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Livro reúne fotografias de bairro afro em Portugal, discutindo racismo e desigualdade

"Cova da Moura", do pernambucano Maurício Roberto da Silva, será lançado no Recife nesta sexta-feira (7)

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Emannuel Bento

Publicado em 06/01/2022 às 19:13 | Atualizado em 06/01/2022 às 19:19
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A existência de um espaço que causa tensões sociais, frutos de desigualdades e preconceitos, atravessa as sociedades pelo mundo. Em Portugal, é simbólico o caso do bairro Cova da Moura, localizado na área metropolitana de Lisboa e formado por imigrantes de países lusófonos da África, como Cabo Verde, Angola e Moçambique. Entre 2007 e 2009, o fotógrafo pernambucano Maurício Roberto da Silva fez diversos registros da comunidade, que agora foram reunidos no livro "Cova da Moura" (Editora Origem).

O lançamento no Recife será nesta sexta-feira (7), a partir das 18h, no Hotel Central, bairro da Boa Vista. Após lançamentos em Florianópolis (SC), Salvador (BA) e Aracaju (, o evento contará com sessão de autógrafos. "Cova da Moura" tem 78 páginas em papel couché fosco e será vendido por R$ 80.

As fotos permitem enxergar especificidades, dilemas, utopias e as lutas das crianças, dos jovens e dos trabalhadores adultos de bairros periféricos da cidade de Lisboa, chamados pelas classes abastadas de "bairros problemáticos".

Vida cotidiana

O livro retrata, sobretudo, alguns aspectos da vida cotidiana das crianças e jovens no bairro periférico. "Com a câmera, busquei clicar a riqueza da vida cotidiana em sua potência estética, em atividades como as brincadeiras, o trabalho, o lazer, as festas, os olhares, os sorrisos, os afetos intensos e, por fim, a potência estético-política da cultura popular africana, em especial a cabo-verdiana, entre outras questões", diz Maurício, que é professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina.

MAURÍCIO ROBERTO DA SILVA/DIVULGAÇÃO
LIVRO Capa de "Cova da Moura", de Maurício Roberto da Silva - MAURÍCIO ROBERTO DA SILVA/DIVULGAÇÃO

"Eles vivenciam os dilemas de serem portugueses e africanos em terras portuguesas, mas sem a condição de sujeito de direitos, como um branco é. Trata-se dos filhos e netos da escravidão, todos migrantes africanos, meninos e meninas africanos, luso-africanos, negros africanos e portugueses, que vivem as agruras das desigualdades sociais, culturais e raciais no seio da encantada Lisboa", continua.

Auxílio do rap na narrativa

Apesar de privilegiar a narrativa visual, a obra também expressa o dia a dia conflitivo com apoio de uma expressão cultural que historicamente denuncia desigualdades, falta de oportunidade e racismo: versos de rap. "Dizes que não és racista, Senhora Lisboa /Vou dar-te só uma pista [...] Chutaste para canto / Quem filho do Império fora? / Bastardos serão, portanto / Do Jamaica à Cova da Moura", diz um dos versos.

De acordo com o autor, o conjunto visa fortalecer as lutas antirracistas e de classe social das famílias que vivem expostas aos preconceitos e humilhações por parte da elite portuguesa, “uma sociedade saudosista do período colonialista e escravista da história”. “Cova da Moura” teve edição de Valdemir Cunha e edição executiva de Lígia Fernandes.

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