ARTES E LITERATURA

João Câmara lança livro de contos e imagens digitais

Artista mais conhecido como pintor reúne 44 textos e obras criadas digitalmente em "Lidando com o Passado em Outros Lugares", que ele lança no Espaço Brennand

Romero Rafael
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Romero Rafael
Publicado em 14/09/2022 às 18:46 | Atualizado em 14/09/2022 às 18:58
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O pintor e contista João Câmara - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Da matéria com que se faz pintura, faz-se também literatura. E é por isso que é natural — embora também um tanto revelador — que João Câmara, que a gente reconhece pelas telas, também escreva. E muito: 44 contos dele estão reunidos em "Lidando com o Passado e Outros Lugares" (Topbooks), "um catatal", como ele brinca, de 650 páginas, que lança nesta quinta-feira (15), a partir das 18h, no Espaço Brennand, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife.

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Capa do livro Lidando com o Passado e Outros Lugares, de João Câmara - DIVULGAÇÃO

"Costumo dizer que a imaginação reside num canto só, e ela pode se manifestar de diversas maneiras", conversa João Câmara, por telefone. "No meu caso, tenho sido pintor, há mais de 50 anos, mas, do mesmo modo, a fantasia e a imaginação, que a gente exerce originalmente na cabeça, também pode tomar a forma literária. Sobretudo, num pintor figurativo, como eu, em que as imagens já contam alguma coisa, discutem elas mesmas a própria substância."

Na forma de letra, a imaginação de João Câmara começou a fluir tardiamente, mas não exatamente agora. Já publicou contos no seu livro "Originais, Modelos e Réplicas", que continham também textos ensaísticos e comentários. Os contos de agora são dos últimos cinco, quatro, anos.

Letras e imagens

Mas, no livro não há somente imaginação em forma de letra. Há imagens também, todas, digamos, pinturas digitais, técnica que ele explora desde o início dos anos 90, época em que se aproximou da computação gráfica no intento de arquivar fotografias das suas obras. Descobriu que, mais do que manipular fotos, podia desenhar numa mesa de digitalização.

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Obra digital de João Câmara para o livro Lidando com o Passado e Outro Lugares - DIVULGAÇÃO

Os contos e as imagens digitais foram nascendo simultaneamente, mas elas não precisamente dialogam nem ilustram, têm vidas independentes. Parte delas estará exposta no Espaço Brennand.

"Às vezes, o texto possibilita enxergar algumas coisas que, na imagem, estão apenas indicadas muito indiretamente. O texto pode ser mais rico do que a imagem, mas também é mentiroso sobre a imagem, porque ele não tem compromisso de fidelidade tão acentuado, ele pode ser traiçoeiro. Texto e imagem são primos que, às vezes, tem divergência, mas também encontram caminhos em que se tocam. São caminhos paralelos e vão se enamorando."

As imagens que estão no livro são só algumas de mais de cem obras digitais que ele produziu durante o período mais restritivo da pandemia, quando ficou recluso em casa com a esposa, cercado por computadores e mesas de digitalização. Com 78 anos (fará 79 em janeiro, menciona que é capricorniano, teimoso, e paraibano, mais teimoso ainda, e quem sabe por isso uma produção tão obstinada), somente em maio último ele passou a sair para seu ateliê, em Olinda, onde vai pintando "um painel muito grande".

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Obra digital de João Câmara - DIVULGAÇÃO

Os textos, como indica o título do livro, "Lidando com o Passado e Outros Lugares", deslocam o passado para a ideia de lugar. "São geralmente remissivos, um ou outro é mais próximo do tempo atual, mas a maioria remete a um tempo de 20 ou 30 anos, no tempo em que não havia celular", explica João Câmara. Há contos ambientados aqui, em Nova York, Paris, na Itália, Rússia, Ucrânia, em BH etc.

A obra digital escolhida para a capa traz autorretrato dele. Esta, sim, parece estar perto de ilustrar o conto "Províncias", em que ela se repete no meio do livro. João Câmara adianta que este texto é sobre dois artistas que são o mesmo, sendo que um mora no Brasil e o outro, na Suíça. Pergunto se tem algo de autobiográfico.

"Não tem conto autobiográfico. Tem coisas em primeira pessoa, mas são tecnicamente postiças. Não há nada confessional, é um livro que algumas pessoas que leem dizem não parecer comigo", conta, parecendo-se dois artistas.

"Talvez a tarefa do artista seja essa, a de se deslocar por muitas personalidades. Não sou eu, eu tomei emprestada essa alma que estava vagando pelo meio do mundo."

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