TECNOLOGIA

TikTok ameaça reinado do Google em buscas

Aplicativo chinês, famoso por seu algoritmo afiado, tem sacudido as bases da gigante da tecnologia e seu serviço mais lucrativo

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Publicado em 09/08/2022 às 0:05
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REDE SOCIAL Com seis anos de funcionamento, TikTok possui 755 milhões de usuários ativos mensais; contando com perfis falsos e de marcas, o número chega a 1 bilhão - FOTO: PIXABAY
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Por Guilherme Guerra, da Agência Estado

"Como limpar o vidro do box do banheiro", "receitas com sassami de frango" e "formas de dobrar roupas" são algumas das perguntas para as quais Amanda Alt, 31, já procurou respostas na internet. Até bem pouco tempo atrás, o lugar óbvio para fazer isso seria o Google, mas a gerente de projetos optou por um caminho inusitado: o TikTok.

Popular entre os mais jovens, já faz algum tempo que o app chinês deixou de ser um "aplicativo de dancinhas". Com vídeos curtos e espertos, o serviço passou a ser um repositório de conteúdo sobre praticamente qualquer assunto: de culinária e limpeza doméstica a autoajuda e conselhos amorosos.

Em pouco tempo, a nova vocação do serviço passou a desafiar o Google naquilo que tornou a companhia uma gigante: buscas.

"Um dia, percebi que estava indo primeiro ao TikTok para fazer buscas. Funciona muito bem para dicas domésticas ou receitas", diz Amanda, que utiliza o app desde 2019. "O Google tem sido menos utilizado nesses casos, porque os primeiros resultados trazem informações repetidas ou são de conteúdos patrocinados que não me interessam."

AMEAÇA

É uma mudança de paradigma que pode estar tirando o sono dos executivos do Google. O novo hábito afeta diretamente o negócio da companhia, que se consolidou nos últimos 24 anos como o lugar favorito da internet para realizar qualquer pesquisa.

"Em nossos estudos, cerca de 40% dos jovens não vão ao mapa ou à ferramenta de busca do Google quando procuram onde almoçar. Eles vão ao TikTok ou ao Instagram", disse Prabhakar Raghavan, executivo da gigante da tecnologia na área de conhecimento e informação, em evento organizado pela revista Fortune em julho passado.

Segundo ele, as gerações mais novas querem conteúdo imersivo, com formatos "ricos", como vídeos.

"Essa não é a primeira vez que uma companhia desafiou a ferramenta de buscas do Google", explica Nikhil Lai, analista da consultoria americana Forrester ao jornal O Estado de S. Paulo.

O Yahoo! e o Bing (da Microsoft) também estão na corrida, mas o líder permanece com mais de 85% do mercado há 10 anos. "Mas eu não considero esses nomes como desafiantes, e sim o TikTok."

TITÃS

Nascido há 6 anos, o TikTok já é um gigante, com 755 milhões de usuários ativos mensais, de acordo com a consultoria eMarketer — a firma exclui da contagem perfis falsos e de marcas, razão pela qual o número é inferior ao 1 bilhão de contas comemoradas pela ByteDance (proprietária do TikTok) em setembro de 2021.

Em dezembro do ano passado, o aplicativo chinês foi o site de maior acesso no mundo naquele mês, superando o Google.

"O aumento do tráfego mostra como o TikTok continua se adaptando e fornecendo maneiras para os consumidores descobrirem produtos", diz à reportagem o analista Greg Carlucci, da consultoria americana Gartner.

Isso, porém, não significa que o Google não esteja se movimentando para conter os avanços do concorrente. Em julho de 2021, o YouTube lançou o Shorts, serviço de vídeos curtos, verticais e rápidos — a inspiração no rival é clara. A ideia é que youtubers tenham as duas possibilidades no momento da criação.

Amanda, no entanto, revela que isso tem sido insuficiente. "Vou ao YouTube quando preciso de mais detalhes, como uma aula mais complexa ou algo que possua um passo a passo mais longo", conta ela, que ainda não foi convertida ao Shorts.

Outra manobra do Google é a inclusão de vídeos de outras plataformas na ferramenta de buscas, e não só o YouTube. Agora, conteúdos do TikTok e Instagram começam a aparecer nos resultados de pesquisas da companhia.

A luta do Google para conter o rival se justifica. "Buscas são a propriedade mais lucrativa do Google, representando 58% do total da receita da Alphabet (controladora da empresa) no primeiro trimestre deste ano", aponta Lai, da Forrester. "O Google não pode se dar ao luxo de perder essa batalha", afirma.

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