Há seis décadas o Teatro Experimental de Arte (TEA), de Caruaru, trilha uma trajetória dedicada ao fomento da cultura no Agreste do Estado e à formação de público para as artes cênicas. Essa história — que atravessou tempos tão turbulentos, e que continua — já conferiu ao grupo o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco e nesta sexta-feira (29), às 20h, renderá a Medalha de Honra ao Mérito Cultural da Câmara de Vereadores de Caruaru.
Em retribuição, o TEA vai encenar uma das montagens de seu repertório, a peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, no pátio da Igreja da Conceição, no Centro da cidade.
"A longevidade do TEA vem muito do amor que a gente tem ao teatro; esse amor que eu herdei dos meus pais e que eu tento, de certa maneira, passar através das ações que a gente faz. Não só as ações que acontecem no âmbito do espaço Lycio Neves [teatro que é sede do coletivo], mas também as ações que são extra muro, levando o teatro para comunidades periféricas", diz Fábio Pascoal, que é filho de dois dos fundadores, Arary Marrocos e Argemiro Pascoal.
O Teatro Experimental de Arte foi fundado exatamente em 16 de julho de 1962, por artistas oriundos, quase em sua maioria, do Teatro de Amadores de Caruaru (TAC), como o próprio Argemiro Pascoal. O TEA inaugurou a história do teatro moderno em Caruaru com a montagem do espetáculo "Um Elefante no Caos", sob direção de Antônio Medeiros.
Desde então, o coletivo estabeleceu uma relação forte com a formação artística, inicialmente através do crítico, ator e pesquisador teatral Joel Pontes, que viabilizou a ida de professores do Recife para Caruaru, como Clênio Wanderley, Isaac e Estefânia Gondim e Lucio Lombardi. Esse movimento de troca fomentou atividades que ajudaram a injetar um novo fôlego à cena local.
"Sempre foi muito caro ao TEA investir na formação, tanto de artistas quanto de público, porque acreditamos que, assim, podemos fortalecer as artes cênicas de forma perene", considera Fábio Pascoal.
O DNA de longevidade do grupo está digamos, numa das suas ações: o Festival de Teatro do Agreste (Feteag), idealizado em 1981, portanto há 40 anos, por Pascoal e Chico Neto. "É um braço para conseguir ampliar o público, conquistar outras plateias. Tanto que o festival não está mais limitado a Caruaru, mas acontece também no Recife."
A próxima edição do Feteag, aliás, está marcada para setembro. O festival articula uma integração de Caruaru com o circuito artístico do Nordeste, do resto do País e também de fora, no que cria intercâmbios.
Parece possível que, em 40 anos pela frente, o TEA esteja ainda disposto e com um centenário para contar. Há um fôlego inteiro de continuidade na fala de Fábio Pascoal. Por ora, o Teatro Lycio Neves, a sede do grupo, está em reforma de requalificação que vai transformá-lo num espaço 'multiconfiguracional'. "A ideia é que a gente conte uma nova história do TEA a partir desse espaço, ampliando as possibilidades de encenação e circulação em diálogo com a comunidade."
Comunidade é uma palavra recorrente, dando mesmo a ideia de um palco que congrega — e que, por congregar, se reaviva. "Manter a vida ativa do TEA vai muito pelo amor e o prazer de lidar com o humano. Isso pra gente é muito importante. O teatro é, essencialmente isso: lidar com o humano."
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