Há quase uma unanimidade de que não existe Recife sem Carnaval. Pelo segundo consecutivo, a Cidade terá sua principal manifestação cultural suspensa, em virtude do crescimento de casos de covid-19 e gripe no início do ano. Entretanto, a classe artística terá um espaço na agenda cultural recifense. O prefeito João Campos anunciou, nesta sexta-feira (14), que fará um investimento de R$ 10 milhões no ciclo carnavalesco com recursos próprios da prefeitura, sendo possível uma festa posterior a fevereiro. A classe artística, principal beneficiada com a ação, comemorou a ação, tendo em vista que os cachês serão pagos de forma integral.
O pacote de investimentos faz do programa Recife AMA Carnaval, em substituição ao auxílio que a gestão municipal já havia pago ano passado nas festas carnavalescas e juninas. A iniciativa prevê a aplicação de R$ 10 milhões, contemplando coletivos como agremiações e atrações artísticas que participaram do Carnaval recifense em 2019 e/ou 2020. Diferente de 2020, o qual as atrações tinham um limite de R$ 10 mil, elas terão direito a 100% da subvenção ou cachê (valor unitário) recebido pela sua participação na programação.
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O secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, explicou que, apesar do momento não permitir fazer uma agenda ampla, há a possibilidade de realizar um festival no segundo semestre ou até mesmo uma festa antes do período. "Eu ouvi de muitos artistas que querem trabalhar. Nesta agenda de trabalho, nós podemos ter um festival no segundo semestre ou uma festa em maio, se estiver tudo bem (pandemia) ou podem ser apresentações ao longo do ano, nós vamos abrir um caminho, e cumprindo os protocolos",
"A gente não cancelou o Carnaval, como outras cidades. A gente suspendeu. Já temos toda a infraestrutura pronta e contratada. Pode ser em maio, em junho, em agosto ou em setembro... vamos ver o melhor cenário para a realização. Temos que manter a chama acesa. vamos sair mais fortes e o Carnaval é uma marca de nossa cidade", disse o prefeito João Campos, sobre a possibilidade de alterar as datas para meses posteriores.
Inclusão de mais setores
As políticas culturais para o Carnaval de 2022 são mais amplas que a do ano passado. Além do valor, que passou de R$ 4 milhões pelo Auxílio Municipal Emergencial - AME para os R$ 10 milhões, o novo programa também contemplará técnicos e outros trabalhadores que fazem parte dos bastidores das apresentações artísticas do Carnaval. Essa parte do pagamento integrará o eixo do Apoio e, diferente do ano passado, também contemplará as pessoas que trabalharam em 2019 e 2020.
Esse Apoio é complementado pelo Monitoramento - área responsável pelo controle sanitário -, e a Ativação. Esta, por sua vez, terá a apresentação de cada um dos beneficiados pelo AMA. Ela poderá ser feita dentro de uma agenda cultural da cidade, individuais e coletivas, tendo a possibilidade de realização do próprio ciclo carnavalesco futuramente.
O Projeto de Lei (PL), no entanto, ainda será encaminhado para a Câmara Municipal do Recife. Com o mesmo processo que aconteceu com o AME Carnaval, em 2021, o qual foi aprovado por unanimidade no legislativo. Mesmo que os eventos sejam realizados nos meses posteriores, há a previsão de que os pagamentos sejam feitos no período que aconteceria o Carnaval. Entretanto, o cronograma dependerá do debate e aprovação do Projeto na Câmara.
Classe artística reage bem
A cantora Nena Queiroga, que estava nesta quinta-feira (13) em busca de diálogo com o Governo do Estado, achou a ação propositiva. "Eu fiquei muito feliz, principalmente, porque não houve um cancelamento do Carnaval, porque ia acontecer uma coisa que estava faltando acontecer, que era uma definição para a gente que já estava acostumado a ter uma agenda pronta antecipadamente", diz Nena, que é uma das figuras mais conhecidas no ciclo carnavalesco recifense.
No Recife AMA Carnaval, as apresentações serão reduzidas a uma, diferente dos carnavais convencionais, em que os artistas faziam entre três a quatro shows durante o período. Para o músico Luciano Magno, o programa não sana todo o problema da classe artística - que está em crise desde o início da pandemia -, mas ajuda a auxiliar os fazedores de cultura na época.
O anúncio chega em um momento oportuno para ele, levando em consideração que apresentações suas foram canceladas na Bahia e no Ceará. "A gente sabe que não resolve, mas sabe que é muito bem vindo nesse momento. A gente tem que se adaptar a todas essas restrições e pedir que as pessoas se vacinem, que a gente consiga um patamar de vacinação maior. Agora, a gente espera uma decisão do Governo do Estado para decidir, também nesse sentido, a salvaguarda da classe que mantém acesa a chama das tradições do nosso povo", disse Luciano.
Já o músico Rominho do Som da Terra explicou que esperava até mais da decisão da Prefeitura, mas que a ajuda no momento também chega com bons olhos à classe. "A gente queria até mais para que a gente pudesse fazer os eventos nos lugares fechados, com segurança e controle vacinal, até para os próprios artistas de uma forma geral. Era isso que a gente imaginava que isso fosse acontecer. Mas, de qualquer forma, a Prefeitura não cancelou o Carnaval. O que poderá é ter uma coisa lá na frente. Por enquanto, esse auxílio minimiza a crise para a classe artística", conta.
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