre Canção nas Montanhas, em que contracenou com Fernando Torres, com quem se casaria em abril de 1953.

Em 1951, foi a primeira atriz contratada pela recém-criada TV Tupi, onde trabalhou até 1953. Em 1954 transferiu-se para a TV Record, onde foi a protagonista de A Muralha, primeira novela da emissora. Na década de 1960 Fernanda trabalhou na TV Rio, na Record, na Globo (criada em 1965) e na Excelsior. Em 1970 deixou a Excelsior e passou a década dedicando-se quase que exclusivamente ao teatro. Estreou em novelas na Globo em 1981, interpretando Silvia Toledo Fernandes na novela Baila Comigo.

Depois atuou em Brilhante (também em 1981), Guerra dos Sexos (1983), Cambalacho (1986) e outras, além de minisséries como Riacho Doce (1990).

O auge de Fernanda no cinema foi em 1998, com Central do Brasil, em que interpretou Dora e foi indicada ao Oscar de melhor atriz. Tornou-se a primeira latino-americana e a única brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz, além de ser a única pessoa indicada a esse prêmio por uma atuação em língua portuguesa. A vencedora do Oscar naquela ocasião foi Gwyneth Paltrow, por sua atuação em Shakespare Apaixonado.

Em setembro de 2019 Fernanda lançou sua autobiografia, Prólogo, ato, epílogo, pela editora Companhia das Letras, em parceria com Marta Góes.

A atriz tem dois filhos de seu casamento com Fernando Torres (1927-2008): o cineasta Cláudio Torres, de 58 anos, e a atriz Fernanda Torres, de 56 anos.

Tags

Autor