CINEMA

Entenda por que filme de Danilo Gentili está sendo acusado de 'incentivo à pedofilia'

Polêmica gira em torno do filme "Como Se Tonar o Pior Aluno da Escola", baseado em livro do humorista, que entrou na Netflix em fevereiro deste ano

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Emannuel Bento

Publicado em 14/03/2022 às 19:56 | Atualizado em 15/03/2022 às 15:30
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O apresentador e humorista Danilo Gentili tem sido alvo de acusações de "incentivo à pedofilia" por parte da bolha bolsonarista nas redes sociais nesta segunda-feira (14). Figuras públicas, influenciadores e até políticos iniciaram uma campanha contra o filme "Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola”, baseado no livro homônimo escrito por Gentili. Com direção de Fabrício Bittar, o longa-metragem foi lançado nos cinemas em 2017, mas só em fevereiro deste ano entrou no catálogo da Netflix, o que despertou a atenção de conversadores nas redes. Nesta terça-feira (15), o Ministério da Justiça determinou que a Netflix e outras plataformas de streaming deixem de exibir o filme.

A comédia acompanha Bernardo e Pedro, estudantes com dificuldades para cumprir as regras de uma escola com medidas politicamente corretas. No banheiro, eles encontram um diário com dicas para instaurar o caos no colégio sem serem notados. Gentili interpreta Danilo, o autor do manual.

A crítica atual é voltada para uma cena específica, em que o personagem vivido por Fábio Porchat, Cristiano, é procurado pelos protagonistas para falar sobre o caderno. De início, ele relata casos de bullying que sofreu no colégio, além de apresentar um ar de desaprovação em relação ao diário.

Mas, em determinado momento, ele ameaça contar aos pais dos jovens sobre a tentativa de seguir as instruções do manual. Cristiano, então, diz que irá "esquecer" esse caso se eles o masturbarem. "Vamos esquecer isso tudo, deixar isso de lado? A gente esquece o que aconteceu e, em troca, vocês batem uma punheta pro tio", diz o persoagem. Os garotos fogem diante da tentativa de abuso.

Fábio Porchat se manifestou acerca da polêmica em comunicado. O ator afirma que o personagem não é um endosso à prática da pedofilia, mas uma exposição da realidade. "Quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. Às vezes é duro de assistir, verdade."

Já Danilo Gentilli usou do Twitter para rebater: "O maior orgulho que tenho na minha carreira é que consegui desagradar com a mesma intensidade tanto petista quanto bolsonarista. Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento veio forte contra mim dos dois lados. Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo", escreveu.

O Ministro da Justiça Anderson Torres disse, em seu Twitter, que tomará providências sobre o filme. "Determinei imediatamente que os vários setores do @JusticaGovBR adotem as providências cabíveis para o caso!", escreveu. Já Mario Frias, secretário especial da Cultura, disse que o longa faz apologia ao abuso sexual infantil.

Os guias publicados pela Ministério da Justiça sobre classificação indicativa de filmes, atualmente usados pela indústria audiovisual, afirmam que conteúdos em que existe indução ou atração de alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual não são recomendados para menores de 14 anos. “Como Se Tornar Pior o Aluno da Escola” tem justamente classificação indicativa de 14 anos.

No debate acerca do filme, há quem diga que as publicações em série dos apoiadores de Jair Bolsonaro ao filme sejam uma tentativa de manter a pauta de costumes nas redes sociais, uma das estratégias mais efetivas do governo no debate público. Também levam em consideração que, nos últimos dias, a alta dos combustíveis tem sido um dos principais assuntos das redes.

Netflix na mira

Não é a primeira vez que conteúdos disponíveis na Netflix são alvos de críticas por supostos “incentivos à pedolfilia”. Em 2020, usuários manifestaram indignação com o filme “Lindinhas”, de Maimouna Doucouré, exibido no festival de Sundance. A trama gira em torno de Amy, criança de 11 anos que “começa a se rebelar contra as tradições conservadoras de sua família quando fica fascinada por uma turma de dança de espírito livre”, diz a sinopse oficial.

Na época, apontava-se que o filme tinha classificação indicativa para maiores de 16 anos. Em determinada cena, uma dançarina (maior de idade) mostra o seio em um clipe que as meninas de 11 anos assistem no celular. A Netflix chegou a enviar um comunicado para a revista “Variety” pedindo para que as pessoas assistissem ao filme. "Lindinhas é um comentário social contra a sexualização de crianças. É um filme premiado e uma história poderosa sobre a pressão que as jovens enfrentam nas redes sociais e na sociedade em geral".

No Brasil, a Netflix também enfrentou controversias com os lançamentos de especiais de natal em parceria com o Porta dos Fundos, a exemplo do "Te Prego Lá Fora", em que Jesus Cristo tenta superar dilemas típicos de adolescentes e, em uma das cenas, vai ao prostíbulo.

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