Dia do Frevo: Conheça três novos álbuns que exploram diferentes facetas do ritmo
"Outros Frevos", de Alex Mono e Fernando Duarte, "Carnaval da Vingança", de Chinaina e "Atemporal", de Hugo Linns, são lançamentos que merecem ser ouvidos
O segundo ano consecutivo sem carnaval não será motivo para deixar de apreciar as tradições e principalmente as novidades musicais que envolvem o principal ritmo da festa no Recife. No Dia do Frevo, celebrado neste 9 de fevereiro, uma espécie de catalisador para reverenciar essa musicalidade, separamos lançamentos exploram o ritmo em diferentes perspectivas. Eles reforçam que o frevo merece ser ouvido durante o ano todo.
No Recife, a principal ação de comemoração será a live da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério através do YouTube do Paço do Frevo, equipamento cultural que realizará uma programação durante todo o mês de fevereiro. A atração da sexta-feira (11), Hugo Linns, é um dos nomes que apostou na potencialidade do ritmo num lançamento realizado também nesta quarta-feira, o disco "Atemporal".
Frevo na viola
Um dos violeiros mais celebrados de Pernambuco, Hugo Linns faz uma homenagem à musicalidade do frevo na viola dinâmica. O álbum conta com dez faixas, sendo nove releituras de clássicos, passando por canções como "Cabelo de Fogo", "Hino da Pitombeira", e "Voltei, Recife", esta última já disponível como single. Uma composição própria foi batizada de "Mordendo a Língua".
Os caminhos de "Atemporal" começaram a ser traçados há sete anos, quando Linns fez show em um projeto no Paço, o que deu início a uma série de shows que resultou no disco. Com viola dinâmica e banda, o músico traz um apurado mais técnico do frevo, que é considerado um ritmo difícil de ser tocado, sobretudo fora de Pernambuco, sem deixar de lado as suas possibilidades de transformação.
Com incentivo projeto conta ainda com participação dos músicos Eduardo Buarque, Rogê Victor, Ricardo Fraga, Sebastian Notini e Carlos Amarelo.
Frevo e hardcore
Um outro lançamento é de uma figura mais ligada ao rock que já flerta com o frevo há tempos: China (que agora assina como Chinaina), um amante declarado da manifestação desde a banda Sheik Tosado, desdobramento da geração manguebeat nos anos 1990. O EP "Carnaval da Vingança", como já diz o título, é uma obra que pensa como será a folia quando acabar a pandemia.
Assinando a produção do projeto, Chinaina retoma suas investigações entre o frevo e o hardcore. O álbum abre com um samba-reggae mais divertido e logo desemboca em uma versão bastante interessante e feita para as ladeiras de "Deixe-se Acreditar", da Mombojó, com Felipe S. Um verdadeiro "gatilho" para quem está com saudades da grande festa.
Outra faixa é "Hardcore Brasileiro", lançada originalmente em 1999 pela Sheik Tosado, que ganhou releitura com orquestra regida pelo maestro Nilsinho Amarante. Com intenção de formar roda de pogo, o músico acelerou o passo dos habituais 150 BPM para 180 BPM, reforçando o famoso slogan de que o "frevo é o hardcore brasileiro".
O encerramento traz a participação especial de Cannibal, vocalista da lendária banda Devotos, que tocará na abertura do Rock In Rio 2022, em "Virando Papangú", a outra inédita do EP. A arte da capa e o projeto gráfico são de autoria de outro integrante da Devotos, Neilton Carvalho.
Encontro criativo
Outro lançamento foi a parceria do cantor, guitarrista e violonista Alex Mono junto ao artista plástico e compositor Fernando Duarte. O álbum "Outros Frevos" reúne dez frevos de autoria de Duarte, exceto uma em parceria com Mono, "Esta é uma opinião de um bloco".
O encontro entre os dois ocorreu quando no primeiro disco de Fernando Duarte, "Um Frevo Impossível". A partir daí, Fernando o convidou para harmonizar os seus frevos com o violão. Duarte gostou tanto da interpretação de Alex Mono que daí decidiram juntos produzir um álbum completo, dentro das condições que tinham em mãos: violão, guitarra, computador e ideias fervendo na cabeça.
O disco tem faixas como "Um Frevo para Sonhar", criada a partir de um loop do pandeiro de frevo, riff do contrabaixo, em tom mais suave, quase como uma bossa. Também conta com um lado mais eletrônico, como em "Improviso", com sintetizadores, ruídos e até citação ao alemão pioneiro da música eletrônica Stockhausen.
A faixa "Aluga-e" foi gravada no momento em que os músicos souberam do falecimento do lendário guitarrista Paulo Rafael, trazendo à tona esse timbre da guitarra nordestina. No geral, o disco é uma mistura da música eletroacústica de Alex Mono e a poesia de Fernando Duarte, que por vezes é densa, mas também guardam um lirismo suave nos seus versos.
Dia do Frevo no Paço
O Paço do Frevo comemora oito anos de funcionamento nesta quarta-feira (9), na mesma data do Dia do Frevo. Para não passar o aniversário em branco, o centro de referência em salvaguarda do patrimônio imaterial da humanidade realizará uma programação durante todo o mês de fevereiro. O começo será ainda na terça, com um show inédito do Maestro Forró & Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, em celebração aos 20 anos do grupo.
Por conta da pandemia, a apresentação será transmitida pelo pelo Youtube do Paço, a partir das 19h, e também terá abertura da Cia de Frevo do Recife, com o espetáculo "Frevariando". A alta de casos da Covid-19 fez com que toda a programação se tornasse virtual: serão realizados shows-lives de Hugo Linns (11/02, às 12h), Luciano Magno (19/02, às 19h) e Banda de Pau e Corda (24/02, às 19h).
Além dos shows, o dia 20 de fevereiro contará com uma roda de conversa de Guitarra Blues/Guitarra Frevo com Luciano Magno e o guitarrista de blues e rock Rodrigo Morcego. A mediação ficará a cargo de César Berton, pesquisador, músico, guitarrista e professor do IFPE Belo Jardim.