LITERATURA

De aumento nas vendas a representatividade nos livros: como foi 2021 para a literatura?

Se nos anos anteriores as notícias de fechamento das grandes livrarias e a queda no consumo de livros ditavam os circuitos, este ano trouxe inúmeros perspectivas positivas para a literatura

Imagem do autor
Cadastrado por

Bruno Vinicius

Publicado em 26/12/2021 às 7:00 | Atualizado em 26/12/2021 às 14:13
Notícia
X

Renovação é a palavra-chave que define a literatura em 2021. Se nos anos anteriores as notícias de fechamento das grandes livrarias e a queda no consumo de livros ditavam os circuitos, este ano trouxe inúmeras perspectivas positivas para o setor. E isso não se resume apenas às vendas. Foram novos autores, reestruturação em grandes grupos editoriais, houve o retorno das grandes feiras literárias e, também, uma diversidade maior nas grandes premiações. No Brasil, em específico, houve a nomeação de artistas consagrados na cultura popular às cadeiras da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Ano positivo para o mercado

A transformação digital dos meios e o domínio dos e-commerces assustaram o mercado editorial nos últimos anos. Fechamento de grandes unidades de livrarias, como a Saraiva e a Cultura, levavam a crer que o setor não respiraria nos anos seguintes, principalmente em meio à pandemia. Contudo, o mercado livreiro teve seu ápice nos últimos cinco anos. Segundo o Painel do Varejo de Livros no Brasil, um levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e Nielsen BookScan, foram vendidos 28 milhões de exemplares no primeiro semestre de 2021. Isso significa um crescimento de 47,5% em relação a 2020.

As editoras creditam a um estreitamento nas relações com leitores e leitoras, a aproximação nas redes sociais e ações promocionais que possibilitaram o surgimento de um novo público leitor. "Desde setembro de 2020, o aumento do consumo de livros vem demonstrando o bom desempenho de esforços comerciais como o estímulo a ações promocionais, a oferta de bons lançamentos e o estreitamento do relacionamento com os leitores nas redes sociais. Enquanto indústria, precisamos nos conscientizar cada vez mais sobre a responsabilidade que temos de fomentar o hábito de leitura", disse Marcos da Veiga Pereira, presidente do SNEL, na época da divulgação do estudo.

Esforços para diversificar o catálogo

Parte do crescimento das editoras parte de alguns fenômenos que aconteceram durante a crise sanitária, como o aumento no consumo de obras antirracistas. Fruto de protestos pelo mundo todo no ano passado, grandes grupos editoriais passaram a criar comitês de diversidade para ampliar seus catálogos e o quadro de funcionários para pessoas não-brancas. Como é o caso da Companhia das Letras, a maior do País, atuando no mercado há 35 anos.

No ano passado, houve a criação de um setor dedicado só a diversificar a Cia das Letras, dando continuidade aos trabalhos em 2021. "Melhorou um pouco, mas um ano é um período muito curto. Para ser sincero não dá para mudar nada. É um tempo até para fazer um balanço é curto demais. A editora fez 35 anos este ano, e você tem um ano em que há uma preocupação, nomeada, para a diversidade", disse Fernando Baldraia, o diretor de diversidade da Companhia, em entrevista ao JC.

Em alguns casos, o processo foi até mais "natural". A Todavia foi fundada em 2017, participando já de uma discussão atualizada. A editora foi responsável pela distribuição de "Torto Arado", do escritor Itamar Vieira Júnior, o romance antirracista mais vendido dos últimos anos - ultrapassando o feito de 100 mil exemplares vendidos. Em 2021, ele publicou "Doramar ou a Odisseia: histórias". Além disso, a Todavia tem em seu catálogo nomes como Yara Nakahanda Monteiro, Jacqueline Woodson, Muryatan S. Barbosa, Claudia Rankine, José Falero, Djaimilia Pereira de Almeida.

Negros nas premiações importantes

Se houve esforço por parte das editoras, os prêmios literários também passaram a diversificar seus nomeados. Três dos grandes circuitos da literatura nomearam escritores africanos como ganhadores: o tanzaniano Abdulrazak Gurnah foi o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2021, a escritora moçambicana Paulina Chiziane foi a vencedora do 33º Prêmio Luís de Camões e o escritor do Timor-Leste Luís Cardoso foi o grande vencedor Prêmio Oceanos 2021. 

 

REPRODUÇÃO
MOÇAMBIQUE Escritora também foi a primeira mulher a publicar um romance em seu país - REPRODUÇÃO

Abdulrazak Gurnah teve seu Nobel concedido por sua abordagem dos "efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre as culturas e os continentes", como apontou o júri. Paulina também fez história, sendo a primeira mulher africana da história a vencer um Camões. O circuito é considerado o maior da língua portuguesa, fruto de uma parceria entre os governos brasileiro e português.

No cenário nacional, o destaque ficou por Jeferson Tenório. O romance "O Avesso da pele", publicado pela Companhia das Letras, se tornou um clássico antirracista e venceu o Prêmio Jabuti 2021 de melhor romance. Ele também foi indicado ao Oceanos deste ano. Enquanto isso, o mineiro Edimilson de Almeida Pereira conquistou a categoria de “Melhor Romance do Ano de 2020”, com a obra Front, da Editora Nós, no Prêmio São Paulo Literatura.

Academia Brasileira de Letras

A Academia Brasileira de Letras nomeou grandes nomes para ocupar cadeiras de imortais. Os principais foram o da atriz Fernanda Montenegro e do cantor e compositor Gilberto Gil. A atriz foi eleita para ocupar a cadeira 17 da instituição, enquanto o artista baiano foi escolhido para ficar no lugar do jornalista Murilo Melo Filho, falecido no ano passado.

Pernambuco teve sua representatividade garantida na cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras. Ela foi ocupada com a vitória do advogado recifense José Paulo Cavalcanti Filho, primeiro nome a se inscrever para a vaga deixada pelo ex-governador e vice-presidente da república Marco Maciel, falecido em 12 de junho deste ano. O advogado, que é articulista do Jornal do Commercio e membro da Academia Pernambucana de Letras, recebeu 21 votos.

Tags

Autor