CINEMA

Matrix Resurrections exagera na nostalgia, mas abre caminho para novo universo

Após 18 anos do fim da trilogia, clássico da ficção científica volta às telonas com várias referências e teorias que vão agradar fãs

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Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 21/12/2021 às 20:47 | Atualizado em 21/12/2021 às 22:36
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Existem filmes que ajudam a moldar nosso imaginário sobre um tempo. Assim foi "Matrix" (1999), das irmãs Lana e Lilly Wachowski, em relação ao começo do século 21. O seu enredo, que envolvia a existência de uma realidade virtual e submissão às máquinas, chegou atemporal em 2021. A sua marcante iconografia, com óculos pretos, acrobacias marciais e códigos eletrônicos, ajudou a configurar uma forte marca na cultura pop. Eis que a trilogia, encerrada há 18 anos, volta às telonas com "Matrix Resurrections", que estreia nesta quarta-feira (22).

A expectativa por um "Matrix 4" sempre existiu, já que o final da trilogia deixa a entender que Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) se sacrificaram para dar fim à guerra entre humanos e máquinas. Com referências a ideias filosóficas e religiosas, a história original se baseia na existência de uma realidade virtual (a Matrix), onde os humanos vivem normalmente sem saber que tudo se trata de um sistema artificial para produzir energia para um futuro distópico, dominado pelos robôs.

Dessa vez, Lana Wachowski voa sozinha na missão de atualizar o que já foi revolucionário, já que a irmã optou por não dirigir esse novo longa-metragem. Preso na realidade falsa, Thomas Anderson (Neo) agora vive como designer de videogames que criou jogos da trilogia "Matrix", usando todo o universo que conheceu durante a sua passagem para o outro lado. Esse início cria uma ótima metalinguagem, já que o universo da marca Matrix também foi expandido para os games.

WARNER BROS.
MATRIX RESURRECTIONS Romance de Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) ainda é um dos pilares do filme - WARNER BROS.
WARNER BROS.
MATRIX RESURRECTIONS Romance de Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) ainda é um dos pilares do filme - WARNER BROS.
WARNER BROS.
MATRIX RESURRECTIONS Keanu Reeves volta a viver Neo - WARNER BROS.

No entanto, ele acredita que suas lembranças são distúrbios e se consulta constantemente com um psiquiatra vivido por Neil Patrick Harris. Assim como no primeiro longa, ocorre toda uma jornada de (re)descoberta da Matrix. O fio condutor para essa tarefa fica, em grande parte, sob responsabilidade da jovem personagem de Jessica Henwick. O argumento para a sobrevivência de Neo e Trinity é bastante condizente, com um gancho que cria o grande desafio da narrativa. É ótimo, inclusive, rever os personagens com idades mais maduras.

Numa onda de nostalgia que a cultura pop adora, sobretudo em tempos em que temos saudades de um passado mais estável, "Matrix Resurrections" abusa das referências dos filmes anteriores. Cada reaparecimento de personagem antigo tem uma aura de grandiosidade. O épico Morpheus, antes vivido por Laurence Fishburne, agora volta com Yahya Abdul-Mateen. O também marcante Agente Smith, lembrado por Hugo Weaving, agora toma corpo com Jonathan Groff.

Cada menção ao passado certamente será como um deleite aos fãs, inclusive com algumas tiradas de humor - algo menos comum nos três primeiros filmes. Em relação aos efeitos especiais, outra expectativa (já que a tecnologia era outra em 1999), existe uma evolução em relação ao mundo real e às máquinas, enquanto as lutas perderam um pouco o tom teatral das artes marciais justamente pelo desenvolvimento dos efeitos.

Em determinadas cenas, alguns diálogos tentam promover uma maior aproximação da nossa realidade atual. Chega a se falar que o mundo era melhor quando liam-se livros, antes do "Face", do "Wikipedia" e das "mudanças climáticas". Porém esse paralelo poderia ter sido feito com mais afinco. Em 1999, o deslumbre sobre o desenvolvimento da internet era um fator primordial para o sucesso de Matrix. Hoje, por exemplo, estamos com acesso instantâneo à outra realidade (as redes sociais), criando um novo contexto em que o mundo ainda tenta entender.

Apesar de não existirem problemas na nostalgia, a sensação é de que Matrix Resurrections poderia ter ido um pouco mais além disso, ter ousado mais. Contudo, é como se esse filme fosse uma grande introdução - assim como de 1999 foi - para algo que está por vir. É um novo descortinar desse universo, abrindo possibilidades e pontas para que a Matrix seja novamente explorada, ainda tendo o amor entre Neo e Trinidy como principal elo.

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