A MPB foi protagonista do segundo domingo (24) do 30º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) com shows de Chico César e Geraldo Azevedo (com o projeto Violivoz), Gal Costa, Isabela Moraes e Rogério e os Cabra no Palco Mestre Dominguinhos.
Em relação ao público, a noite foi bem mais tranquila do que o sábado (23) de pop-rock. Os portões da praça permaneceram abertos durante todas as apresentações. Quem inaugurou a programação foi Rogério e os Cabras, que representou Garanhuns com forte apelo regional, com influências que vão do baião ao maracatu.
A pernambucana Isabela Moraes, de Caruaru, apresentou o repertório do seu recente disco de estúdio, "Estamos Juntos" (2020), mostrando uma voz potente e composições fortes. As autorais "Ao Redor do Sol" e "Quem Disse?", ainda na abertura, podem ser consideradas o ápice do show.
A apresentação contou com participação da cantora Bella Kahun, natural de Garanhuns, na bela faixa "Do Contra". "Quando a Saudade For Te Procurar" e "Tempo de Esperas" foram outros momentos interessantes da noite. "Segredo", canção de Almério composta pela caruaruense, também convidou o público a cantar.
Um dos nomes de peso do 30º FIG, Gal Costa apresentou clássicos da MPB. Abriu com "Fé Cega, Faca Amolada", seguindo com "Hotel das Estrelas", "Divino Maravilhoso" e "Dom de Iludir".
Também interpretou "Desafiando", de João Gilberto, "Estrada do Sol", de Nara Leão, "Paula e Bebeto", de Milton Nascimento, e "Açaí", de Djavan. "Nada Mais", "Baby" e" Sorte" despertaram diferentes emoções do público.
Antes de cantar "Brasil", eternizada na abertura da novela "Vale Tudo", ela reforçou o tom político da canção. "Votando certo, vamos mudar esse país" disse. Esse seria o encerramento do show, mas as cortinas voltaram a abrir.
"Uma música para vocês que estão achando que o show é curto", disse, num tom levemente ríspido, antes de cantar "Um Dia do Domingo" - a cantoria ficou mais a cargo do coro do público. "Vamos sonhar com o Brasil melhor", finalizou Gal, fazendo um 'L" de Lula com as mãos.
De fato, Gal fez um show mais curto do que o habitual para o Palco Mestre Dominguinhos, tanto que o intervalo da troca de palco para o show seguinte também foi maior.
A força de Chico e Geraldo, em voz e violão
Chico César e Geraldo Azevedo levaram ao FIG o show do projeto "Violivoz", que nasceu durante uma noitada de violão dos dois em São Paulo e que estreou no Recife em outubro de 2021.
Os mestres da música popular brasileira abriram em grande estilo com "Táxi Lunar" e seguiram com "Mama África" e "Caminhando e Cantando". Em "Deus me Proteja de Mim", Chico César fez um agradecimento duplo: "Obrigado, Juliette, por tornar essa música conhecida no Brasil. E obrigado, Dominguinhos, por gravar essa música comigo".
"Moça Bonita", "Dia Branco", "À Primeira Vista" e "Quando Fevereiro Chegar" também emocionaram o público antes de um momento fortemente político com “Reis do Agrotóxico”, de Chico. Ele dedicou a música a Dom Phillips e Bruno Pereira, mortos durante expedição na Amazônia.
"Parem de assassinar as lideranças indígenas. Parem de estuprar as meninas indígenas. Deixem os nossos ancestrais em paz. Essa é uma homenagem aos trabalhadores que produzem alimentos sem agrotóxico", disse o paraibano, que dividiu com Geraldo os vocais dos 11 minutos de música.
O tom político continuou com "Pedrada", com o refrão "fogo nos fascistas". A música estimulou xingamentos ao presidente Jair Bolsonaro, quando o Chico interveio sobre um xingamento específico:
"Essa manifestação, esse vai tomar no..., me parece até meio reacionário, porque temos pessoas que amam, que adoram, e até aqueles que não se revelaram. Vamos deixar espaço para deixar que a direita mais reacionária usem desses argumentos”, disse.
"Os nossos argumentos devem incluir aqueles que gostam de tomar por todos os buracos, da sua cabeça, do seu corpo. Vamos inovar. Pode dizer seu feito, fascista, facínora, grosseiro. Mas um dia que vocês digam comigo, ei, Chico César, venha tomar... Quem sabe eu vá", disse, arrancando aplausos e risos.
Geraldo Azevedo dedicou "Você se Lembra" ao amigo Paulo Rafael, guitarrista morto em 2021. Chico César disse sentir a presença do músico naquele momento. "Pedra Responsa", "Cadê Meu Carnaval" e "Dona da Minha Cabeça" encerraram o show, um dos mais bonitos do segundo final de semana do festival.
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