Anitta segue fazendo história na música brasileira com sua memorável noite do VMA 2022, onde foi a primeira brasileira a se apresentar e vencer um prêmio - o de Melhor Clipe de Música Latina, onde concorreu com gigantes como Bad Bunny, J Balvin e Becky G.
Os feitos se juntam ao recorde de "Envolver", que se tornou a primeira música de uma latina solo a alcançar o primeiro lugar no top 50 global do Spotify.
Todas essa conquistas mostram que Anitta é a artista brasileira que mais soube aproveitar um certo declínio da hegemonia da anglofonia - cultura de países que falam inglês - na cultura pop global.
As premiações do entretenimento são momentos em que as indústrias ganham tom, forma e rosto. É um momento coletivo de comunhão profissional e uma ferramenta de promoção internacional dos artistas - por muito tempo, majoritariamente dos anglófonos.
O que emana dos Estados Unidos ainda tem forte influência. Contudo, hoje temos fenômenos como o K-Pop (a girlband BLACKPINK foi quem introduziu a performance da brasileira) e o próprio reggaeton.
A história do reggaeton é bastante similar à do funk, inclusive, mudando o endereço para periferias do Panamá, Porto Rico, República Dominicana e Colômbia. Pelo grande número de "hispanohablantes" no mundo, o ritmo das periferias latinas ascendeu absurdamente.
Anitta percebeu isso ainda em 2016, quando fez o seu primeiro aceno para essa indústria com "Sim Ou Não", parceria com o colombiano Maluma. Ainda era uma música em português, como forma de acostumar também os ouvidos brasileiros à crescente tendência. Em seguida, arrematou outra ótima colaboração: "Ginza Remix", com J Balvin.
A carioca seguiu para a carreira internacional com força em 2017, com o lançamento de "Paradinha" e do projeto Checkmate. Houve alguns percalços, como o álbum "Kisses" (2019), mas ela mostrou que a persistência vence.
Aproveitando de seus altos números nas plataformas, Anitta sempre soube vender o seu peixe frente a empresários internacionais. Se rodeou de pessoas influentes, bons produtores e veículos de mídia que adoram o engajamento causado pela sua imagem.
Em 2021, chegou a anunciar que se apresentaria no VMA. Uma decepção para muitos: tratava-se de uma apresentação no intervalo da premiação junto à marca Burguer King. Anitta continuava comendo pelas beiradas.
Agora, com performance no palco principal e um astronauta de prata em mãos, a jovem de Honório Gurguel está onde nenhum brasileiro chegou na era digital da música e da comunicação. Várias portas devem se abrir, consolidando a artista no mercado internacional.
No passado, tivemos Carmem Miranda, que ficou mais conhecida nos EUA pela presença no cinema do que pelo modelo de venda de discos - que se desenvolveu mais na segunda metade do século 20. Na década de 1960, os gênios da bossa nova chegaram ao Grammy e conquistaram Frank Sinatra.
Mas, agora, um fato inegável catapulta uma brasileira de origem suburbana ao mercado internacional no século 21: o consumo da música na era digital deu um novo folego aos ritmos eletrônicos das periferias, seja em Bogotá, no Rio de Janeiro ou no Recife. Fruto desse fenômeno, Anitta surfou como ninguém no Brasil. Nas palavras da própria artista:
"Eu cantei uma música de um ritmo que já foi considerado um crime, eu cresci e nasci na favela. Em lugares como esse nunca pensamos que isso seria possível. Obrigada".
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