CINEMA

Crítica: "Casa Gucci" é mistura de filme de máfia e série pop de Ryan Murphy

Longa dirigido por Ridley Scott aposta no "camp" com elenco estelar que ainda traz Jared Leto, Al Pacino e Adam Driver

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Emannuel Bento

Publicado em 25/11/2021 às 8:00 | Atualizado em 25/11/2021 às 9:40
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Em uma das várias cenas de círculos de conversa de "Casa Gucci", o ancião Aldo, interpretado pelo mítico Al Pacino, explica a Patrizia, vivida por Lady Gaga, que a família da grife é descendente de fabricantes de peças de couro para antigos nobres. De fato, essa atmosfera de realeza persegue todo o longa-metragem. O nome e a linhagem importam muito, sendo esse um dos principais fios da narrativa.

Ao lado disso, em mesmo nível, estão o tom de filme de máfia, as referências à cultura pop e uma deliciosa estética "camp" (termo que diz respeito ao exagero ou teatralidade excessiva), que é a cereja do bolo.

"Casa Gucci", dirigido por Ridley Scott, conta a história da tragédia real envolvendo a família, em que o herdeiro Maurizio Gucci (Adam Driver) foi assassinado a mando da esposa Patrizia Reggiani nos anos 1990. O roteiro foi inspirado no livro "Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte", de Sara Gay Forden.

Até chegar nesse ápice, a trama mergulha o espectador nos altos e baixos da relação de Maurizio e a italiana, que vem de uma origem modesta. Mais retraído e menos interessado pelos negócios da Gucci, ele logo é estimulado a influenciar os rumos da empresa após o seu casamento. A personagem de Gaga vai revelando uma faceta bastante ambiciosa, mas logo é podada pelo clube masculino que comanda a marca.

 

Assim, o filme acompanha uma narrativa conflitante com Patrizia. Ao mesmo tempo em que ela possa parecer uma mulher interesseira e "sem ética" (como ela mesma diz), não é possível julgá-la por querer ascender nesse universo hierárquico, que enche os olhos pelas roupas luxuosas, mansões com decorações deslumbrantes e paisagens estonteantes. A fotografia passeia lentamente por tudo isso, instigando o prazer universal pela ostentação.

Apesar disso, o filme não é apenas futilidade. Existe um certo tom satírico ao estilo de vida dos super ricos, reflexões sobre pirataria, classe sociais e a misoginia que ronda a moda, um universo muitas vezes estampado por rostos femininos.

O fato de existir uma grande estrela da música pop como Lady Gaga na tela dá o acabamento necessário para a energia que o filme carrega. Figuras como Anna Wintour e Tom Ford (Reeve Carney) também estão na história, complementando esse ar de série de Ryan Murphy, conhecido por falar dos bastidores de Hollywood - e que já dirigiu série sobre o assassinado de Gianni Versace.

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Pôster de Casa Gucci - DIVULGAÇÃO
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TRAGÉDIA Maurizio Gucci (Driver) é assassinado a mando da esposa, Patrizia (Gaga) - DIVULGAÇÃO
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ESTRELA Lady Gaga brilha em cena, imprimindo o tom certo para uma energia exagerada - DIVULGAÇÃO

Lady Gaga, que era uma estreante em "Nasce Uma Estrela" (2018), agora brilha ainda mais forte em "Casa Gucci". Ela consegue entregar o que a personagem precisa nos momentos mais específicos. Embora levemente caricata (sobretudo nas cenas em que interage com uma cartomante que conheceu nada TV), essa energia exagerada casa perfeitamente com a atmosfera "camp".

Outro destaque é Jared Leto, que está irreconhecível como Paolo Gucci, aspirante a estilista que é uma espécie de ovelha cafona da família. Adam Driver entrega um Maurizio precisamente sóbrio, enquanto Al Pacino dá ainda mais o tom de filme de máfia com seus trejeitos e sotaques italianos. Esse conjunto de estrelas contracenando é outro fator que faz o filme valer a pena.

Com duração de 2h30, algo talvez justificável por acompanhar três décadas diferentes, “Casa Gucci” poderia ser um pouco mais curto, embora não chegue a ser necessariamente cansativo. Contudo, alguns excessos de cenas tornam o filme menos objetivo. Ridley Scott tentou criar um equilíbrio entre o exagero do mundo da moda e um filme mais sério sobre assassinato, mas teria sido ainda melhor essa primeira linha permanecesse. Contudo, o filme vale muito a pena. É "guilty pleasure” (prazer com culpa) autorizado, como um artigo da Gucci.

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