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América Latina resiste por meio da arte

Ticio Escobar considera produção latina vibrante e intensa

JC
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Publicado em 30/09/2022 às 0:00 | Atualizado em 30/09/2022 às 12:29
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ESPECIALISTA Ex-ministro da Cultura do Paraguai, o curador e crítico de arte Ticio Escobar esteve no Recife - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Professor e crítico de arte, o ex-ministro da Cultura do Paraguai Ticio Escobar descreve a arte contemporânea produzida na América Lática como "vibrante" e sublinha que há, sim, resistência de símbolos originários, mesmo em uma região que sofreu com a colonização europeia. Atualmente na direção do Museu de Arte Indígena do Centro de Artes Visuais de Assunção, Paraguai, Ticio esteve no Recife para o Seminário Internacional "Francisco Brennand: a oficina como território", realizado numa parceria entre a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e a Oficina Francisco Brennand.

Durante sua passagem pela capital pernambucana, o curador de arte ressaltou que a cultura latino-americana é diversa e resiste há séculos à aniquilação. "Acredito que as culturas, as muitas culturas na América Latina, passaram por apropriação, recriação, mas, também, a depender do lugar, por conservação de suas próprias pautas tradicionais, que foram jogadas à margem da influência colonial. Essas tradições sofreram com o risco de serem aniquiladas pela colônia — pois os processos de choque colonial em algumas partes criaram destruição de culturas inteiras —, mas também há uma resistência no que se conservou paralelamente, pela inquietude, pela criatividade, dos distintos povos e artistas a partir de seus próprios anseios e projetos", disse Ticio Escobar.

O professor destaca que o choque cultural em si não é negativo, mas, sim, o que é imposto como arte a outros povos: "O que é incorporado pode ser transformado, assimilado e convertido em outra coisa".

Todo esse choque cultural criou, na visão do especialista, muitas culturas novas, enquanto outras continuam com pautas centenárias. "Forças novas surgem dos choques culturais, produzem novos elementos e eu acredito que o que se produz nas periferias latino-americanas é muito mais potente e intenso do que o que se produz hoje na Europa, que sinto ser um pouco velho, cansado, em minha maneira de ver. Aqui, há uma vitalidade mais vibrante e intensa."

Ticio traçou um paralelo nas influências entre Brasil e Paraguai, enfatizando os territórios ocupados historicamente por povos guaranis, e disse enxergar uma pauta conjunta na América Latina de resistência, por meio da arte, a uma instrumentalização global de mercado. "Enxergo afinidades fortes com relação às preocupações que tem a arte contemporânea de se posicionar contra violência, contra corrupção, ante um mercado que trás todo um neoliberalismo capitalista desenfreado."

MUSEU DO HOMEM

Na passagem pela Fundaj, Ticio Escobar conheceu e se disse impressionado pelo Museu do Homem do Nordeste. "Me impressionou muito porque é uma experiência avançada de se ir avançando de sala em sala, com ambientes diferentes, e apresenta momentos de conflitos. Você vê toda a riqueza ao lado de toda a pobreza que deu origem à aristocracia colonial. Se vê a grande cultura popular dos revoltosos, dos carnavais, dos cultos, que têm afrodescendência. Esse conjunto me permite entender vários mundos latentes naquele ambiente, me pareceu muito importante", afirmou.

Ticio atuou, ainda, como diretor de Cultura de Assunção e presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte-Paraguai. Formado em Filosofia na Universidade Católica de Assunção, é autor de diversos livros — entre eles, El Arte Fuera de Sí (2004) e El Arte en Los Tiempos Globales (1997). Recebeu condecorações internacionais, bem como quatro doutorados Honoris Causa de universidades latino-americanas. 

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